Humanidade do século XXI está a escrever um dos seus piores capítulos, fruto da pandemia que se abateu sobre nós, e inundou o nosso quotidiano de incertezas, medos, provações e expectativas.
Pela sua omnipresença no universo informativo, é fácil concluir que ela fez emergir e agravou significativamente contradições e desigualdades do nosso mundo, e dos mundos que nele subsistem, pois, apesar das ondas de choque deste ‘tsunami’ atingirem todas as latitudes e longitudes, são sem dúvida os mais frágeis, pequenos e pobres, quem mais sofre. Infelizmente, são também estes que, na hora em que surgem as primeiras respostas, correm o risco de perder o comboio, por falta de recursos para a adquisição das vacinas e demais tratamentos, e de púlpitos onde a sua voz se faça ouvir.
Há, porém, sinais positivos que gostaria de assinalar:
1.º A mobilização, sem precedentes, de pessoas e recursos, num esforço ciclópico de investigação científica, sinal de que, para problemas globais, exigem-se e são possíveis, respostas globais;
2.º O alívio da pressão sobre o planeta azul, que parece ter voltado a respirar plenamente, depois de décadas de ofegante e voraz poluição, conduzida por uma ânsia descontrolada de ter e dominar;
3.º A generalização de gestos de profunda humanidade e solidariedade, bem reveladores daquilo que o ser humano é capaz, se, exercendo firmemente o discernimento, não se render ao mal.
A pandemia parece ter criado em nós uma maior consciência de interdependência: somos uma só família humana, que habita a mesma e única casa comum. Ela pode também constituir uma autêntica oportunidade para abandonarmos egoísmos, individualismos e nacionalismos, que só contribuem para abrir feridas, agudizar conflitos e empurrar a Humanidade para uma espécie de “terceira guerra mundial, aos pedaços”, como diz o Papa Francisco.
Há razões para continuar a acreditar no Homem, e na sua capacidade de se superar e de construir um amanhã melhor!
Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, 05 de Fevereiro de 2021