A igualdade essencial de todos os seres humanos, deveria ser um dado indiscutível e universalmente assumido; contudo, por este acontecimento e por uma infindável cadeia de outros, ele é desmentido todos os dias, em Portugal e no mundo.
Os exemplos são tantos, que poderiam dar origem a muitos livros, de conteúdo inesgotável. Olhemos para a nossa “casa comum” e encontraremos um corrupio de situações que confirmam o que acabo de afirmar: o gravíssimo problema de dezenas de milhões de refugiados, que, em fluxos inestancáveis, partem em demanda de um futuro melhor; as doenças que continuam a ceifar anualmente milhares de vidas humanas nos continentes mais fragilizados; as guerras que sem serem notícia, como as do Iémen, Síria, Chade, República Centro Africana, Moçambique ou Ucrânia, continuam impiedosa e sistematicamente a ceifar vidas humanas, destruindo a esperança, alargando o fosso entre ricos e pobres, espezinhando a vida humana tratada como material descartável, como nos recorda o Papa Francisco. Se olharmos para o nosso País, como ficar insensível perante o aumento do número de pobres, segundo os parâmetros definidos pela UE e por outras instâncias internacionais?
Urge, pois, estarmos mais atentos e sermos mais consequentes, trabalhando para instaurar uma autêntica cultura humanista, que não seja mera questão de retórica, moda, ou oportunismo, mas sim o sinal indiscutível de uma verdadeira preocupação pelo outro, que é igual a mim, que tem a mesma dignidade que eu tenho e deve ser defendido, se não for capaz de o fazer por si próprio. O Homem, cada Homem e todo o Homem, deve ser o centro, sempre um fim em si próprio e nunca meio, com uma dignidade reconhecida universalmente, que não depende da raça, da cor da pele, do sexo ou da religião.
Cada vida, todas as vidas importam.
Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, 17 de Julho de 2020