sábado, 30 de dezembro de 2017

Actuação coral e instrumental na Igreja Matriz de Grândola


No dia 14 de Janeiro, prolongando ainda as expressões musicais do Natal, teremos na nossa Igreja Matriz, pelas 10.30h, um grupo coral e instrumental “surpreendente”: o Grupo “Quatro Vs” (Vozes, Violinos, Violas e Variações). 

Dê-nos a alegria da sua presença e traga “um/a amigo/a” também.



Cante Alentejano na Igreja Matriz de Grândola


No dia 07 de Janeiro, Solenidade da Epifania (Reis), teremos, a concluir este Tempo de Natal, pelas 10h30, na nossa Igreja Matriz, o Grupo Coral e Etnográfico de Grândola, que nos proporcionará, decerto, momentos agradáveis, ao som do Cante Alentejano, declarado Património Imaterial da Humanidade pela Unesco.

Contamos consigo. Venha e traga companhia.



quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

A propósito do Dia Mundial dos Pobres


O Papa Francisco não deixa de nos surpreender com as suas iniciativas e, sobretudo, pela sua forma autêntica de ser, de viver e de transmitir aquilo em que acredita e propõe, antes de mais aos cristãos, mas também a todos os que quiserem acolher os seus desafios. Não tenho dúvidas em afirmar, que este é o Papa certo para o tempo em que vivemos, apesar dos "Velhos do Restelo", dentro e fora da Igreja, dizerem o contrário. Deus não deixa de nos dar sinais sobre qual o caminho a trilhar pela Igreja e por este Mundo em que nos integramos. Como diz Jesus no Evangelho: "Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça!"

Este é um Mundo cheio de contradições e onde a indiferença, como o Papa tanto insiste em afirmar, continua a ser um dos grandes males, que nos anestesia e torna incapazes de estar atentos e de fazer algo em favor do próximo, sobretudo, daquele que pelas circunstâncias da sua vida, mais precisa de ser reconhecido, apoiado, defendido, valorizado. O Papa tem conseguido fazer isso, não porque tenha nas suas mãos a solução dos grandes problemas que nos afectam, mas, porque com as suas chamadas de atenção, as suas propostas e os seus gestos proféticos, inesperados, impensados por tantos e até arriscados, insiste em nos arrancar do sofá da passividade e do egoísmo, em que comodamente nos estendemos, sem querer saber do que nos rodeia. Ele é tantas vezes um aguilhão para as consciências anestesiadas de tantos neste Mundo.

Por sua vontade, foi instituído o Dia Mundial dos Pobres, que celebrámos no passado dia 19 de Novembro. Este dia pretende alertar-nos para o drama, o escândalo da pobreza, ou melhor, das diversas pobrezas, que são uma autêntica espada que fere e nos incomoda e não deve ser escondida, antes exige respostas que se multipliquem e globalizem. Lembro-me, a este propósito, que há alguns anos, aquando do Tsunami, o Papa João Paulo II lançou um apelo ao Mundo, insistindo na necessidade de globalizar a solidariedade para com os povos e nações atingidas. Creio que as provocações constantes do Papa Francisco poderiam e deveriam ter este mesmo efeito sobre os cristãos, nomeadamente católicos, mas também sobre tantos homens e mulheres de boa vontade que os há e não são poucos. É preciso erradicar a pobreza e há condições para que isso aconteça, desde que haja vontade e respostas que lhe dêem corpo.

Ao reflectir no que poderia ser feito neste campo, fico pensativo e preocupado quanto ao futuro das nossas sociedades, sobretudo ocidentais, ao perceber como se despendem tantas energias na defesa de interesses de pequenos grupos de pressão, que por terem muitos meios e acesso aos grandes mass media, fazem valer as suas opiniões e pretendem impor-nos uma espécie de colonialismo cultural, como o Papa Francisco tantas vezes afirma. Por outro lado e paradoxalmente, dá a impressão de tantas vezes se pretender pas·sar uma esponja sobre a realidade da pobreza e das pobrezas desta Casa Comum, quando seria possível erradica-la e vencer tantas misérias, assim houvesse mais vontade política e compromisso em lutar, de facto, pelos mais pobres e mais pequenos, e por aqueles que não se podem defender, porque a sua voz não é ouvida, pois nem têm sequer acesso aos grandes púlpitos da actualidade.

Neste Mundo em que vivemos, creio que falta autêntico humanismo, mas é preciso não baixar as mãos e continuar a apostar nas novas gerações, pois, não esperemos colher onde não se semear, e a formação das pessoas é uma tarefa ingente e essencial. São também necessários novos líderes que, não se limitem a tomar medidas avulsas para serem objecto das primeiras capas, em certa comunicação social, e não se contentem com o politicamente correcto, mas sejam capazes de assumir o compromisso de tornar verdadeiramente mais humano, solidário e fraterno este Planeta em que vivemos.

Que o exemplo do Papa Francisco seja uma interpelação e uma luz que vale a pena seguir por todos, sem excepção, e toque igualmente aqueles que, dentro da Igreja, estão mais preocupados com o poder e o prestigio, nas influências, a aparência e a pompa, do que em viver a radicalidade do Evangelho.


in Ecos de Grândola, nº 308, 08 de Dezembro de 2017



quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Oferta de quadro a óleo da Igreja Matriz de Grândola


O Engenheiro António Gamito Chaínho ofereceu, à Paróquia de Grândola, um quadro a óleo com a Igreja Matriz de Grândola.

O nosso muito obrigado!




sábado, 9 de dezembro de 2017

Vandalismo


Num curto espaço de tempo, pela terceira vez as instalações do nosso Salão Paroquial, na Travessa das Baptistas, foram vandalizadas.

