sexta-feira, 31 de agosto de 2012

O verão e as Festas


O verão é o período do ano mais profusamente fértil em Festas, para todos os gostos e expressões. As razões podemos decerto encontrá-las no regresso temporário dos portugueses da diáspora, no acréscimo de turistas em solo luso, e, é óbvio, nas férias. 

Como o tema é demasiado vasto, limitar-me-ei a traçar apenas algumas pinceladas, a partir da minha pena de cristão atento à realidade circundante.

Muitas das nossas Festas têm frequentemente na base, qual “cabeça de cartaz”, um Santo Padroeiro, que acaba por ser, no geral, um ilustre desconhecido. Nos programas, é evidente o sincretismo, e é tal a mistura entre o cristão e o pagão, que se torna tarefa hercúlea a destrinça de fronteiras. Este fenómeno não pode ser nem ignorado, nem combatido, antes constitui um desafio a que a Igreja deve responder, sob pena de perder mais um púlpito de onde pode, à semelhança de S. Paulo no Areópago de Atenas, falar às multidões de hoje.

O fenómeno não é, por isso, novo, pois o Cristianismo teve ao longo dos seus dois mil anos de história de se adaptar e enfrentar muitos e diversificados cenários nos Continentes e Povos onde se foi implantando. A resposta passou pela inculturação da fé, objetivo sempre desejado embora nem sempre atingido com sucesso.

Mas, voltemos ao nosso País. As Festas constituem uma ocasião soberana para congregar pessoas e comunidades, fortalecer sinergias, fomentar a sã competição, gerar dinamismos de vitalidade e de empreendedorismo, criar riqueza, preservar tradições e expressões de identidade, semear a esperança e combater as crises. Para a Igreja elas constituem ainda um desafio, a que podemos justamente incluir no âmbito da Nova Evangelização.

Por tudo isto, é desejável que reine um clima de diálogo e entendimento construtivo entre as comissões que promovem estes festejos e as Paróquias, pois as pessoas que se pretende atingir são, na maior parte dos casos, as mesmas. Se assim for, todos beneficiamos.

Padre Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, n.º 1584, 31 de Agosto de 2012

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Feira de Agosto, Turismo e Ambiente em Grândola

Iniciou-se hoje a Feira de Agosto, Turismo e Ambiente que decorre no Parque de Feiras e Exposições de Grândola, de 22 a 27 de Agosto.


sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Os fins não justificam os meios

Esta frase é sobejamente conhecida, o seu conteúdo explícito e incisivo, as suas exigências comprometedoras, e a sua actualidade sempre indiscutível.

Ao olhar para as nossas sociedades, não apenas para a portuguesa, é impossível não ficar espantado com a facilidade com que se ilude a verdade e se criam "as nossas verdades", se inventam razões para justificar o injustificável, e se encontram argumentos para atacar quem pensa de forma diferente, mesmo que esteja certo. Chega mesmo a dar a impressão que a verdade está sempre do lado dos mesmos, os quais nunca reconhecem que se enganam, mesmo quando, perante as evidências dos factos, são justamente julgados e condenados.

O bem ou o mal, é preciso dizê-lo, não têm donos exclusivos, embora seja tão fácil escorregar no maniqueísmo. A verdade do ser humano é que todos podemos errar e todos deveríamos, de igual forma, reconhecer o erro e tentar mudar. Condenar o outro antes da justiça se manifestar, criticar o outro só porque pensa de forma diferente, mentir ou alterar a verdade dos factos, são procedimentos que deveriam ser banidos do nosso agir quotidiano. Talvez muitos de nós nos lembremos de uma telenovela que passou há anos na televisão e que tinha o sugestivo título de "vale tudo". Mas, será que vale mesmo?

Embora ao escrever tenha presente a minha matriz cristã, creio não estar equivocado, ao pensar que qualquer pessoa, rectamente formada, não deixará de subscrever a verdade desta afirmação: "Os fins não justificam os meios". Pelo contrário, para fins rectos só deveriam ser utilizados meios igualmente rectos. Quando se abre a porta às excepções, torna-se depois missão quase impossível querer fechá-la. Se queremos, pois, construir sociedades justas e fraternas, estabelecer relações sólidas e autênticas entre as pessoas e as comunidades, quaisquer que elas sejam, comecemos pelo mais básico, pelos alicerces e não pela cobertura. Tudo o que não tem consistência cedo ou tarde cairá. Os exemplos são imensos... e bastante actuais.

