anta Teresa de Ávila (mística espanhola do Século XVI e doutora
da Igreja) afirmou que "a humildade é a verdade".
Penso muitas vezes no sentido desta afirmação que para quem
é cristão faz todo o sentido, pois a fé ajuda-nos a ser realistas, a tomar consciência
dos nossos pecados, ignorâncias e limitações, e essa é a verdade da condição humana.
A consciência do que somos pode ser o ponto de partida para a mudança não apenas
do agir, mas, sobretudo, do ser.
Creio que esta é uma das lições de vida que podemos tirar
do Evangelho. Em Cristo encontramos o que Santa Teresa descobriu, e de como a soberba
e o orgulho são uma ilusão, nos afastam da verdade, criando uma sensação de segurança
e de saber, que não são reais e que, com o tempo, acabarão por desmoronar.
É claro que haverá sempre quem nos apoie e conforte, mesmo
quando estamos errados, mas quem assim age não nos ajuda, uma vez que, entre a realidade
e a "nossa realidade", pode não haver coincidência.
Sobre esta mesma temática, afirmou há uns anos o Papa Bento
XVI que hoje se corria o risco de confundir "o bem e o mal, com o sentir-me
bem ou mal".
Chamamos a isto subjectivismo, que é diferente de subjectividade
(um valor dos nossos tempos), e nos projecta no pântano do egocentrismo, da insensibilidade
e da auto-suficiência.
Ter a pretensão de que somos omniscientes e que podemos falar
sobre tudo, com autoridade, é ilusão e falácia. Talvez nos possa também ajudar a
célebre frase do Filósofo Sócrates: "eu só sei que nada sei". De facto,
quanto mais estudamos. mais vamos tomando consciência do que não sabemos, e de que
só podemos, por isso. ser humildes.
É seguindo o caminho da humildade que seremos capazes de
refazer percursos e relações, em quaisquer âmbitos da nossa vida, de nos redescobrirmos,
renovarmos e rumarmos em direcção à utopia. “Errar é humano”, já diziam os romanos,
por isso, a humildade é também um sinal de realismo, de inteligência e de verdade.
Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, 03 de Agosto de 2018