Recordamos que neste espaço: decorre a Catequese de todos os nossos grupos, por onde passam semanalmente mais de 200 crianças, adolescentes e jovens; os nosso Escuteiros desenvolvem aí as suas actividades, mobilizando largas dezenas de crianças, adolescentes e jovens; as nossas Conferências Vicentinas apoiam mais de 150 Famílias carenciadas, de forma habitual; decorrem as aulas de guitarra portuguesa do Mestre Chaínho; ensaia a Tuna da Universidade Sénior de Grândola, etc.

No primeiro acto de vandalismo, saltaram o muro, e forçaram duas fechaduras, que tiveram de ser substituídas; no segundo, arrancaram um tudo de PVC das descargas de água; no terceiro, que decorreu esta noite (09 de Dezembro), arrancaram e partiram os tubos da descarga de água, arrancaram as portas da máquina de ar condicionado, que também dá a impressão de ter sido alvo de uma tentativa de roubo. Ficam algumas imagens deste acto.

Lamentamos estas situações, cada vez mais frequentes e esperamos que, quem de direito, actue. Deste último acto foi feita participação à GNR.





quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

As pessoas de boa vontade



O papa João XXIII, numa das suas encíclicas mais emblemáticas, “Pacem in Terris” (1963), incluiu, pela primeira vez, entre os destinatários de um documento deste género, “as pessoas de boa vontade”.

Tal expressão constituiu uma viragem coperniciana, consolidada no Concílio Vaticano II. A Igreja abriu-se ao Mundo, reconhecendo o que de bom nele existe, sem esquecer, o mal e o pecado. Tudo o que é humano lhe interessa e, por isso, assumindo uma postura próxima e humilde, ela está disponível para contribuir na edificação deste Mundo, que Deus ama, e deseja mais justo, fraterno e solidário, e, simultaneamente, está recetiva para receber e aprender com ele.

Esta expressão do papa era reveladora da sua mundividência, fruto de vivências em diversos contextos políticos, sociais e religiosos, e constituiu um reconhecimento tácito da existência de tantos homens e mulheres extraordinários, cheios de humanidade, mesmo se neles não habita a semente da fé. Desafio os nossos leitores a pegarem no n.º 16 da Lumen Gentium, do Concílio Vaticano II, do qual citarei alguns trechos: Depois de falar do respeito que nos merecem os nossos irmãos mais velhos na fé, os judeus, o documento refere-se ao islamismo. De seguida, valoriza a proximidade “daqueles que buscam, na sombra e em imagens, o Deus que ainda desconhecem (…),” mas que quer que “todos os homens se salvem”. Muitos deles procuram “a Deus com coração sincero”, e esforçam-se, “por cumprir a Sua vontade, manifestada pelo ditame da consciência, (…)”.  Mas Deus não exclui, sequer, aqueles que “sem culpa não chegaram ainda ao (seu) conhecimento explícito”, mas se esforçam “por levar uma vida reta”. Estes são os homens e mulheres de boa vontade, e há tantos espalhados por este Mundo e pelo nosso Alentejo!

Que nós cristãos não nos esqueçamos que o Cristianismo é um humanismo aberto à transcendência, dizia-nos o papa Bento XVI, e que o amor ao próximo é condição e exigência do autêntico amor a Deus.


Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, 07 de Dezembro de 2017



sábado, 18 de novembro de 2017

Melhorar a qualidade das nossas democracias



Esta frase ficou-me na memória desde que a li, há anos, num documento do papa João Paulo II. No rescaldo das eleições Autárquicas, pareceu-me oportuno refletir a partir dela.

Não tenho dúvidas em afirmar, olhando retrospectivamente para a história da humanidade, que a democracia é um dos menos imperfeitos sistemas políticos que viram a luz do dia. Contudo, nas diversas latitudes e longitudes, ao longo dos tempos, houve alguns desvios e degenerescências, pelo que faz todo o sentido a afirmação do papa João Paulo II.

A democracia, como sabemos, afirma a igualdade essencial entre todos os seres humanos e baseia-se no direito/dever de escolher aqueles que se propõem estar ao serviço da Res Publica. São Tomás de Aquino (século XIII) tinha em tão elevada consideração a atividade política que achava que a ela se deveriam dedicar apenas os “melhores”, ou seja, aqueles que, pela sua humanidade, qualidade e dedicação, estavam imbuídos do desejo de servir o bem das pessoas e da inteira comunidade.

Se o suporte da democracia é a participação dos cidadãos, em especial, através do voto, recusar-se a votar, por razões tantas vezes banais e egoístas, é demitir-se de intervir na vida da comunidade, uma espécie de “lavar as mãos” que conduz ao descrédito e ao esvaziamento da atividade política. Creio que ninguém deverá ficar insensível às excessivamente elevadas taxas de abstenção. Eu não fico e, por isso, enquanto sacerdote, responsável de comunidades cristãs, nunca deixei de votar e de apelar ao voto, como forma de intervenção na vida comunitária.

Na verdade, um cristão não deve alhear-se da vida da comunidade, porquanto a fé se vive neste mundo concreto que Deus ama e quer mais justo, fraterno e solidário. E se é verdade que a participação não se esgota no voto, este é um dos seus elementos essenciais. Ninguém terá, pois, legitimamente direito a criticar quem governa, se se recusa a cumprir este dever de cidadania.


Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, 10 de Novembro de 2017



terça-feira, 14 de novembro de 2017

Servir as pessoas e o bem comum


Uma das virtualidades da Democracia é precisamente o poder de escolher e de decidir sobre a continuidade ou alternância daqueles que governam, o que implica que os cidadãos não abdiquem de participar nas eleições e de exercer este direito que faz toda a diferença, porque cada pessoa conta, e a sua opção é fundamental para orientar os rumos da governação, quer se trate de eleições de carácter local, nacional, ou europeu. Se não ficarmos satisfeitos com o resultado da governação, na próxima legislatura poderemos mudar o sentido do nosso voto e escolher outros que, na nossa opinião, sejam mais competentes e dêem garantias de servir melhor. Ninguém deveria, por isso, abdicar deste direito e simultaneamente dever, um dos grandes bens e sustentáculo da nossa civilização.

