sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

A Lei e o Homem


Os escândalos que têm afectado pessoas com responsabilidade acrescida na sociedade portuguesa, e a resposta que tem sido dada, fez-me pensar na importância de não nos esquecermos que a lei deve estar ao serviço das pessoas, do bem comum da sociedade; mas deve também ter a capacidade de impor e punir quem não cumpre, sem distinção de classe, sexo, raça ou religião. Ninguém está acima da lei, seja quem for, e quanto maior for a responsabilidade, maior a obrigação de cumprir a lei, sob pena de se generalizar uma certa sensação de impunidade, de descrédito do Estado de Direito e das bases em que se apoia, dando assim origem a uma espécie de efeito "bola de neve”, de consequências imprevisíveis.

O Estado deve tratar de igual forma os cidadãos, mas também deve proporcionar as condições para se poderem defender, aqueles que não têm capacidade de o fazer por si próprios. Nas nossas sociedades, creio que merecem uma atenção e protecção especiais, entre muitos outros, as crianças e os idosos, e os exemplos disto mesmo entram-nos todos os dias em casa.

Ouvi há dias afirmar que as crianças em Portugal continuam a ser vítimas de muitas violências e discriminações. Não nos esqueçamos que elas serão os homens de amanhã, o futuro da sociedade, urge, por isso, pensar no tipo de protecção que garantimos a esta fase da vida humana, até porque, é já um lugar-comum dizer que Portugal tem uma população envelhecida, que faltam medidas concretas de apoio à natalidade e às famílias, e tal vez generosidade para acolher a vida.

Cada vida que nasce é um livro aberto, pronto a ser escrito ao longo da existência O destino não existe e o futuro é imprevisível! Por oposição, cada vida que não se deixa nascer é um projecto de capitulação, uma derrota. Penso até ser um contra-senso que os governos, até por razões puramente financeiras e de estabilidade das instituições, fomentem uma mentalidade que parece temer a vida, em vez de a acolherem, e apoiarem com esperança e desvelo. Quem sabe se a nossa geração não ficará na história por saber tanto sobre a vida humana, mas fazer tão pouco para a defender, nomeadamente a vida que não se pode defender?!

Por outro lado, todos os dias nos chegam também relatos de maus tratos, abandono, solidão, morte de idosos, descobertos depois de dias ou semanas de ausência do convívio normal. Devemos olhar de outra forma esta fase da vida, pois amanhã seremos nós a chegar lá e como diz o provérbio: - não faças aos outros o que não queres que te façam a ti'. Os lares e as instituições similares são muitas vezes a melhor solução, tendo em conta a situação real em que se encontram tantos idosos, mas é claro que estes não podem ser encarados como uma mera fonte de rendimento, como um peso, "uma coisa", tem de haver outros critérios mais humanos e fraternos, sob pena de continuarmos a consolidar as bases de uma sociedade pouco humana, fraterna e solidária.

Porque não gosto de ser pessimista nas análises que vou fazendo e transmitindo, creio que temos de encarar sempre o futuro com esperança, com confiança e com compromisso. Urge pôr as mãos à obra, porque o futuro e um futuro melhor, começa hoje e depende de cada um de nós.

Coragem. Vamos em frente!


Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Ecos de Grândola, nº 272, 12 de Dezembro de 2014