A proximidade das Eleições
estimula-me a escrever algumas
linhas sobre este tema, visto ser este um
tempo fértil em noticias, muitas promessas e compromissos (ou pseudo), e as inevitáveis sondagens, nem sempre
isentas e criteriosas, e algumas vezes encomendadas.
A Democracia foi de facto, uma grande conquista da Humanidade e, apesar de vivermos no Século XXI, continua a ser ainda
miragem para muitos povos,
talvez a maior parte da família Humana
A realidade das democracias é muito diferente, de Continente para Continente
e, às vezes, até de País para País. A simples transposição de modelos, sem que haja um esforço
de conhecimento e encarnação
nas distintas realidades, é um erro que deve
ser evitado, pelas falsas expectativas geradas
e consequentes desilusões, e pelos efeitos
perversos que daí podem advir.
A Democracia é um fruto que deve amadurecer, não apressadamente, mas gradual e naturalmente.
A titulo de exemplo, lembremo-nos da mais jovem
Nação do Mundo: o Sudão do Sul. Logo após ter conquistado a independência o País
resvalou para uma luta fratricida, que já dura há vários anos, com consequências dramáticas' para milhões de pessoas. Olhemos também para a realidade de alguns Países em que, sem experiência democrática, a maioria vencedora permitiu ou mesmo fomentou
manifestações de hostilidade, marginalização e perseguição contra os vencidos e as minorias. Em largas zonas do Mundo, a porta que a Democracia
abriu para muitos povos, pode
vir a ser consecutivamente fechada por aqueles
que pretendem servir-se
dela apenas para o acesso ao poder. A Democracia pode, pois, tomar-se,
em vários contextos geopolíticos, apenas um meio e porventura nunca um fim. Temos disso vários exemplos
na cena política
internacional.
Ao olhar para o nosso
País nestes dias de campanha eleitoral, sinto dentro
de mim o apelo a dizer
a todos os cidadãos que não se esqueçam de exercer, com verdade e respeito, a missão de participar e escolher
aqueles que melhor poderão essa nobre
missão. Sim, a Política não pode ser mera opção profissional, "tacho" ou bóia salva-vidas para quem não tem mais nada que fazer; pelo contrário, ela deve ser uma vocação, uma opção de vida, para quem pretende
estar ao serviço da comunidade e, no serviço, contribuir efectivamente para melhorar
a vida das pessoas
e transformar as sociedades. O Papa Francisco
insiste muito na importância do discernimento, o qual nos permitirá separar o trigo
do joio, a Verdade da
minha verdade, o essencial do acessório. A Democracia precisa e agradece a participação de todos os cidadãos, pois todos somos importantes e fazemos falta na edificação de melhores sociedades.
Nesta linha de pensamento, a abstenção é uma forma de
não as-sumir como a tarefa de mudar o que achamos estar mal ou menos bem e, as altas taxas de abstenção, só contribuem para minar a credibilidade da Política e dos Políticos,
levando ao afastamento das pessoas e entregando de bandeja o poder a minorias, tantas
vezes demagogas e populistas, para quem vale
tudo para tomar de assalto
o poder.
Proponho a quem quiser, sobretudo, aos que optaram
pela Política, que leiam a Carta que o
Papa João Paulo ll escreveu para
o Jubileu dos Políticos, no ano 2000, e que conheçam o Padroeiro que lhes propôs: S. Tomás Moro. Em tempos de implantação do Anglicanismo como Religião de Estado, ele preferiu sacrificar a própria vida, às suas convicções e à fidelidade à sua consciência e, por isso, mereceu o título de "Homem para a eternidade".
in Ecos de Grândola, nº 330, 11 de Outubro de 2019