Esta crónica enquadra-se, como é lógico, neste tempo em que nos encontramos, depois do frenesim das eleições e das tomadas de posse de todos quantos foram eleitos para os diversos órgãos autárquicos, e em que a vida volta ao seu ritmo normal.

São muitas as legítimas expectativas de quem elegeu e de quem foi eleito e investido em autoridade no exercício do Poder Local. Há, contudo, uma convicção e um valor que importa reconhecer nestas eleições: pela maior proximidade em relação às populações e às suas reais necessidades, espera-se que quem exerça este poder, procure primar pelo serviço às pessoas e ao bem comum.

Recordo a este propósito uma frase do Papa João Paulo II: "devemos melhorar a qualidade das nossas democracias". A melhoria das nossas democracias passa, não tenho sobre isso qualquer dúvida, pelo envolvimento dos cidadãos na Res Publica e pela capacidade de cada um, e dos eleitos em especial, de abdicar dos seus interesses e dos interesses particulares e de grupo, interesses tantas vezes egoístas e hedonistas, e se empenhar na promoção do bem maior de toda a comunidade. Se há, pois, uma palavra que para mim deve definir a missão de governar é a palavra: Serviço. Requer-se, pois, de todos quantos foram eleitos que não se esqueçam de quem os elegeu e dos objectivos para os quais foram eleitos, e sirvam. Não se sirvam!

Sei que não é fácil nem simples fazer passar esta mensagem, mas, pela minha parte não desisto, antes persisto, enquanto cidadão que procura contribuir para o bem comum, em acreditar nas pessoas, nos projectos em que se envolvem, e na mudança das mesmas, se, de facto, forem homens e mulheres de bem, humanistas e solidários.

Não posso, de modo nenhum, concordar e alinhar com aqueles que nada propõem e se limitam a criticar esterilmente, atitude que não traz nada de positivo e antes é reveladora de uma forma de imaturidade política que não ganha raízes nem dá frutos palpáveis e de eficácia, em favor das populações.

E também desejável que se consiga, como tenho insistido tantas vezes, governar com um horizonte de carácter conjuntural e mesmo estrutural, e não apenas traçar objectivos que se esgotem numa legislatura. O conceito e a realidade de bem comum, que todos os que governam deveriam ter bem claro, exige consensos alargados e objectivos bem delineados, para não se cair em opções populistas, sem continuidade nem critério, em medidas avulsas e misantropas, que não têm consequências benéficas e de continuidade na vida das populações.

Desejo para todos os que foram eleitos, um mandato frutífero a todos os níveis, e garanto, como tradição profundamente arreigada no Antigo e no Novo Testamentos, a oração da comunidade cristã, para que cresçamos todos em maturidade democrática, nos desenvolvamos não apenas económica mas também social e humanamente, sempre no respeito das legítimas diferenças.

Como homem de fé e de esperança, insisto, acredito nas pessoas e quero continuar a acreditar nas virtualidades da Democracia, como o menos imperfeito dos sistemas de governo que o ser humano criou.


in Ecos de Grândola, nº 307, 10 de Novembro de 2017



sexta-feira, 20 de outubro de 2017

A vida retoma o seu ritmo normal


Durante os meses de Verão há rotinas, ritmos e dimensões da vida que ficam, como que em suspenso, para, em Setembro, retomarem o seu ritmo normal.

Como já tive ocasião de o afirmar, em várias ocasiões, nestes artigos, sou um optimista e, por isso, procuro encarar cada novo Ano Escolar, Académico, Pastoral, com confiança e esperança, sem, como é óbvio, perder a noção da realidade.

Que me perdoem os menos jovens, mas gosto de olhar sempre com muita fé e esperança, para a juventude e para a educação, um binómio fundamental no futuro de qualquer sociedade e da nossa, naturalmente. A educação é, aliás, um sector tão estruturante da vida de um povo, que deveria ser objecto de consensos transversais e de medidas conjunturais e, de modo nenhum, ficar refém, objecto de diplomas legislativos avulsos e de mero carácter partidário e ideológico.

Para mim também é evidente que o Estado e/ou os Governos não devem cair na tentação de querer substituir as famílias e os encarregados de educação, como se os filhos fossem um objecto de luta e um troféu a obter, por todos os meios. Essa é a atitude das ditaduras, e a história está cheia de exemplos, que deram, no geral, mau resultado. Nada substitui a família, célula base da Sociedade, e a primeira função educativa é sua. A família deve, pois, mobilizar-se, organizar-se e fazer valer as suas opiniões e os seus direitos. Recordo, com alguma tristeza, o período em que fui encarregado de educação de alunos numa grande Escola, e nas reuniões dos pais e encarregados de educação, participava apenas um reduzido grupo, de reconhecido empenho e dedicação, mas, infelizmente, tão poucos...

A Sociedade e qualquer Democracia, para não cair nas mãos das oligarquias partidárias, sejam elas quais forem, deve estruturar-se de modo a garantir o surgimento de corpos intermédios, sindicatos, associações, colectividades, grupos, e outras formas de organização, para encher de vitalidade todos os sectores da sociedade. A qualidade das nossas democracias pode medir-se pelo número, vitalidade e compromisso na realidade, de grupos que lhe dão força, que também questionam, criticam e dinamizam.

É importante não esquecer, que a Democracia não se esgota nas eleições e no simples, mas essencial. acto de votar, que infelizmente tantos desperdiçam, quando outros, por esse Mundo fora, com o risco da própria vida, se empenham em conquistar, como um bem precioso e maior. Além de votar, participar e participar activamente é um direito, um dever e uma exigência.

