domingo, 9 de setembro de 2018

Eu só sei que nada sei


Esta frase do Filósofo Sócrates é, decerto sobejamente conhecida, mas talvez precisemos de a meditar, interiorizar, e assumir mais, no seu conteúdo e consequências.

Na verdade, além da grande sabedoria que ela encerra, traz consigo um convite à humildade, pois nos leva a reconhecer o pouco que sabemos, comparado com aquilo que desconhecemos e, por isso mesmo, deveríamos ser mais parcos nos comentários que tantas vezes fazemos, arvorados em sabedores do que, de facto, não sabemos. A ignorância esconde-se muitas vezes, disfarçada com várias máscaras e é, como nos diz o povo, na sua profunda sabedoria, "muito atrevida".

Um dos assuntos sobre o qual muitos se acham no direito de opinar "com autoridade", é sobre as questões de Religião. Neste campo tenho testemunhado situações deveras espantosas e, nem sempre é fácil ajudar os nossos interlocutores a perceberem que é preciso repensar posturas, e aprofundar mais certos assuntos. Não podemos saber tudo e a ignorância é humana, por isso, reconhecê-la é um acto de inteligência.

A humildade, que, na boca de Santa Teresa de Ávila (mística espanhola do Século XVI e reformadora dos/as Carmelitas), se identifica com a verdade, é um bom antídoto contra o orgulho e a soberba, bem plasmadas numa, também popular expressão: "cá a mim em humildade ninguém me bate". O Filósofo Sócrates era um grande sábio, e, por isso mesmo, consciente das suas limitações. Com a sua dialéctica procurava desmontar os falsos argumentos dos Sofistas e de outros pseudo-sábios, que proliferavam no mundo Grego. Creio que esta lucidez nos é também necessária hoje, até porque, com os meios de que dispomos, ("Dr.Google" e outros), corremos o risco de passar a desvalorizar aqueles que, de facto, são os detentores da sabedoria, e é tão fácil incorrer em inverdades, meias verdades e Fake News, como se diz hoje.

Perante tal catadupa de informações, falta tantas vezes a capacidade crítica de questionar e o tempo para assimilar, e assim vai crescendo, como diz Zygmunt Bauman, o "pensamento quido", de que tanto fala o Papa Francisco, ao caracterizar as nossas sociedades hodiernas.

A humildade, que é a verdade, é a virtude que, de facto, nos faz avançar e crescer, porque nos revela exactamente o que somos, no que temos de bom e de menos bom e, assim, é possível amadurecer, mudar, melhorar.

in Ecos de Grândola, nº 316, 10 de Agosto de 2018