Esta
frase do Filósofo Sócrates é, decerto
sobejamente conhecida, mas talvez precisemos de a meditar, interiorizar, e assumir mais, no seu conteúdo e consequências.
Na
verdade, além da grande sabedoria
que ela encerra, traz
consigo um convite à humildade, pois
nos leva a reconhecer o pouco
que sabemos, comparado
com aquilo que desconhecemos e, por isso mesmo, deveríamos ser mais parcos nos comentários que tantas vezes fazemos, arvorados
em sabedores do que, de facto,
não sabemos. A ignorância esconde-se muitas vezes, disfarçada com várias máscaras
e é, como nos diz o povo, na sua profunda sabedoria, "muito atrevida".
Um
dos assuntos sobre o qual muitos se acham no direito de opinar "com autoridade", é sobre as questões de Religião.
Neste campo tenho testemunhado situações deveras
espantosas e, nem sempre é fácil ajudar os nossos interlocutores a perceberem que é preciso repensar posturas,
e aprofundar mais certos assuntos. Não podemos saber tudo e a ignorância é humana, por isso, reconhecê-la é um acto de inteligência.
A
humildade, que, na boca de Santa Teresa de Ávila (mística espanhola
do Século XVI e reformadora dos/as
Carmelitas), se identifica com a verdade, é um bom antídoto contra o orgulho e
a soberba, bem plasmadas numa, também
popular expressão: "cá
a mim em humildade ninguém
me bate". O Filósofo Sócrates era um grande sábio, e, por isso mesmo, consciente das suas limitações. Com a sua dialéctica
procurava desmontar os falsos argumentos dos Sofistas e de outros
pseudo-sábios, que proliferavam no mundo Grego. Creio que esta lucidez nos é também necessária hoje, até porque,
com os meios de que dispomos, ("Dr.Google" e outros), corremos o risco
de passar a desvalorizar aqueles que, de facto, são os detentores da sabedoria, e é tão fácil
incorrer em inverdades, meias verdades e Fake News, como se diz hoje.
Perante tal catadupa de informações, falta
tantas vezes
a capacidade crítica
de questionar e o tempo
para assimilar, e
assim vai crescendo, como diz Zygmunt Bauman, o "pensamento líquido", de que tanto fala o Papa Francisco, ao caracterizar as nossas sociedades hodiernas.
A humildade, que é a verdade, é a virtude que, de facto, nos faz avançar
e crescer, porque nos revela
exactamente o que somos, no que temos de bom e de menos bom e, só assim,
é possível amadurecer, mudar, melhorar.
in Ecos de Grândola, nº 316, 10 de Agosto de 2018