Isto aplica-se também, logicamente, à Igreja. Igreja quer dizer Assembleia de pessoas e, uma das imagens mais felizes para a definir, é a que S. Paulo inclui no Capítulo 12 da 1ª Carta aos Coríntios: a Igreja é um corpo, com muitos membros e todos os membros são importantes, mesmo os aparentemente mais insignificantes. Sabemos pela nossa própria experiência que, quando algum membro do nosso corpo não está bem, é todo o corpo que se ressente. Que este novo Ano, para nós cristãos Ano Pastoral, seja vivido sob o signo desta imagem, que o Sínodo Diocesano tentou fortalecer e ajudar a assumir.

Que o nosso país seja também um corpo harmonioso e equilibrado, onde todos os membros cumpram a sua missão e contribuam para o bem comum, o único em que vale a pena confiar, apostar e por ele e para ele trabalhar. Na nossa Sociedade todos fazem falta, pessoas e instituições. Que os nossos jovens se sintam, por isso, cada vez mais membros activos deste corpo e não se deixem manipular por agendas, ideologias e demagogias, que não têm como objectivo o seu bem, mas os usam tantas vezes como um meio para atingir os seus objectivos.

in Ecos de Grândola, nº 306, 13 de Outubro de 2017



terça-feira, 3 de outubro de 2017

O divórcio entre a fé e a vida



Na minha juventude li uma biografia do papa João XXIII, o “bom papa”, e nunca mais deixei de o admirar. A ele se deve, entre muitas e extraordinárias iniciativas, a convocação do Concílio Ecuménico Vaticano II, que decorreu em Roma, entre 1962 e 1965, e foi, e continua a ser, o mais importante acontecimento eclesial da contemporaneidade.


Como é óbvio, não vou fazer o elogio da vida e obra deste Homem, que a Igreja declarou santo, e é um dos grandes papas dos tempos modernos, antes vou fixar-me, apenas, numa frase por ele proferida, e que suscita em mim profundas interpelações. Dizia João XXIII, falando para dentro da Igreja, que o maior escândalo dos nossos dias era “o divórcio entre a fé e a vida dos cristãos”. 

O alcance destas palavras é enorme e, se cada cristão, e cristão quer dizer “um outro Cristo”, fizer um sério exame de consciência sobre as consequências da fé na sua vida, creio que teríamos todos de entrar numa dinâmica de conversão e de mudança. Ser cristão em todas as dimensões da vida e não apenas nos espaços religiosos é o grande desafio que nos é colocado, e é a melhor forma de manifestarmos que somos, na verdade, discípulos de Jesus “o Deus feito homem”.

João XXIII encarnou e ajudou precisamente a recuperar a dimensão holística da fé cristã e a humanidade que está no coração do Evangelho, filão que os papas sucessivos têm procurado aprofundar, e que é por demais evidente no papa Francisco. A mensagem de Jesus é clara: “Não podemos amar a Deus que não vemos, se não amarmos o próximo que vemos.”

Uma das maravilhas da fé cristã, para mim, consiste em acolher o convite que Jesus me faz, de me encontrar com a verdade da minha condição humana, com as minhas fragilidades e pobrezas e, por outro lado, que deixe entrar e experimente na minha vida a força do amor de Deus, que é maior do que o mal e o pecado, e me pode tornar, como diria S. Paulo “uma criatura nova”, independentemente da minha idade. 


Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, 02 de Outubro de 2017



segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Cuidar da nossa casa comum




Todos os dias nos chegam notícias, umas mais verosímeis do que outras, que nos alertam para os perigos em que incorre o nosso Planeta Terra, e para a necessidade de alterarmos comportamentos, em nome dum futuro comum, que a imprudência, insensibilidade, e/ou maldade, ameaçam hipotecar a curto ou médio prazo.

Para nós portugueses, infelizmente, um dos temas que se enquadra nesta moldura é o dos incêndios, cujas causas são diversas, mas onde decerto há lugar para a “mão humana”. 

São, porém, muitas outras as situações do nosso dia a dia, que põem em causa o nosso viver nesta Casa Comum, e são reveladoras do que de menos bom existe no coração humano. 

Creio, a este propósito, que uma das piores coisas que nos pode acontecer, é não nos questionarmos sobre o nosso modo de vida, como se fossemos seres perfeitos, impecáveis, sem nada para mudar e, assim, continuamos os mesmos, com as mesmas rotinas, dia após dia e ano após ano. A mudança é para os outros!

Aproveitemos, por isso, este tempo de férias, para parar e refletir sobre o nosso agir na relação com os outros e com o meio envolvente, pois, muitos dos nossos gestos, atitudes e posturas de vida, são nefastas para o equilíbrio do nosso Planeta Azul. A lista é extensa e, talvez, surpreendente.

Na mudança, que creio ser uma necessidade e está ao alcance de todos, o mais importante é que ela não seja meramente cosmética, superficial e imediatista, mas antes penetre até ao nosso interior, para que aí aconteça uma verdadeira mutação.

Como cristão, sinto diariamente este mesmo apelo que também me vem de Jesus e, deixai-me dizê-lo, do Papa Francisco, verdadeiro sinal de Deus, não só para nós católicos, mas para tantas pessoas, mesmo sem fé, que se revêm na sua simplicidade, transparência e nos seus gestos ousados e proféticos.

Para que não esteja em causa o futuro desta nossa maravilhosa Casa Comum, ousemos acolher o convite à mudança. O nosso Planeta e as futuras gerações agradecem e merecem!


Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
Ilustração Susa Monteiro
in Diário do Alentejo, nº 1846, 08 de Setembro de 2017



Fundamentalismos e radicalismos



Nestes dias, pelos piores motivos, a nossa atenção tem vindo a ser captada por consequências dramáticas de atos de radicalismo e fundamentalismo. Contudo, precisamos de estar atentos, porque também podem existir outras manifestações, embora não tão violentas, mas nocivas e corrosivas da relação e comunhão entre pessoas e comunidades.

Os fundamentalismos são, por sua natureza, irracionais e muitas vezes populistas e demagógicos nos seus argumentos e, frequentemente, quando se esgotam os argumentos, passam à crítica sem fundamento, a chavões, mais ou menos elaborados, ao “quem não pensa como nós está errado”!

Talvez pela minha formação humana e cristã sempre acreditei que só a verdade liberta e que, tantas vezes, nós apenas somos conhecedores de uma parte da verdade, devendo, por isso, respeitar a opinião dos outros, reconhecer os nossos erros e mudar. Persistir em querer ter sempre razão e procurar argumentos, tantas vezes falaciosos, para justificar o injustificável, é como aquele doente que está doente mas não quer aceitar a doença, desdobrando-se em justificações, para projetar nos outros a culpa que ele teima em não reconhecer em si. Um “doente” assim estará cada vez mais doente, privado de sentido crítico, sem capacidade de se aceitar, para poder mudar. 

Ter, pois, a capacidade de dialogar, de respeitar o outro, de aceitar a sua opinião e de reconhecer que, tantas vezes, estamos errados, é um caminho certo e eficaz para evitar fundamentalismos, venham eles donde vierem.

Quando era jovem, lembro-me de uma frase que ouvi a um amigo, e que nunca mais esqueci, e me tem sido de grande utilidade ao longo das minhas cinco décadas de vida: “Amigo não é aquele que nos dá palmadinhas nas costas e nos diz que temos sempre razão; amigo é aquele que, tantas vezes, nos faz chorar, porque nos diz a verdade”. E a verdade é muitas vezes dura e faz sofrer, mas pode ser medicinal para a nossa vida. Precisam-se de amigos destes!


Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, 14 de Agosto de 2017



Do fatalismo à criatividade, do pessimismo à positividade



Decerto todos conhecemos este adágio popular: “Depois da casa arrombada, trancas na porta”. Nestes dias ele voltou a ser realidade, e infelizmente da pior forma, pois se é verdade que os incêndios continuam a ser entre nós uma praga, desta vez as consequências foram devastadoras para pessoas, bens, e, quiçá, para o futuro desta região e de todo o interior.

Uma situação extrema revela o que temos de melhor, como povo e nação, mas deixa-nos também interrogações. O que falhou? Por que falhou? De quem são as responsabilidades? 

Não me compete, nem quero, fazer juízos ou tirar conclusões, enquanto se aguardam os resultados das investigações, que trarão à luz a verdade sobre o que realmente aconteceu e tanto sofrimento gerou entre as gentes do pinhal interior. 

Esta situação dá-me, contudo, a oportunidade de introduzir uma questão que deveras me preocupa: o abandono, a desertificação do interior de Portugal. Sem pessoas tudo tende a ser desvalorizado, abandonado e mesmo a desaparecer.

Penso que, tendo como horizonte alguns exemplos felizes, deveríamos ter a coragem de mudar procedimentos e voltar a apostar nas virtualidades, nas potencialidades do interior. Esta não é, nem pode ser, apenas uma questão do Estado, mas deve também comprometer toda a comunidade e em particular as novas gerações, que, na minha opinião, são hoje possuidoras de acrescidas competências, e, por isso mesmo, capazes de se tornarem pioneiras de um processo de regresso ao interior, de aposta em projetos inovadores, capazes que atrair pessoas e investimentos, que podem ajudar a estancar a sangria da fuga para o litoral.

Acredito nas capacidades dos nossos jovens e muitas vezes, ao longo dos anos, desafiei alguns a arriscarem, a não se limitarem à atitude cómoda, pessimista e fatalista de quem espera que “os outros façam”, mas a assumirem com ousadia o protagonismo, em vez de papéis secundários, ou de meros observadores.


Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, 24 de Julho de 2017




“Acredito que há mais bem do que mal neste mundo, só que o mal faz mais barulho”



REZANDO
Manuel António Guerreiro do Rosário, 53 anos, padre. “Se pudesse voltar atrás não escolheria outra vida”. Voltar atrás seria regressar ao dia 3 de julho de 1988, quando foi ordenado sacerdote numa região muito pouco dada a vocações. “O meu pai era GNR, pelo que andámos sempre de casa às costas… a minha ligação com a fé vem dessas andanças”. Vila Alva. Vila Nova da Baronia. Alvito. Cuba. Beja, para estudos no liceu. Évora, para ensaiar uma nova vida no seminário. Roma, para profundar as questões da Teologia e da Moral. Grândola, onde hoje dá conta dos afazeres paroquianos. E onde quase não pode sair à rua sem que a sua atenção seja disputada passo a passo. O território que hoje compreende a Diocese de Beja, diz, “foi abandonado durante muito tempo”. A presença muçulmana foi aqui mais demorada e intensa. A sede diocesana esteve perto de mil anos concentrada em Évora. Depois veio a extinção da Companhia de Jesus e das restantes ordens religiosas. O advento da República também não foi brando para com uma igreja que, em pleno século XX, chegou a ver bispos seus “serem recebidos à bomba”. “Há razões históricas que levaram ao afastamento institucional da Igreja nesta região”. Já a fé dos alentejanos, assegura, está espalhada por todo o lado e está comprovada em cada uma das igrejas que pontuam a paisagem. Quanto ao resto, “onde há pessoas, naturalmente há pecado. Gosto muito de ser padre, de estar e de conhecer as pessoas, de rezar por elas… O resto é com o Mestre”.


“Lembro-me perfeitamente das dúvidas que tive, das indecisões, das incompreensões, mas, ao mesmo tempo, foi uma alegria muito grande quando se colocou a questão [de ser padre]”.

“Fui a Fátima no dia 13 de maio de 1982 e acabei por entrar no Seminário de Évora em outubro desse ano”.

“Uma decisão destas não pode ser movida por calculismos, nem por critérios humanos. Esses não têm sentido e são só fonte de frustração”.

“É importante sabermos que esta zona do Alentejo esteve abandonada durante muito tempo… O primeiro momento significativo do empobrecimento, não apenas religioso mas também cultural, do Alentejo foi a extinção da Companhia de Jesus no século XVIII”.

