sexta-feira, 1 de maio de 2020

A humildade é a verdade


estes conturbados, complexos e desconcertantes tempos que a Humanidade atravessa, tem-me ocorrido uma frase de Santa Teresa de Ávila, carmelita espanhola, doutora e reformadora da Igreja, (Século XVI): “a humildade é a verdade”.

Como cristão sei que é verdade pois a fé torna-nos mais conscientes das nossas falhas, limitações e pecados: na relação com os outros, nossos irmãos; com este planeta, nossa “casa comum”; e com Deus, que em Jesus, o filho de Deus, nos adotou como filhos.

Ao olhar retrospetivamente para a História da humanidade, a ausência desta virtude bem pode incluir-se entre as causas de muitos males que nos têm afligido: guerras, doenças, mortes, injustiças. Sem humildade a “porta” fica facilmente aberta para o orgulho desenfreado; o egoísmo e individualismo atroz; a ânsia de poder e domínio despótico; o lucro desmedido; no fundo, a pretensão de ser deus e de tudo dispor a seu bel-prazer.

Estes males não são exclusivos da sociedade, a própria Igreja também tem incorrido neles, como o reconheceram os papas João Paulo II e, sobretudo, Francisco.

Perante as consequências da atual pandemia, a humildade pode também ser chave de leitura: das transformações que tivemos imperiosamente de introduzir na nossa vida; das alterações do modelo económico, com reflexos imediatos no equilíbrio ecológico; do despontar da solidariedade, que cresceu, se consolidou e globalizou, em gestos de consequências transversais.

Parafraseando Martin Luther King, eu também “tenho um sonho” para a humanidade, vencida esta crise pandémica: que o outro seja respeitado como pessoa igual a mim, fim em si próprio, não meio, nem mera matéria de descarte; que o desenvolvimento não se reduza a crescimento económico, cego e injusto, feito à custa do Homem; que desperte uma verdadeira ecologia, humana
e integral, que nos faça descobrir que somos uma única família humana.

Diz o poeta: “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”.

Mãos à obra.

Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, 01 de Maio de 2020