É claro que fazer tudo correctamente leva tempo e exige esforço, tenacidade, sacrifícios, e a mentalidade que se pretende difundir é caracterizada pelo imediatismo, sem grandes compromissos, de modo a ter-se já, ou melhor, ontem, tudo aquilo que queremos obter, para poder ser. Os exemplos, infelizmente, saltam todos os dias à frente dos nossos olhos, basta querer ver.

A força da frase que dá o tema a esta reflexão, deveria envolver-nos a todos, logo, também à Igreja, ou se me é permitido, em primeiro lugar à Igreja, porque a mensagem de Jesus, de que ela é depositária e tem a missão de transmitir a toda a humanidade, vai exactamente neste sentido.

Se todos procurássemos pôr mais em prática a verdade, o realismo e as exigências desta frase, talvez a nossa vida fosse mais autêntica e justa, e se evitasse o cortejo de histórias, muitas delas de dor, sofrimento e morte, que entopem os nossos tribunais e fazem as delícias de certa imprensa.

Outra das implicações desta frase é que ela nos desperta para a centralidade da pessoa humana, que nunca pode ser meio, mas sempre fim e um fim primeiro e prioritário. Porque este período do Verão, apesar de todos os condicionalismos, pode ser propício à reflexão sobre estas questões, que não são objecto da nossa atenção todos os dias, aproveitemos esta oportunidade, para darmos densidade e ainda mais verdade à nossa vida, não esquecendo, como nos diria Antoine de Saint-Exupéry, “o essencial é invisível aos olhos”.

Padre Manuel António Guerreiro do Rosário
in Ecos de Grândola, nº 244, 10 de Agosto de 2012
 

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Os fins não justificam os meios

Este título é sobejamente conhecido, o seu conteúdo explícito e incisivo, as suas exigências comprometedoras, e a sua actualidade sempre indiscutível.

Ao olhar a realidade que nos envolve, à luz deste princípio, facilmente descobriremos: esquemas ardilosos para iludir a verdade, razões para justificar o injustificável, argumentos para atacar quem pensa de forma diferente.

Se queremos, porém, construir sociedades justas e fraternas, estabelecer relações sólidas e autênticas entre as pessoas e as diferentes comunidades, comecemos pelo mais básico, pelos alicerces, e este é um deles.

Afirmar que os fins não justificam os meios é ainda reconhecer que há uma hierarquia de valores e objectivos, e que nunca o ser humano pode ser considerado meio, mas sempre fim, a respeitar e defender. Viver a vida nesta perspectiva supõe tempo e exige esforço, tenacidade, sacrifícios, enquanto a mentalidade que se pretende difundir é caracterizada pelo imediatismo, e pelo hedonismo, sem grandes compromissos, e tantas vezes, sem verdade.

É óbvio que para mim, enquanto cristão, entendo que deve ser sempre assim, e a Igreja afirmar-se como protagonista e timoneira na difusão desta grande verdade, que é exigente, comprometedora, e se encontra no coração da mensagem de Jesus.

Mesmo quando na práxis de muitos na Igreja isto não acontece, não devemos baixar os braços, mas antes trabalhar para que, dentro dela (Igreja) se viva e respire segundo este princípio.

Creio, porém, poder concluir que qualquer pessoa, que procure pautar a sua vida por autênticos valores humanos, seguindo a rectidão da sua consciência, não deixará também de a subscrever. Proponho, por isso, aos nossos leitores que aproveitem o período do verão, apesar de todos os condicionalismos, para uma reflexão sobre as nossas diferentes realidades e a nossa própria vida, na certeza de que, como nos diria Antoine de Saint-Exupéry, “o essencial é invisível aos olhos”.
Padre Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, n.º 1580, 03 de Agosto de 2012