A verdadeira ecologia obriga-nos a não nos centrarmos no que se passa apenas
"no nosso quintal”, a não desbaratarmos recursos e energias em questões de manifesto
cariz egoísta e hedonista, e a despertarmos para
os grandes dramas humanos da actualidade.
Que
respostas dar aos refugiados que batem à nossa porta, movidos pela utopia de um futuro melhor, demanda tantas vezes
silenciada nas águas do mar Mediterrâneo, mare nostrum?
E que pensar dos conflitos fraticidas que ensanguentam tantos
países e que têm na base não apenas questões internas, mas são fomentados por interesses económicos externos, pela busca do controlo das matérias-primas e pelo monopólio da venda
de armas?
E que dizer de tantos seres humanos
que deambulam pelas
nossas
ruas e praças, transformados em autênticos farrapos
humanos, pelas histórias que penosamente arrastam e que merecem
menos atenção dos passantes do que os animais que os acompanham?
Para que a ecologia não descambe em ideologia
é preciso não esquecer que, entre nós, seres humanos, e os demais
seres criados, há diferença substancial e qualitativa. Urge, pois,
diante de tanta indiferença, injustiça e desigualdade,
provocar; uma autêntica
reviravolta cultural, que coloque o Homem no centro da criação, naturalmente, com o devido respeito da natureza e dos demais seres vivos,
pois, só quem ama e defende
o ser humano poderá, na verdade,
respeitar a natureza e as outras criaturas.
A verdadeira ecologia,
insiste o papa
Francisco, deve ser integral, e integral significa humana e humanizadora.
Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, 06 de Julho de 2018