sábado, 18 de novembro de 2017

Melhorar a qualidade das nossas democracias



Esta frase ficou-me na memória desde que a li, há anos, num documento do papa João Paulo II. No rescaldo das eleições Autárquicas, pareceu-me oportuno refletir a partir dela.

Não tenho dúvidas em afirmar, olhando retrospectivamente para a história da humanidade, que a democracia é um dos menos imperfeitos sistemas políticos que viram a luz do dia. Contudo, nas diversas latitudes e longitudes, ao longo dos tempos, houve alguns desvios e degenerescências, pelo que faz todo o sentido a afirmação do papa João Paulo II.

A democracia, como sabemos, afirma a igualdade essencial entre todos os seres humanos e baseia-se no direito/dever de escolher aqueles que se propõem estar ao serviço da Res Publica. São Tomás de Aquino (século XIII) tinha em tão elevada consideração a atividade política que achava que a ela se deveriam dedicar apenas os “melhores”, ou seja, aqueles que, pela sua humanidade, qualidade e dedicação, estavam imbuídos do desejo de servir o bem das pessoas e da inteira comunidade.

Se o suporte da democracia é a participação dos cidadãos, em especial, através do voto, recusar-se a votar, por razões tantas vezes banais e egoístas, é demitir-se de intervir na vida da comunidade, uma espécie de “lavar as mãos” que conduz ao descrédito e ao esvaziamento da atividade política. Creio que ninguém deverá ficar insensível às excessivamente elevadas taxas de abstenção. Eu não fico e, por isso, enquanto sacerdote, responsável de comunidades cristãs, nunca deixei de votar e de apelar ao voto, como forma de intervenção na vida comunitária.

Na verdade, um cristão não deve alhear-se da vida da comunidade, porquanto a fé se vive neste mundo concreto que Deus ama e quer mais justo, fraterno e solidário. E se é verdade que a participação não se esgota no voto, este é um dos seus elementos essenciais. Ninguém terá, pois, legitimamente direito a criticar quem governa, se se recusa a cumprir este dever de cidadania.


Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, 10 de Novembro de 2017