segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Depois de casa arrombada…


Creio não ser necessário completar esta frase, sobejamente conhecida e aplicável à práxis portuguesa, numa variedade de situações.

Nós portugueses somos peritos na arte de improvisar, o que é um valor, mas, em tantas ocasiões, falta-nos a capacidade de programar, a médio e a longo prazo e, frequentemente, só tomamos decisões sob pressão, só reagimos depois das catástrofes, e nem sempre aprendemos, pois voltamos depois a cometer os mesmos erros, como se fôssemos acometidos de uma espécie de amnésia. Por outro lado, quando nos aplicamos a encontrar soluções, alternativas, respostas, somos tão ou mais capazes do que os outros.

Não é fácil, nem é meu objectivo, encontrar a “poção milagrosa” que ajude a mudar de paradigma, mas talvez nos faça bem começar a cultivar a virtude da perseverança, a semear a da programação, a não cair na tentação do imediatismo, a não optar sempre pelo “mais barato”, a não seguir o “chico- espertismo” de querer ludibriar o “sistema”.

Os sucessos que, em variadíssimas áreas, têm vindo a marcar o quotidiano da nossa portugalidade, são sinal de uma certa genialidade, que necessita, contudo, de ser mais estruturada, de acreditar mais em si e nas suas capacidades, evitando os excessos dos dois Bs (best..e bes), porque os extremos tocam-se. Associar um certo toque de genialidade a muito trabalho, esforço e abnegação, de que somos capazes, pode ajudar a inverter um certo “círculo vicioso”, que quase parece ser o “nosso fado”. Faz-nos ainda falta, uma boa dose de positividade (realista) e de iniciativa, que nos catapultem, nos retirem do torpor, e nos comprometam na mudança.

Como português, com muito orgulho, aprendi a gostar ainda mais de ser luso, nos três anos que vivi em Itália, e acredito que é possível inverter um certo modo de ser português, porque, como diz a canção: “sempre foi assim, dizem sempre que foi assim, sempre foi assim, mas pode ser diferente.

Falo agora como cristão, que acredita que a fé também dá à nossa vida um contributo de esperança e de confiança, e nos torna mais resilientes diante das dificuldades, pois, como dizia o Filósofo Soren Kierkegaard: “para os cristãos todas as derrotas se podem tornar vitórias”. Acredito ainda que a fé nos ajuda a tomar consciência das nossas limitações, mas também das nossas forças e potencialidades, e faz-nos descobrir o quanto Deus pode fazer em nós e por nós, e aquilo que nós animados pela fé e pela esperança, somos capazes de fazer, se não nos fecharmos na ilusão da auto-suficiência, ou no pessimismo e no complexo de inferioridade, que anestesiam e fragilizam.

in Ecos de Grândola, nº 317, 14 de Setembro de 2018