“Sem uma oportuna formação humana, toda a formação sacerdotal ficaria privada do seu necessário fundamento.” Assim começa o nº 43 da Exortação Apostólica Pastores Dabo Vobis, (PDV, 1992) do Santo Padre João Paulo II, sobre a formação dos Sacerdotes nas circunstâncias actuais.
Com efeito, a sabedoria milenar da Igreja levou-a a não desvalorizar a componente humana da formação dos candidatos ao Presbiterado, pois só assim poderão ser verdadeiros pastores, à imagem do Bom Pastor.
Recuemos, por breves instantes, ao Concílio Vaticano II (1962-1965), e fixemo-nos em dois dos seus documentos: o Decreto Optatam Totius (OT), sobre a Formação Sacerdotal, e o Decreto Presbyterorum Ordinis (PO), sobre o Ministério e a Vida dos resbíteros. Quanto ao OT, merece especial atenção, o nº 11. Escutemo-lo: “(…) Por meio duma formação bem ordenada, cultive-se também nos alunos a devida maturidade humana (…) (…) aprendam a estimar aquelas virtudes que são tidas em maior conta diante dos homens e recomendam o ministro de Cristo, como são a sinceridade, a preocupação constante da justiça, a fidelidade às promessas, a urbanidade no trato, a modéstia e caridade no falar.”
O Decreto PO, no nº 3 dá-nos também indicações preciosas: “Os presbíteros, tirados dentre os homens e constituídos a favor dos homens nas coisas que se referem a Deus, (…) Não poderiam ser ministros de Cristo se não fossem testemunhas e dispensadores duma vida diferente da terrena, e nem poderiam servir os homens se permanecessem alheios à sua A Estrutura Humana do Pastor vida e às suas situações. O seu próprio ministério exige, (…) que vivam neste mundo entre os homens e, como bons pastores, conheçam as suas ovelhas (…)
Para o conseguirem, muito importam as virtudes que justamente se apreciam no convívio humano, como são a bondade, a sinceridade, a fortaleza de alma e a constância, o cuidado assíduo da justiça, a delicadeza (…). Vale a pena reler também o Directório para o Ministério e a Vida dos Presbíteros, da Congregação para o Clero (1994), nomeadamente o Capítulo III, que tem como tema a Formação Permanente, e no qual, a formação humana merece alguma centralidade.
Pela sua importância, porém, proponho que voltemos à Exortação PDV. O nº 43, com o qual iniciei este texto, aprofunda ainda a afirmação do início, insistindo em que o pastor, ao ser “chamado a ser “imagem viva de Jesus Cristo Cabeça e Pastor da Igreja, ele deve procurar reflectir em si mesmo, (…) aquela perfeição humana que resplandece no Filho de Deus feito homem e que transparece com particular eficácia nas suas atitudes com os outros (…).” O pastor deve ser, por isso, ser “ponte e não obstáculo para os outros, no encontro com Jesus Cristo Redentor do homem.”
Ainda o mesmo nº 43, reforça a convicção de que importa “cultivar uma série de qualidades humanas necessárias à construção de personalidades equilibradas, fortes e livres (…). É precisa, pois, a educação para o amor à verdade, a lealdade, o respeito por cada pessoa, o sentido da justiça, a fidelidade à palavra dada, a verdadeira compaixão, a coerência, e, particularmente, para o equilíbrio de juízos e comportamentos.” É também muito importante “a capacidade de relacionamento com os outros, elemento verdadeiramente essencial para quem é chamado a ser responsável por uma comunidade e a ser “homem de comunhão”. Isto exige que o sacerdote não seja arrogante nem briguento mas afável, hospitaleiro, sincero nas palavras e no coração, prudente e discreto, generoso e disponível para o serviço, capaz de oferecer pessoalmente e de suscitar em todos relações francas e fraternas, pronto a compreender, perdoar e consolar (cf. também 1 Tim 3, 1-5; Tit 1, 7-9)”.
O nº 44 centra a sua preocupação na “maturidade afectiva”, a qual supõe “a consciência do lugar central do amor na existência humana. (…) Para a compreensão e realização desta, torna-se urgente “uma educação para a sexualidade (…)” Isto supõe, continua o nº 44, “uma formação clara e sólida para a liberdade”, de modo que a pessoa “seja verdadeiramente dona de si mesma, decidida a combater e a superar as diversas formas de egoísmo e de individualismo, que atacam a vida de cada um, pronta a abrir-se aos outros, generosa na dedicação e no serviço do próximo.” Ligada com esta formação para “a liberdade responsável, está a educação da consciência moral.”
Como já vai longo este artigo, convido os nossos leitores a que, se o desejarem, leiam os Documentos citados, rezem por nós e nos ajudem a sermos melhores pastores, para bem da Igreja e do Mundo.
Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário