anúncio da renúncia do papa Bento XVI, feito na primeira pessoa, surpreendeu muitos, entre defensores e detractores, e tornou-se assunto de primeira página em grande parte da comunicação social.
Apesar desta possibilidade constar no Código de Direito Canónico, poucos imaginariam que ela fosse posta em prática, e logo por este papa. Na verdade, a falta de objectividade de tantas notícias, associada a outras razões e interesses, mais ou menos velados, transmitiu deste homem uma imagem pouco positiva, que o tempo e alguns gestos ao longo do seu pontificado foram redimensionando, revelando-se então o verdadeiro rosto deste homem tímido e humilde, mas firme e decidido de timoneiro da “barca de Pedro”.
Os Homens são todos diferentes e os papas não fogem à regra. Entre Bento XVI e João Paulo II havia muitas diferenças, mas unia-os o grande amor pela Igreja e pela Humanidade, e o desejo de uma profunda renovação da Igreja, para poder cumprir com autenticidade a sua missão de ser sinal do amor de Deus por nós seres humanos. Uma outra tónica comum foi o compromisso de trabalharmos juntos para tornar mais humano, justo e fraterno o Mundo em que vivemos.
Apesar da brevidade deste pontificado (menos de oito anos), ele deixa marcas profundas que a história, se no presente lhe não for feita justiça, confirmará: a aposta no diálogo com crentes e não crentes; a confiança na razão e no diálogo entre esta e a fé; a renovação das estruturas da Igreja e a firmeza no combate aos erros e desvios, etc.
Em pouco tempo este digno sucessor de Pedro fez muito, sem nunca se deixar deslumbrar pela tentação do poder, antes reconhecendo e afirmando sempre a sua condição de servo, que veio para servir, pelo que, sentindo ser ingente a renovação da Igreja e poucas as forças para tão hercúlea missão, com humildade e grandeza de alma, entendeu ter chegado a hora de passar o testemunho.
Obrigado papa Bento XVI pela sua ousadia e clarividência.
Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário