O Papa Bento XVI convocou a Igreja para um "Ano da Fé", a iniciar em 11 de Outubro deste ano, com o objectivo de assinalar os cinquenta anos da Abertura do Concílio Ecuménico Vaticano II, e os vinte anos da promulgação do Catecismo da Igreja Católica (11 de Outubro de 1992). As celebrações terminarão no dia 24 de Novembro de 2013. Para o efeito, o Papa escreveu uma Carta Apostólica, intitulada "Porta Fidei", Porta da Fé, que deveria merecer uma leitura e consequente reflexão de todos os católicos.
Por uma questão de tempo, vou referir-me apenas ao Concílio, justamente considerado o mais importante acontecimento eclesial do Século XX e deste início do Século XXI. O futuro a Deus pertence.
Tenho tido ocasião de ler e de aprofundar praticamente todos os documentos do Concílio, mas gostaria de centrar a minha atenção na Constituição Gaudium et Spes, A Igreja no Mundo Contemporâneo, e, em especial, na sua preocupação de reconciliar a Igreja e o Mundo, e de dizer ao Mundo que a Igreja o respeita e não só quer partilhar com ele a sua sabedoria milenar e toda a sua riqueza humana, cultural, patrimonial, etc., etc., etc., mas também se coloca na atitude humilde de quem quer aprender e tem muito que aprender.
Vem esta introdução a propósito do Sínodo Diocesano que, em boa hora, na minha opinião, o Senhor Bispo de Beja, D. António Vitalino Dantas, entendeu por bem propor a toda a Igreja Diocesana.
Para que o Sínodo produza frutos de renovação nesta Igreja, considero ser fundamental em todo este processo que a Igreja, além de reflectir sobre a sua vida interna, tenha a coragem e a ousadia de ouvir o Mundo alentejano, e até de lhe pedir que este lhe diga, como a olha, o que pensa dela, o que espera dela, quais as críticas que lhe faz, etc.
Penso que muitas vezes, não apenas à Igreja em Beja, mas á Igreja em geral, falta esta coragem de se envolver no Mundo e de o ouvir e de aprender com ele. É mais fácil fechar-se dentro de si própria, falar uma linguagem codificada para uso interno, praticar uma pastoral onde falta o realismo e a inculturação, e depois, pela lógica do silogismo e da dedução, toma-se o todo pela parte, neste caso pequena parte, uma vez que os católicos praticantes somos apenas uma minoria, e fica-se muito consolado com o que se faz, quando a grande massa, onde existe também uma imensa multidão de gente inspirada em valores cristãos e humanos, aqueles a quem o saudoso Papa João XXIII chamou "homens e mulheres de boa vontade", ficam de fora, e são frequentemente esquecidos da acção pastoral da Igreja. A Igreja precisa de se lembrar que Cristo não esqueceu, nem excluiu ninguém, e procurou chegar a todos, sobretudo aos que estavam mais longe, fora do redil, para lhes anunciar uma Boa Notícia.
Espero e desejo, por isso, que o Sínodo seja uma ocasião autêntica de renovação da Igreja de Beja, e que o Ano da Fé produza em toda a Igreja, um autêntico Pentecostes de conversão e de evangelização, que ajude a Igreja a cumprir mais eficazmente a sua missão de ser Sal e Luz neste Mundo, porque os cristãos, como sabiamente disse o Concílio Vaticano II, são "cidadãos das duas Cidades, a terrena e a celeste".
Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Ecos de Grândola, nº 243, 13 de Julho de 2012