sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Os fins não justificam os meios

Este título é sobejamente conhecido, o seu conteúdo explícito e incisivo, as suas exigências comprometedoras, e a sua actualidade sempre indiscutível.

Ao olhar a realidade que nos envolve, à luz deste princípio, facilmente descobriremos: esquemas ardilosos para iludir a verdade, razões para justificar o injustificável, argumentos para atacar quem pensa de forma diferente.

Se queremos, porém, construir sociedades justas e fraternas, estabelecer relações sólidas e autênticas entre as pessoas e as diferentes comunidades, comecemos pelo mais básico, pelos alicerces, e este é um deles.

Afirmar que os fins não justificam os meios é ainda reconhecer que há uma hierarquia de valores e objectivos, e que nunca o ser humano pode ser considerado meio, mas sempre fim, a respeitar e defender. Viver a vida nesta perspectiva supõe tempo e exige esforço, tenacidade, sacrifícios, enquanto a mentalidade que se pretende difundir é caracterizada pelo imediatismo, e pelo hedonismo, sem grandes compromissos, e tantas vezes, sem verdade.

É óbvio que para mim, enquanto cristão, entendo que deve ser sempre assim, e a Igreja afirmar-se como protagonista e timoneira na difusão desta grande verdade, que é exigente, comprometedora, e se encontra no coração da mensagem de Jesus.

Mesmo quando na práxis de muitos na Igreja isto não acontece, não devemos baixar os braços, mas antes trabalhar para que, dentro dela (Igreja) se viva e respire segundo este princípio.

Creio, porém, poder concluir que qualquer pessoa, que procure pautar a sua vida por autênticos valores humanos, seguindo a rectidão da sua consciência, não deixará também de a subscrever. Proponho, por isso, aos nossos leitores que aproveitem o período do verão, apesar de todos os condicionalismos, para uma reflexão sobre as nossas diferentes realidades e a nossa própria vida, na certeza de que, como nos diria Antoine de Saint-Exupéry, “o essencial é invisível aos olhos”.
Padre Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, n.º 1580, 03 de Agosto de 2012