O
Verão é o período predilecto para Festas, Feiras e Romarias, que enchem
de alegria as nossas gentes do Norte ao Sul do país, aproveitando
muitas vezes a presença dos nossos migrantes, que regressam para matar
saudades e se fortalecerem nas suas raízes lusas.
A
complexidade deste fenómeno, no qual o pagão e o cristão se misturam e
entrecruzam, tornando difícil a destrinça das fronteiras, desaconselha
análises simplistas e leituras precipitadas. O tema é, aliás, demasiado
vasto para poder ser abordado em todos os seus aspectos, nem será essa a
minha pretensão, mas, tão só, tecer algumas considerações sobre aquilo
que me parece importante, a partir da perspectiva cristã.
Como
muitas vezes o que é notícia é a não-notícia, o negativo, eu, como
cristão, acredito, como diz o provérbio, “que há mais árvores a crescer
do que a cair, na floresta”, pelo que, gostaria de me centrar,
sobretudo, nos aspectos positivos.
O
Cristianismo teve ao longo dos séculos a preocupação de não negar, nem
apagar, mas tentar cristianizar as tradições dos povos pagãos onde a fé
cristã foi chegando, talvez nem sempre o tenha feito da forma mais
correcta, nem mais eficaz, mas esse é um trabalho de sempre, logo,
também de hoje. Não podemos, por isso, fazer “tábua rasa” das tradições e
das manifestações religiosas, frequentemente sincretistas, que
encontramos por todo o nosso país. Temos sim, na minha opinião, que
respeitar, valorizar e explicar o sentido, sem esquecer que a fé se
propõe e nunca se impõe. Como diz a Bíblia, “não se pode apagar o que
ainda fumega”.
Se
posso falar um pouco das minhas experiências em pregações por esse
Alentejo fora, posso testemunhar que encontrei muito desconhecimento dos
Santos padroeiros das nossas localidades e festas, pelo que, sempre
tenho tido a preocupação de dar a conhecer a vida e obra daqueles que,
muitas vezes, ilustres desconhecidos.Tem sido uma experiência altamente
gratificante.
É
missão da Igreja dar o sentido, aproveitar as virtualidades de todos
estes festejos, sabendo que nem sempre é fácil, pelo peso das tradições
avessas à mudança e actualização. É bom, contudo, não esquecer que
Cristo também não encontrou só facilidades na sua acção apostólica, o
mesmo sucedendo com os Apóstolos.
Às
vezes é mais fácil, mas menos cristão, esgrimir argumentos do
género,“nâo há nada a fazer”, "não vale a pena"; "parece que não estão
interessados". O que diria Cristo se ouvisse os seus seguidores falar
desta forma?! S. Paulo, o grande Apóstolo a quem a Igreja tanto deve.
encontrou muitíssimas dificuldades e adversidades e nunca desistiu,
convencido de que a ele competia-lhe, plantar, outro regaria, e Deus
faria frutificar. Mas se a semente não for lançada, como podemos esperar
que daí algo nasça?
Para
além destes aspectos, não esqueçamos tantos outros cheios de
virtualidades, pois estes acontecimentos proporcionam a congregação de
pessoas e comunidades, geram dinamismos de vitalidade e de
empreendedorismo, criam riqueza, fomentam a sã competição, preservam
tradições e expressões de identidade, que permanecem escondidas ao longo
do ano, semeiam a esperança, tão necessária nestes tempos em que a
palavra crise é omnipresente e omnipotente.
Padre Manuel António Guerreiro do Rosário
in Ecos de Grândola, nº 245, 14 de Setembro de 2012
in Ecos de Grândola, nº 245, 14 de Setembro de 2012