“A fé dos alentejanos permaneceu e nós podemos ver expressões dessa mesma fé na multiplicidade de igrejas que existem espalhadas por todo o lado”.

“A relação destas pessoas com a fé é mais pessoal e de transmissão familiar e isso pode dar lugar a algum sincretismo. Isto tem muito a ver com a falta de uma presença institucional da Igreja”.

“Para mim não é essencial a questão dos segredos. Isso não me interessa nada, sinceramente. Aliás, a Igreja levou alguns anos a reconhecer a autenticidade do que sucedeu em Fátima”.

“É convicção da Igreja que Fátima não acrescenta nada ao Evangelho”.

“A grande mensagem de Fátima é o convite à oração, à adoração, à conversão, à reconciliação entre as pessoas e Deus. Aí sim, Fátima é um lugar de muitos milagres. Sinto fortemente a presença de Deus em Fátima”.

Texto Paulo Barriga Fotos Rui Cambraia
in Diário do Alentejo 23 de Maio de 2017



Liberdade e democracia



Estas crónicas no “Diário do Alentejo” são um gratificante exercício de síntese, ao ter de dizer em poucas palavras o essencial sobre os temas que escolho.

Falar de ausência de liberdade nas ditaduras, em regimes ditatoriais ou de cariz fundamentalista, é já um lugar-comum, mas, quando isto acontece em regimes democráticos, nos quais os direitos dos cidadãos devem estar garantidos, e entre estes se encontram o direito à liberdade e à liberdade religiosa, creio que temos razões para nos preocuparmos. 

Deixo apenas algumas interrogações:

Muitas vezes me tenho perguntado qual é ou quais são os critérios, segundo os quais, alguns consideram ter direito e opinam sobre o que os outros podem ou não pensar e dizer? 

Em nome de que conceito de liberdade se ridicularizam e se impedem, sobretudo os cristãos, de manifestarem livremente a sua fé e as suas convicções éticas sobre questões de relevância na atualidade?

Como entender as omissões no Ocidente sobre as perseguições e discriminações de que os cristãos são vítimas em diferentes pontos do globo?

Não estaremos a caminhar, mesmo que inconscientemente, para formas veladas de intolerância, senão ditadura, ao abrigo de um conceito prático e duvidoso segundo o qual há cidadãos que são “mais iguais do que outros”?

A própria Igreja já viveu ao longo da sua milenar história situações que não quer que se repitam hoje, e, por isso, tem toda a legitimidade para exigir ser respeitada e ver garantidas as condições para o cabal exercício da liberdade religiosa, direito extensivo, obviamente, aos crentes de outras confissões religiosas.

O Concílio Vaticano II inaugurou na Igreja uma nova forma de relação com os crentes de outras confissões religiosas, cristãos ou não, e até com os não-crentes, baseada no diálogo, no respeito pelo outro, na tolerância e na defesa intransigente do ser humano, da sua dignidade e direitos. É por este caminho que a Igreja quer continuar e dar o seu contributo a todos os que quiserem aceitar, na liberdade, as suas propostas.


Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, 20 de Março de 2017




A força da verdade



Talvez seja um lugar-comum dizer que a verdade “é como o azeite e vem sempre ao de cima”.

É sobre esta temática que gostaria de escrever algumas linhas, começando por citar a Declaração Dignitatis Humanae, do Concílio Vaticano II, n.º 1: “A verdade não se impõe de outro modo senão pela sua própria força”.

Uma das dificuldades com que nos confrontamos é que, com alguma frequência, a verdade não é procurada como um fim, mas apenas e tão só como um meio, surgindo ligada e dependente de interesses e de agendas. Outra dificuldade dá pelo nome de subjetivismo, e nele tende a identificar-se a realidade com a perceção que eu tenho dela, ou seja, interessa a minha verdade. 

A subjetividade é um valor nas nossas sociedades ocidentais, que devemos, em especial, a pensadores como Descartes e Kant. O subjetivismo, porém, é uma degenerescência que nos pode arrastar para o pântano do individualismo e do egoísmo, ao exaltar o indivíduo e não pessoa, desvalorizando a sua dimensão social, logo, a sua componente fraterna e solidária.

No Jubileu do ano 2000, o papa João Paulo II reconheceu e pediu perdão, porque nem sempre a Igreja foi exemplar na forma como propôs a verdade, ao cair algumas vezes na tentação de a impor por meios que em nada contribuíram para a sua dignificação.

A procura da verdade deve ser sempre um objetivo que nos deve nortear, e a aceitação da mesma uma condição, para não cairmos no risco da anarquia, em que, no meio da confusão, tenderá a prevalecer a lei do mais forte, mesmo que esse seja uma minoria, mas, por dispor dos meios mais poderosos, impõe-se aos outros, os quais, ou se submetem, ou não se manifestam.

Urge, pois, estar atentos às tentativas mais claras ou mascaradas de impor “verdades”, considerando inquisitoriamente que “quem não pensa como nós” está errado e deve ser condenado.

Basta estar atentos e ter sentido crítico. Os exemplos vão abundando, em nome de uma certa ideia de democracia e liberdade.


Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, 13 de Março de 2017




Misericordiosos como o pai



Terminou o Ano da Misericórdia convocado pelo Papa Francisco, ocasião soberana para mergulharmos no coração do Evangelho e chegarmos ao essencial da sua mensagem, e o essencial é a misericórdia, o amor, o perdão, respostas de Deus ao homem pecador, carente, humilde, mas desejoso de se renovar e transformar numa pessoa nova.

