sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Religião e Humanismo


O fundamentalismo, venha ele donde vier, é um dos grandes perigos dos tempos modernos, porque facilmente e sem escrúpulos, subverte prioridades, secundarizando o essencial e sobrevalorizando o acessório; e o essencial são as pessoas: é o HOMEM.

Qualquer cristão que procure imitar Cristo perceberá que, para Ele, as pessoas, sobretudo os mais fragilizados e pobres, foram sempre a Sua prioridade; e, por isso, em sua defesa se comprometeu, ultrapassando preconceitos e preceitos humanos, pretensamente religiosos, na linha do que já antes haviam feito os grandes Profetas do Antigo Testamento. Estes, recorde-se, conscientes da sua missão de consciência crítica no meio do Povo de Israel, não se cansavam de criticar e condenar a religião pseudo-transcendente, que abandonando os caminhos da justiça e da misericórdia, se fixava em rituais superficiais e desumanizadores.

O Cristianismo, pois, para ser fiel a Cristo, deve ser um verdadeiro humanismo, aberto à transcendência (dirá o Papa Bento XVI) ou não será Cristianismo. Quem quiser conhecer Cristo e seguir o caminho que Ele nos propõe, de verdade, não tem alternativa ao humanismo, ao amor e serviço ao próximo, pois o amor a Deus confirma-se, prova-se no amor ao irmão. S. Tiago e S. João são concordes em afirmar isto mesmo ao dizerem que uma fé autêntica se vive e manifesta na complementaridade entre o amor a Deus e o amor ao próximo.

Este apelo é acolhido e vivido, sem margem para dúvidas, de forma extraordinária e desassombrada pelo nosso Papa Francisco, que constantemente nos incomoda e interpela, desafiando-nos a prosseguir, sem hesitação nem temor, por este caminho, que é afinal o caminho das obras de misericórdia.

Neste Ano Jubilar da Misericórdia, correndo o risco de repetir o que outros já disseram, não resisto em lembrar aos nossos leitores quais são as Obras de Misericórdia, este rico património secular, belo e desafiante programa de vida, que a Igreja propõe a quem quer dar sentido e conteúdo à sua existência, mesmo não sendo cristão ou católico. Qualquer homem ou mulher de "boa vontade" compreenderá a sua verdade, grandeza e beleza:

Obras de Misericórdia Corporais
1 - Dar de comer a quem tem fome;
2 - Dar de beber a quem tem sede;
3 - Vestir os nus;
4 - Visitar os doentes;
5 - Visitar os presos;
6 - Acolher os peregrinos;
7 - Enterrar os mortos.

Obras de Misericórdia Espirituais
1 – Dar bom conselho;
2 - Corrigir os que erram;
3 - Ensinar os ignorantes;
4 - Suportar com paciência as fraquezas do próximo;
5 - Consolar os aflitos;
6 - Perdoar os que nos ofenderam;
7 - Rezar pelos vivos e pelos mortos.

Há tanto bem a fazer e tanta gente carente, lá longe ou ao nosso lado; basta querer e agir!


Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Ecos de Grândola, nº 292, 12 de Agosto de 2016