terça-feira, 14 de novembro de 2017

Servir as pessoas e o bem comum


Uma das virtualidades da Democracia é precisamente o poder de escolher e de decidir sobre a continuidade ou alternância daqueles que governam, o que implica que os cidadãos não abdiquem de participar nas eleições e de exercer este direito que faz toda a diferença, porque cada pessoa conta, e a sua opção é fundamental para orientar os rumos da governação, quer se trate de eleições de carácter local, nacional, ou europeu. Se não ficarmos satisfeitos com o resultado da governação, na próxima legislatura poderemos mudar o sentido do nosso voto e escolher outros que, na nossa opinião, sejam mais competentes e dêem garantias de servir melhor. Ninguém deveria, por isso, abdicar deste direito e simultaneamente dever, um dos grandes bens e sustentáculo da nossa civilização.

Esta crónica enquadra-se, como é lógico, neste tempo em que nos encontramos, depois do frenesim das eleições e das tomadas de posse de todos quantos foram eleitos para os diversos órgãos autárquicos, e em que a vida volta ao seu ritmo normal.

São muitas as legítimas expectativas de quem elegeu e de quem foi eleito e investido em autoridade no exercício do Poder Local. Há, contudo, uma convicção e um valor que importa reconhecer nestas eleições: pela maior proximidade em relação às populações e às suas reais necessidades, espera-se que quem exerça este poder, procure primar pelo serviço às pessoas e ao bem comum.

Recordo a este propósito uma frase do Papa João Paulo II: "devemos melhorar a qualidade das nossas democracias". A melhoria das nossas democracias passa, não tenho sobre isso qualquer dúvida, pelo envolvimento dos cidadãos na Res Publica e pela capacidade de cada um, e dos eleitos em especial, de abdicar dos seus interesses e dos interesses particulares e de grupo, interesses tantas vezes egoístas e hedonistas, e se empenhar na promoção do bem maior de toda a comunidade. Se há, pois, uma palavra que para mim deve definir a missão de governar é a palavra: Serviço. Requer-se, pois, de todos quantos foram eleitos que não se esqueçam de quem os elegeu e dos objectivos para os quais foram eleitos, e sirvam. Não se sirvam!

Sei que não é fácil nem simples fazer passar esta mensagem, mas, pela minha parte não desisto, antes persisto, enquanto cidadão que procura contribuir para o bem comum, em acreditar nas pessoas, nos projectos em que se envolvem, e na mudança das mesmas, se, de facto, forem homens e mulheres de bem, humanistas e solidários.

Não posso, de modo nenhum, concordar e alinhar com aqueles que nada propõem e se limitam a criticar esterilmente, atitude que não traz nada de positivo e antes é reveladora de uma forma de imaturidade política que não ganha raízes nem dá frutos palpáveis e de eficácia, em favor das populações.

E também desejável que se consiga, como tenho insistido tantas vezes, governar com um horizonte de carácter conjuntural e mesmo estrutural, e não apenas traçar objectivos que se esgotem numa legislatura. O conceito e a realidade de bem comum, que todos os que governam deveriam ter bem claro, exige consensos alargados e objectivos bem delineados, para não se cair em opções populistas, sem continuidade nem critério, em medidas avulsas e misantropas, que não têm consequências benéficas e de continuidade na vida das populações.

Desejo para todos os que foram eleitos, um mandato frutífero a todos os níveis, e garanto, como tradição profundamente arreigada no Antigo e no Novo Testamentos, a oração da comunidade cristã, para que cresçamos todos em maturidade democrática, nos desenvolvamos não apenas económica mas também social e humanamente, sempre no respeito das legítimas diferenças.

Como homem de fé e de esperança, insisto, acredito nas pessoas e quero continuar a acreditar nas virtualidades da Democracia, como o menos imperfeito dos sistemas de governo que o ser humano criou.


in Ecos de Grândola, nº 307, 10 de Novembro de 2017