Embora tenha terminado o Ano da Misericórdia, não se esgotou a centralidade deste tema na vida da Igreja e dos cristãos, antes pelo contrário, é desejável que a sua semente tenha permanecido e continue a dar frutos. É, aliás, essa a razão pela qual Jesus diz aos seus discípulos que devem ser sal, luz e fermento. Se nós cristãos, o não somos, devemos interrogar-nos porquê, para podermos mudar, pois a mudança, a conversão, pertencem ao núcleo da fé cristã, como nos diz o Pe. Zézinho na canção “Amar como Jesus amou”. Vale a pena ler o poema. 

A mensagem deste Ano da Misericórdia dizia-nos ainda que, se o Pai é misericordioso, nós, seus filhos, também deveríamos seguir por esse caminho, porque essa é a sua vontade para nós. É, aliás, isso que dizemos sempre que rezamos a oração do Pai Nosso, onde manifestamos a nossa disposição de fazer a vontade de Deus e não limitarmo-nos a viver segundo as nossas opiniões e os nossos caprichos.

O cristão deve, pois, ser alguém permanentemente insatisfeito, não daquela insatisfação que se confunde com infelicidade e, às vezes, com desespero, mas uma insatisfação que é aspiração a ir mais longe, utopia que nos desafia a cortar as amarras que nos impedem de voar e de saber que, com o nosso compromisso, podemos ajudar a melhorar este Mundo em que vivemos. E se é verdade que tudo neste Mundo é passageiro e imperfeito, não devemos de desistir de nos comprometer na humanização desta “casa comum”, na qual habita a família humana, à qual todos pertencemos. 

Que a misericórdia, expressão do rosto paterno de Deus, continue a habitar em mais corações e a iluminar mais vidas.


Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, 15 de Dezembro de 2016



sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Os fins não justificam os meios


Não sei se esta afirmação faz sentido para toda a gente, mas creio que, se fosse assumida em muitas dimensões da nossa vida pessoal, comunitária e social, evitar-se-iam muitos problemas e males de que enferma o nosso tempo, e não duvido que, um dos resultados mais visíveis e indiscutíveis, seria o facto de termos um Mundo menos egoísta, egocentrista e individualista, e mais solidário, fraterno e justo.

Para mim, faz todo o sentido ter de pensar no outro, pois a ideologia do "vale tudo" não só não serve, como é extremamente nefasta nas suas ramificações, porque abre as portas apenas ao "meu", esquecendo o "teu" e o "nosso", o que no tornará cada vez mais insensíveis para com o próximo, e até para com o ambiente que nos rodeia, na medida em que, paulatinamente, nos vai encerrando no castelo dos nossos interesses, aqueles que, nesta perspectiva, serão os únicos lícitos e que realmente interessam.

Estou consciente que talvez, deliberadamente, esteja a exagerar, mas, se olharmos um pouco à nossa volta, não será difícil identificar manifestações de quanto acabo de afirmar. Para não limitar o sentido crítico dos nossos leitores, adianto apenas um exemplo. O nosso País está assolado pelo drama dos incêndios e é voz frequente dizer-se que muitos deles são de origem criminosa. Quem é que ganha com os incêndios? Uma coisa é certa, para além das perdas de vidas humanas, de bens, de sonhos acalentados, e de um sem número de realidades, é o país no seu todo que empobrece e definha! Entre o bem de um país e interesses particulares e mesquinhos, creio que não restarão dúvidas sobre o bem maior, pelo qual vale a pena lutar e que, por isso mesmo, deve prevalecer e sobrepor-se aos interesses particulares e, neste caso, egoístas.

Uma conclusão que é lícito tirar é que, se pensássemos mais nos outros, nas consequências das nossas palavras e dos nossos gestos, talvez não agíssemos como tantas vezes acontece, porque procuraríamos pensar sempre no plural e não apenas no singular.

O conteúdo deste texto penso ser de fácil compreensão, mesmo para quem não tenha fé, porque ele se baseia em dados e critérios eminentemente humanos e racionais, não exigindo a fé para compreender o alcance da sua mensagem.

É claro que, para quem é cristão, as razões da fé redobram e reforçam as exigências desta afirmação e, se a ignorância desculpabiliza, o conhecimento agrava a responsabilidade daqueles que, por isso mesmo, não deveriam ser insensíveis aos apelos à mudança e, antes pelo contrário, deveriam estar na primeira linha da disponibilidade para, com compromisso, se empenharem na transformação das nossas sociedades.

Penso que, o inconformismo, a insatisfação, o desejo de mais e melhor poderiam e deveriam ser o motor da nossa vida.

Termino com uma frase do fundador do Escutismo, Baden-Powell: "procura deixar este mundo um pouco melhor do que o encontraste". Imaginemos o alcance deste desafio, se ele fosse acolhido de forma generosa e consequente, não apenas pelos escuteiros, mas também por cada um de nós, pêlos crentes e pelos homens e mulheres "de boa vontade"!

Espero que o período das férias tenha, para além dos benefícios que lhe são inerentes, proporcionando ainda a ocasião de fazermos todos um exame de consciência, que possa ter consequências benéficas na nossa higiene interior, e no nosso agir.

in Ecos de Grândola, nº 305, 08 de Setembro de 2017



domingo, 20 de agosto de 2017

6º aniversário da inauguração do Museu de Arte Sacra de Grândola


O Museu de Arte Sacra de Grândola abriu as portas ao público, a 23 de Agosto de 2011, na igreja de São Sebastião, para apresentar a sua colecção permanente, formada por fundos de pintura, escultura e artes decorativas.

Esta iniciativa, da responsabilidade da Paróquia de Grândola, do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja, e da Câmara Municipal de Grândola, integra obras pertencentes às igrejas da sede do concelho, das paróquias de Azinheira dos Barros, Lousal e de Santa Margarida da Serra e da Santa Casa da Misericórdia de Grândola.

