terça-feira, 27 de março de 2012

Beja: Diocese debate-se com falta de meios para combater «indiferentismo» religioso

Beja, 27 Mar 2012 (Ecclesia) – A ausência de uma prática cristã estável, acentuada por problemas como o êxodo populacional e a quebra significativa na taxa de natalidade, constitui há anos um enigma difícil de resolver para a Igreja Católica de Beja.

Em declarações à ECCLESIA, o vigário-geral da Diocese, padre António Domingos Pereira, sublinha que “com o número reduzido de padres, a sua média etária que ronda os 60 anos e as distâncias que cada um tem de percorrer, não é fácil fazer uma pastoral muito activa e presente”.

Actualmente, a força evangelizadora que está ao serviço daquela que é a segunda maior diocese do país, com 12189 km2, ascende a pouco mais do que uma centena de padres, religiosos e diáconos permanentes.

Limitado no número e no tempo, o clero apenas consegue “responder àquilo que é o tradicional, como as missas e os sacramentos”, salienta aquele responsável, numa entrevista publicada no Semanário ECCLESIA desta terça-feira.

Um dos casos mais “extremos” desta realidade está à vista no concelho de Mértola, onde nove paróquias, algumas bastante distantes umas das outras, estão neste momento entregues a apenas um sacerdote.

“O seu colega adoeceu, está a tratar-se no Norte e ele ficou sozinho com todas aquelas comunidades”, explica o vigário-geral, adiantando ainda que “uma das paróquias obriga a uma deslocação de 76 quilómetros”.

A Diocese de Beja integra actualmente cerca de 211 mil habitantes, menos 12 mil do que em 2001, segundo os dados preliminares do Censos 2011, analisados pelo Instituto Nacional de Estatística.

Apesar da maior parte da população ser baptizada e se declarar católica (cerca de 184 mil pessoas), a prática dominical na região não ultrapassa os 6,1 por cento.

Algumas localidades, sobretudo no interior ou mais próximas da fronteira com Espanha, estão tão isoladas do coração da Diocese que se tornaram quase “indiferentes” ao anúncio do Evangelho.

Enviado para a freguesia da Amareleja, bem perto do rio Alqueva, há cerca de sete meses, o padre Erbério Salença confessa-se “assustado com o ritmo com que as pessoas respondem à Igreja, muito diferente daquele que conheceu na sua terra natal, em Moçambique” ou que encontrou em outros pontos de Portugal, como Lisboa.

“Aqui as pessoas têm o conhecimento de Deus mas reina um pouco o indiferentismo. Há que chamá-las de novo à casa do Pai”, aponta o sacerdote, que conta com o apoio de algumas irmãs Servas de Nossa Senhora de Fátima.

Situada no extremo norte do concelho de Moura, aquela localidade integra as paróquias da Amareleja, da Póvoa de São Miguel e de Nossa Senhora da Estrela.

Tal como acontece um pouco por toda a região alentejana, a maior parte da população que aqui vive é constituída por “pessoas idosas, com mais de 50 anos, em muitos casos aposentados que voltaram dos grandes centros para construírem aqui as suas casas”, em busca de tranquilidade para o que resta da vida.

“Há dias em que tenho 10 pessoas na missa”, admite o padre Erbério Salença, para quem são necessários “mais missionários” para espalharem a mensagem de Deus.

Por outro lado, acrescenta, é preciso “tentar chegar aos pais através dos filhos”, aproveitando os jovens que ainda não saíram para outras paragens, em busca de um futuro melhor.

Segundo o padre Pedro Guimarães, que serve a região de Santiago do Cacém desde 2007, o sentimento de pertença das pessoas à Igreja é também muitas vezes posto em causa devido a preconceitos fortemente enraizados.

“Há paróquias em que os homens não vão à Igreja porque a pressão social é tão grande que eles não se sentem capazes de ir e quem for vai ser algo de gozo durante a semana”, acrescenta o sacerdote.

Neste contexto, “abraçar as famílias e chegar aos homens, para que eles consigam fazer parte da comunidade, tem sido uma grande luta”, conclui.

JCP