O verão é o período do ano mais profusamente fértil em Festas, para todos os gostos e expressões. As razões podemos decerto encontrá-las no regresso temporário dos portugueses da diáspora, no acréscimo de turistas em solo luso, e, é óbvio, nas férias.
Como o tema é demasiado vasto, limitar-me-ei a traçar apenas algumas pinceladas, a partir da minha pena de cristão atento à realidade circundante.
Muitas das nossas Festas têm frequentemente na base, qual “cabeça de cartaz”, um Santo Padroeiro, que acaba por ser, no geral, um ilustre desconhecido. Nos programas, é evidente o sincretismo, e é tal a mistura entre o cristão e o pagão, que se torna tarefa hercúlea a destrinça de fronteiras. Este fenómeno não pode ser nem ignorado, nem combatido, antes constitui um desafio a que a Igreja deve responder, sob pena de perder mais um púlpito de onde pode, à semelhança de S. Paulo no Areópago de Atenas, falar às multidões de hoje.
O fenómeno não é, por isso, novo, pois o Cristianismo teve ao longo dos seus dois mil anos de história de se adaptar e enfrentar muitos e diversificados cenários nos Continentes e Povos onde se foi implantando. A resposta passou pela inculturação da fé, objetivo sempre desejado embora nem sempre atingido com sucesso.
Mas, voltemos ao nosso País. As Festas constituem uma ocasião soberana para congregar pessoas e comunidades, fortalecer sinergias, fomentar a sã competição, gerar dinamismos de vitalidade e de empreendedorismo, criar riqueza, preservar tradições e expressões de identidade, semear a esperança e combater as crises. Para a Igreja elas constituem ainda um desafio, a que podemos justamente incluir no âmbito da Nova Evangelização.
Por tudo isto, é desejável que reine um clima de diálogo e entendimento construtivo entre as comissões que promovem estes festejos e as Paróquias, pois as pessoas que se pretende atingir são, na maior parte dos casos, as mesmas. Se assim for, todos beneficiamos.
Padre Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, n.º 1584, 31 de Agosto de 2012