domingo, 25 de agosto de 2019

Profissões de A a Z



Pároco é um misto de profissão e missão. Por começar por P, foi a "profissão" escolhida e, com ela, a preferência pela pessoa do Padre Manuel António do Rosário, pároco da nossa paróquia. Doutorado em Teologia Moral com a classificação máxima, pela Universidade Afonsina de Roma, vai contar-nos algumas das facetas da sua vida.


Ecos de Grândola: - Conte-nos, resumidamente, o processo pessoal de aproximação ao estudo e à prática da vida religiosa?
Padre Manuel António do Rosário: - Até aos meus 16, 17 anos nunca se me colocou a questão da vocação. O meu projecto era estudar (encontrava-me na Escola Secundária Diogo de Gouveia, em Beja), tirar um Curso e mais tarde casar e ser pai. Sempre pensei assim, por ser a opção normal para um jovem alentejano. Ao longo destes anos, fiz algumas experiências de fé que me marcaram profundamente e comecei a questionar-me. As dúvidas, as inseguranças e os medos, porém, eram muitos e hesitei até ao 12º ano. Ainda fiz a Pré-Candidatura ao Ensino Superior, mas, nas férias de 1982, decidi entrar no Seminário Maior de Évora, onde cheguei, uma semana depois de ter completado 19 anos, e fui estudar Teologia durante 6 anos. Foi um tempo muito belo, onde foi crescendo e se foi consolidan do o meu desejo de seguir Jesus na radicalidade da entrega total da minha vida.

E.G.: - Depois de ordenado sacerdote, esteve algum tempo em Roma. Como foi essa experiência?
Pe. MAR: - Fui ordenado sacerdote no dia 03 de Julho de 1988, já lá vão quase 31 anos, e fiquei integrado na Equipa do Seminário de Beja, leccionando Educação Moral e Religiosa na Escola Diogo de Gouveia, trabalhando com os Jovens na Diocese e colaborando em várias Paróquias. Assim estive durante 6 anos e em Setembro de 1994 fui para Roma, estudar Teologia Moral, ficando a residir no Colégio Português de Roma. Esta experiência marcou-me profundamente, não só pela possibilidade de estudar no coração da Igreja Católica, mas também por poder fazer a experiência de contactar com gente de todo o Mundo e de conhecer melhor a realidade do Cristianismo. Na Academia Afonsiana onde estudei (junto à Basílica de Santa Maria Maior) durante 3 anos, havia alunos de cerca de 80 Países. Foi extraordinário. Nunca mais esquecerei as vivências destes tempos.

E.G.: - Que cadeiras lecciona, enquanto professor universitário?
Pe. MAR: - Logo que regressei a Portugal, em 1997, comecei a leccionar Teologia Moral, no Instituto Superior de Teologia de Évora (ISTE). Voltei em 1998 a Roma para defender a Tese, continuando desde essa altura a leccionar, sobretudo cadeiras desta área: Teologia Moral Fundamental. T.M. Pessoal, T.M Social e Questões Atuais de Moral. Lecionei ainda esporadicamente outras matérias, como Ecumenismo Pastoral e oriento há vários anos uma Tutoria. Faço há vários anos parte da Direção do ISTE e neste momento sou o Diretor da Revista do ISIT, que sechama Eborensia.

E.G.: - Como acolheu a designação como pároco de Grândola?
Pe. MAR.:- Ao longo da minha vida tenho procurado sempre estar disponível para acolher os pedidos e nomeações dos nossos Bispos e já conheci vários e, por isso acolhi com confiança e alguma expectativa a vinda para Grândola, uma realidade que eu não conhecia muito bem apesar de ter vindo cá algumas vezes, enquanto jovem e já como sacerdote. No dia da nossa Ordenação Sacerdotal prometemos obediência ao nosso Bispo e é isso que tenho cultivado ao longo da minha vida e não estou nada arrependido, muito pelo contrário. Sinto-me muito feliz assim.

E.G: Como caracteriza o povo de Grândola, do ponto de vista da religiosidade?
Pe. MAR: - Gosto muito de estar em Grândola (creio que é visível) e já passaram 10 anos, nos quais me vou sempre surpreendendo, à medida que vou conhecendo as pessoas e assistindo aos "milagres" que Deus vai fazendo em tantas vidas.
 Esta comunidade, tal como Santa Margarida da Serra, Azinheira dos Barros e Lousal, são comunidades onde me sinto muito acarinhado e eu procuro dar-me a todas da mesma forma, tanto quanto me é possível. Tenho visto crescer a  nesta "Terra da Fraternidade", porque as pessoas são boas e, quando "terreno" é bom, a semente do Evangelho frutifica com mais consistência é verdade. O Cristianismo é um verdadeiro Humanismo, aberto à Transcendência (a Deus). Ainda  algum respeito humano e alguns preconceitos, mas o caminhtesidmuitfrutuoso e cheio de muitas maravilhas, que Deus vai fazendo e eu sou testemunha.
E.G: - Explique-nos como tem conseguido dinamizar paróquias que, no passado, estavam em letargia
Pe. MAR: - Há um “segredo” que considero essencial: temos de ser muito autênticos e amar a pessoas de verdade, preocupando-nos com elas, e fazendo-lhes sentir isso mesmo e sabendo acolhê-las, como Jesus faria, sem julgar ninguém. As pessoas são a Família do sacerdote a quem se deve dar, como pastor e não como funcionário. O nosso modelo é Jesus, o Bom Pastor. Depois, é preciso criar algumas dinâmicas que vão envolvendo as pessoas, dando-lhes espaço para trabalharem, pondo a render os talentos que Deus lhes deu, para que todos sintam que fazem parte e fazem falta na Igreja. Fazer da Comunidade Cristã a "Família das Famílias", tem sido um dos meus lemas, que vou procurando transmitir e, graças a Deus, com a ajuda do Pe. José Bravo, meu grande amigo, tem sido mais fácil.

E.G: - Existe no seu horizonte a visualização de outro cargo que poderá vir a desempenhar na Igreja?
Pe. MAR: - Nunca escolhi nada ao longo deste quase 31 anos de Padre e é assim que quero continuar a pensar e a viver. Estou onde Deus e o Senhor Bispo quiserem. Não me pertenço a mim. Entreguei-me a Cristo, à Igreja e ao Mundo, ao qual quero levar Cristo, e não ambiciono mais nada. Sinto­-me feliz e preenchido por viver a minha vida e a minha vocação animado por este ideal e Deus tem-me confirmado, com muitos sinais, que devo continuar assim. Tenho tido muitas e diversas responsabilidades na Diocese e sempre procurei dar o melhor de mim mesmo em todas as tarefas que me confiaram. Estarei em Grândola até que Deus e o Senhor D. João Marcos entendam. Repito. gosto muito de estar em Grândola, e o tenho aspirações de fazercarreira". Não me ordenei Padre para ser um "carreirista”, ou um funcionário: o meu ideal é seguir e servir Cristoser pastor.

Lucília Saramago