sexta-feira, 10 de maio de 2013

Pessimismo ou Optimismo?


É frequente dar comigo a reflectir como é possível que aquilo que parece tão óbvio para uns o não seja para outros, mesmo admitindo que as cores com que cada um pinta possam ter cambiantes diversas. Neste artigo procurarei alinhavar algumas ideias pessoais sobre esta questão, que aliás já mereceu pinceladas em anteriores artigos

Apesar de me parecer que não há uma resposta única a esta questão, penso existir uma nota que deve ser acentuada e levada a sério: falta de objectividade e de amor à verdade. É um facto que a subjectividade é incontornável e uma das conquistas da Modernidade; porém, ela não é filha única, pelo que, se a retirarmos da relação com a objectividade e a verdade, corre o risco de se perder nas divagações do individualismo e do irracionalismo, e no pântano da insegurança, da incerteza e da confusão.

S.Tomás de Aquino dizia em pleno século XIII que são três as fontes da moralidade: o sujeito, o objecto e as circunstâncias. A ausência ou desvalorização de uma das colunas deste tripé poderá fragilizar, senão mesmo desestabilizar, o inteiro edifício do juízo moral e a nossa formação enquanto pessoas. Preocupa-me, em particular, a perda de referências objectivas, uma vez que a subjectividade reconquistou o seu lugar, que creio lhe não será tirado, pelo menos nestes tempos mais próximos. As circunstâncias também ocupam o seu justo posto, parece-me. Quanto à objectividade é o parente pobre desta família, e é sensível a dificuldade em reconhecer o seu lugar, com consequências óbvias: não há valores imutáveis, nem certezas, nem evidências, nem leis universais, nem princípios permanentes. É tudo relativo e subjectivo. Pode até acontecer que, numa legislatura, um partido que tenha maioria parlamentar mude um leque alargado de valores e proponha outros, ou nenhuns, e no quadro parlamentar seguinte, outra maioria, de outra cor, faça propostas de sinal completamente diverso.

Não sei a quem convém este estado de coisas mas, para mim, uma coisa é certa: por aí não quero ir. A minha formação enquanto pessoa, cidadão, e cristão tem-me ajudado a perceber a importância das referências objectivas para a vida e que, quando se abre uma brecha nos valores que estruturam o ser humano e uma qualquer sociedade, é como quem destapa a Caixa de Pandora, com consequências imprevisíveis, nomeadamente para os mais jovens que, pela instabilidade inerente à sua condição, são os alvos mais fáceis.

Apesar das dúvidas que assaltam o meu espírito e que me levantam muitas interrogações sobre o projecto de sociedade que se quer construir, nomeadamente nos países ocidentais onde se insere o nosso Portugal, ainda acredito existirem razões para a esperança, e, por isso, não podemos baixar os braços. Há que lutar e fazer propostas alternativas, que sejam credíveis e significativas para sociedades que parece terem perdido a esperança e o sentido e, por isso mesmo, anseiam sofregamente pela novidade, pelo diferente, pelo desconhecido, numa corrida louca contra o tempo, que teima em não parar e em nos lembrar a precariedade da condição humana.

Creio que o Cristianismo e a Igreja Católica têm ainda um papel importante a desempenhar, apesar das crises e dos escândalos que têm batido à sua porta. A crise é sempre uma ocasião de renovação, de refontalização, de rejuvenescimento, tão necessárias nesta comunidade "santa de pecadores", com dizia sabiamente o Papa João XXlll, para que a beleza original e a frescura das origens regresse e se afirme.

Penso ser este um dos reptos constantes que o Papa Francisco tem colocado à Igreja. Acolhamo-lo sem medo e com plena confiança e entusiasmo!

Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Ecos de Grândola, nº 253, 10 de Maio de 2013