Quando completa o seu 6º aniversário não perca a oportunidade de visitá-lo, de quarta-feira a domingo, das 10:30 horas às 13:00 horas e das 14:30 horas às 18:00 horas.




sexta-feira, 18 de agosto de 2017

O importante são as pessoas


Quando se houve falar tanto de números, de projectos, de estruturas e de conjunturas, no fundo, de coisas, cresce, paralelamente em mim, o desejo de centrar esta reflexão sobre as pessoas, quaisquer que elas sejam, porque me parece que, cada vez mais, as pessoas interessam menos, e os exemplos, infelizmente, abundam. Para não me prolongar enuncio apenas alguns casos:
  • Falar em rendimento per capita é uma ilusão que esconde a realidade de tanta gente que não tem o mínimo para viver com dignidade, apesar dos números dizerem o contrário;
  • Listas de espera para consultas e intervenções cirúrgicas. O seu aumento ou diminuição, que tantas vezes os governos, de qualquer cor política, esgrimem uns contra os outros, esconde a realidade de tanto sofrimento que não vem nos números, do desespero em que vivem tantas pessoas e famílias;
  • O aumento dos salários e das pensões, argumento tantas vezes utilizados pelos governos, como sinal do seu compromisso em melhorar a situação dos cidadãos, esconde a realidade de quem recebe tão pouco, que mais um cêntimo ou dois pouca diferença faz. Entretanto, a nível europeu e internacional, somos considerados um dos países mais desequilibrados, pelo fosso que existe entre os mais ricos e os mais pobres.
Poderia continuar a fazer desfilar alguns exemplos de como as pessoas importam pouco, quando outros interesses, se sobrepõem e marcam a agenda dos partidos e de tantas instituições, que deveriam fazer mais pelas pessoas, sobretudo, pelos mais frágeis, que tantas vezes não se podem defender, nem tão pouco fazer ouvir a sua voz.

E claro que o Estado não tem toda a responsabilidade, não pode, nem deve fazer tudo, mas deveria, e poderia, apoiar mais as pessoas e as instituições que, no terreno, estão mais próximas e procuram ser a resposta imediata e eficaz, para tantas necessidades básicas de pessoas concretas que são, exactamente iguais em dignidade, direitos e deveres, a todos os outros cidadãos que vivem com mais desafogo e condições de vida.

Uma sociedade, qualquer sociedade, a nossa sociedade portuguesa, não deveria descansar enquanto não vencesse a batalha da desigualdade e da injustiça, para a qual deveríamos estar todos mobilizados como causa nacional, enquanto existir uma só pessoa nestas condições. Talvez isto possa soar a utopia, mas as utopias também se podem realizar, se conseguirem acordar e mobilizar as pessoas e as forças vivas. Às vezes basta alguém começar, com pequenos gestos, concretos, para que a mudança aconteça. Não é necessário que seja o Estado a tomar a dianteira, ou aguardar que "os outros façam", podemos ser nós, cada um de nós. Está nas nossas mãos e ao nosso alcance, já amanhã, se quisermos.

Evitemos o "síndroma dos Velhos do Restelo" que anestesia e paralisa e não leva a lado nenhum, e assumamos a atitude da ousadia, da criatividade e do compromisso no concreto.

in Ecos de Grândola, nº 304, 11 de Agosto de 2017



segunda-feira, 17 de julho de 2017

Apostar numa mudança de paradigma


Nestes últimos dias, talvez fruto da tragédia dos incêndios, tenho cogitado sobre a oportunidade e necessidade de instaurar entre nós, uma cultura que privilegie a competência, e que aposte decididamente na prevenção, transversalmente, para que não seja necessário tomar decisões apressadas, e não raro atabalhoadas, como diz a sabedoria popular: "depois da casa arrombada".

Esta minha constatação creio que poderá ter aplicações em sectores variados da nossa vida colectiva, para benefício de todos e para que possamos construir e legar um futuro mais consistente e melhor às gerações que nos sucederão.

Penso já ter, noutras ocasiões, dado umas pinceladas sobre estas temáticas, mas gostaria de voltar novamente a elas, porque os casos repetem-se, as marcas profundas vão permanecendo e os estragos, tantas vezes, perduram e são impossíveis de apagar.

Passo a deixar algumas questões que me interrogam e incomodam:
Porque é que sempre que muda um Governo, qualquer que seja a sua cor política, se assiste "à dança das cadeiras"?

Que critérios são tidos em conta nestas e noutras nomeações? São baseados na competência e no rigor, ou são meros cargos de nomeação política?

Porque não se consegue chegar a consensos alargados, no espectro político-partidário, sobre questões essenciais, em áreas prioritárias, tendo em conta um horizonte que não se esgote numa legislatura?

Porque se insiste em manter arredada da praça pública uma cultura permanente da programação e da avaliação, quando está provado que a nossa capacidade não se esgota no improviso, que deverá ser sempre a excepção e nunca a regra?

Estas minhas interrogações não são sinal de descrença ou de desvalorização das nossas capacidades, antes pelo contrário, e, como já referi em anteriores ocasiões, vivi na primeira pessoa, em vários países, e escutando testemunhos dos quatro Continentes, a marca positiva que caracterizou a portugalidade. É bom não esquecer o passado, a nossa história e a nossa memória, que bem nos podem inspirar a voos mais altos e consistentes, sempre conscientes da nossa realidade e das mudanças que, entretanto, se deram no xadrez internacional.

Acredito nas potencialidades do Portugal hodierno e dos portugueses, mas não penso que o caminho passe pela pequena política, refém de interesses particulares e de clube, pelos oportunismos, pelo chicoespertismo, antes exige a coragem de romper com os atavismos do "sempre foi assim", e a aposta em pessoas e projectos que se concretizem num real desenvolvimento, como diria o Papa Paulo VI" do homem todo e de todo o homem", que tenha como objectivo promover o bem comum de todos os portugueses e, se quisermos alargar os horizontes, contribuir para um bem comum global.

Apetece-me lembrar, e deste modo terminar, com uma frase do Papa João Paulo II: "não nos contentemos com a mediocridade, mas aspiremos à santidade".

in Ecos de Grândola, nº 303, 14 de Julho de 2017