sexta-feira, 3 de abril de 2020

Uma Quaresma diferente



história da humanidade, ao longo dos séculos, tem sido marcada por pestes, fomes, guerras, terramotos, tsunamis, etc. A distância espácio-temporal destas crises gravíssimas, e de consequências catastróficas, pode gerar alguma aparente amnésia e tranquilidade.

É preciso, contudo, não ter memória curta, nem eurocêntrica, e olhar, por exemplo, para além do mediterrâneo, e descobrir os surtos epidémicos em África, como o ébola, com milhares de mortos; as pragas de gafanhotos; ou o SIDA/AIDS, outra pandemia que, se estendeu a todos os continentes e que, também em África, tem perturbado a renovação humana deste pujante continente.

Escrevi há uns tempos, que a velocidade dos acontecimentos acelerou, infelizmente para nós, é o que está a acontecer com a covid 19: da longínqua China, globalizou-se, chegou num ápice a Itália, e já está à nossa porta, desafiando as nossas seguranças. Que mais irá acontecer, não sabemos, ou melhor, o que sabemos há que fazê-lo, para bem de todos, pois ninguém está isento de ser contagiado ou contagiar.

Permitam-me, ainda, que partilhe convosco uma experiência única em 31 anos de padre: pela primeira vez celebrei missa sozinho (além do paroquiano que a gravou e publicou), quando o habitual são duas ou três ao sábado, e três ou quatro (às vezes cinco) ao domingo, em diferentes locais do concelho de Grândola.

Numa vida agitada como a minha e a de tantos sacerdotes, de repente, é preciso parar tudo e repensar as prioridades, questionar projetos, programas, compromissos, e tentar responder a situações novas e inesperadas.

Nós, cristãos, estamos na Quaresma, tempo de preparação para a Páscoa, o período mais importante do ano, e não tenho dúvidas de que esta, por força dos
acontecimentos, será uma Quaresma diferente.

Uma palavra final para todos os que, com o risco da própria vida, lutam contra esta pandemia e procuram ajudar, tratar e salvar os doentes. Coragem!

Rezo por vós! Vamos vencer!

Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, 03 de Abril de 2020