quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Igreja: manutenção ou evangelização?


Ao celebrar o Dia de S. João Maria Vianney, o Santo Cura d´Ars, recordei com saudade uma sua biografia que li há anos e que calou bem fundo dentro de mim. Como foi possível que um só homem transformasse uma minúscula e desconhecida aldeia francesa, num local de peregrinação de multidões e de conversão para tantos?

Não é por acaso que a Igreja no-lo apresenta como modelo e padroeiro dos Sacerdotes. Este extraordinário pastor viveu como sua a mensagem de Jesus, onde Ele afirma que o bom pastor é aquele que: “deixa as 99 ovelhas no aprisco para ir procurar a que se transviou” (cf. Lc 15, 3-7).

A este propósito, dizia há anos o meu amigo Reinaldo Ferreira, (infelizmente já falecido): “no Alentejo (em Beja, entenda-se) sucede o contrário. Temos mais de 90 “ovelhas” (93, 94, 95, 96) fora do redil e só as outras (poucas) dentro”. E que fazemos? Vamos procurá-las? Acomodamo-nos e deixamo-las tranquilas?

O testemunho extraordinário de S. João Maria Vianney, lembra-nos que a evangelização é a missão essencial da Igreja, de cada comunidade cristã e de cada cristão, a começar pelos pastores. Se a nossa pastoral não for verdadeiramente evangelizadora, mas nos limitarmos a manter os poucos fiéis, que futuro terá a Igreja?

Segundo os dados preliminares dos Censos 2021, o Alentejo foi das regiões do país que mais população perdeu, uma zona já de si envelhecida, na qual a taxa de natalidade é das mais baixas de Portugal e da Europa, com os mais jovens a não encontrarem aqui incentivos para se fixarem e constituírem família. Creio que temos de nos sentar e analisar com preocupação estes dados.

A Jornada Mundial da Juventude de 2023 pode constituir uma excelente ocasião para apostarmos decididamente nos jovens e numa pastoral que lhes dê lugar e na qual eles possam ser verdadeiros protagonistas.

O Biénio Vocacional assumido pelas três Dioceses da Província Eclesiástica de Évora (Évora, Beja e Algarve), pode igualmente ser ocasião para uma viragem nas opções vocacionais que têm sido feitas. Não nos esqueçamos das palavras do Evangelho: “pelos frutos se conhece a árvore” (cf. Mt 7, 15-20).

Para além da Juventude e das Vocações, penso que a Pastoral geral, numa Diocese com as características de Beja, não pode ser descontextualizada, aculturada, carente de vigor evangélico e de horizontes, sob pena de, com o passar do tempo, ficarmos com mais lugares vagos nos bancos nas nossas Igrejas.

A autêntica pastoral deve, pois, supor o conhecimento da realidade e da especificidade de cada região e das suas populações, para poder encontrar e propor novos caminhos de anúncio do Evangelho, como força renovadora e transformadora. A Encarnação e a Inculturação são regras essenciais da Pastoral.

No caso do Alentejo é preciso dedicar gente, tempo e recursos à procura de respostas que nos ajudem a compreender o porquê do afastamento de tanta gente da Igreja, pois nem sempre foi assim. Basta conhecer um pouco da nossa História, olhar para o nosso Património e para as nossas Tradições, para se perceber que o Evangelho já penetrou profundamente as raízes do povo alentejano e é preciso não fazer tábua rasa desse facto. Não confundamos Evangelização Ad Gentes com Nova Evangelização!

Voltando ao tema do último artigo que escrevi, sobre a conversão, creio ser oportuno afirmar que a verdadeira conversão exige a mudança dos corações e só depois das estruturas. Como dirá Jesus: “vinho novo em odres novos…” (cf. Mt 9, 14-17). Se não nos convertermos, de facto, e não nos tornarmos verdadeiros discípulos de Cristo, renovados e conduzidos pelo Espírito Santo, dificilmente seremos agentes de uma pastoral missionária e evangelizadora.

Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário