Parece haver alguma convergência, no seio dos mais diversos sectores da sociedade portuguesa, sobre o facto de estarmos a atravessar um período de Crise generalizada, que não deixa ninguém indiferente, mas que atinge, sobretudo, os mais fragilizados de entre a população, os quais se sentem, não raro, quase esmagados pelas manifestações transversais da crise e pela falta de esperança numa solução que teima em não aparecer, e que, entretanto, vai deixando sulcos profundos no tecido humano, social e económico, de consequências ainda imprevisíveis.
Esta situação convida-nos, além de tudo o mais, a uma solidariedade mais efectiva e a gestos concretos, continuados, de partilha, para minorar, atenuar, senão mesmo vencer, esta fase menos positiva da nossa história de povo e nação. Não me parece correcto esperar tudo do Estado e de quem governa, embora, como é óbvio, a sua responsabilidade e missão sejam indispensáveis. Há, contudo, uma infinidade de iniciativas que podem preencher amplos vazios que existem no nosso país, e fazer a diferença, bastando para isso querer e dar corpo a novos projectos, ou continuidade ao muito que já existe, embora tantas vezes ignorado e até desvalorizado.
A nossa matriz de povo, tem sido sempre caracterizado por esta capacidade de fazer das fraquezas forças e de encontrar de forma inventiva e audaz, solução para os problemas que nos têm afligido ao longo da nossa secular história. Só é pena que a memória seja, tantas vezes, curta e facilmente, depois de superadas estas fases, não nos empenhemos, de forma continuada e persistente, a consolidar o caminho que pontualmente somos capazes de vislumbrar e trilhar. A nossa grande capacidade de improvisar torna-se com frequência regra quando deveria ser excepção.
Foi esta mesma capacidade e audácia que nos permitiram, há séculos, partir deste "pequeno torrão pátrio" e "dar novos mundos ao mundo", coisa que os "velhos do Restelo" de então nunca imaginaram ser possível. A energia e genialidade não se esgotaram nos séculos passados, mas antes continuaram a fazer parte do nosso ADN, assim nós quiséssemos, todos, esquecer o que nos decide e apostar naquilo que nos deve unir e catapultar para as soluções, em vez de nos degladiarmos por interesses onde o bem comum e os interesses dos mais pequenos e mais frágeis são frequentemente esquecidos.
A crise pede-nos ainda uma solidariedade generosa e desinteressada, para além dos ciclos eleitorais e das estratégias de poder, quaisquer que elas sejam, independentemente do espaço reservado aos protagonismos nos principais mass media.
Todos podemos fazer a diferença. Está (quase) tudo na nossa mão. Superemos o fatalismo e o pessimismo que paralisam, os proteccionismos e dependências que infantilizam, e dêmos azo ao nosso engenho e grandeza de carácter. Fomos e somos capazes de vencer!
Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Ecos de Grândola, nº 241, 11 de Maio de 2012