s virtudes cardeais são quatro: justiça; prudência; fortaleza e temperança. Elas não são uma especificidade do cristianismo, pois, alguns séculos antes de Cristo, na Grécia, já eram objeto de reflexão, e se acreditava serem fundamentais na estruturação do Homem. Aristóteles foi um desses grandes filósofos que nos legaram este riquíssimo património, que continua bem válido para o Homem pós-moderno.
“Faz todo o sentido acolher ainda uma das chaves do pensamento do Papa Francisco: o discernimento. Ele é fundamental para não sermos ludibriados com retóricas demagógicas e belos discursos”.
Para não me desviar do objetivo deste texto, espraiando-me em generalidades, vou centrar-me apenas nas virtudes da prudência e da temperança, as quais considero cruciais na prevenção dos fundamentalismos que grassam no mundo hodierno, quer vistam roupagem religiosa, política, social, filosófica, ou outra.
Na verdade, os fundamentalistas tendem, no geral, a assumir a parte pelo todo, exacerbando algum aspeto particular, omitindo ou desvalorizando outros; sobrevalorizam a subjetividade em detrimento da objetividade; confundem unidade com unicidade, esquecendo que a vida é multicolor; rotulam e adjetivam os que discordam deles e pensam diferente, marginalizando-os e procurando por todos os meios (pois os fins justificam) impor-lhes a sua perspetiva.
As virtudes podem, pois, funcionar como antídoto, enquanto terreno sólido e fértil, a partir do qual é possível, refletir, projetar, propor, com equilíbrio, esperança e alguma utopia. Apostar nelas significa também reconhecer o protagonismo do Homem, colocando-o no centro, e acreditando nele, no seu engenho e potencialidades, enquanto ator de um futuro melhor.
Não querendo parecer simplista, creio que faz todo o sentido acolher ainda uma das chaves do pensamento do Papa Francisco: o discernimento. Ele é fundamental para não sermos ludibriados com retóricas demagógicas e belos discursos, tantas vezes vazios de autênticas ideias e de propostas realistas e exequíveis. O discernimento é uma postura existencial adulta, crítica e exigente de quem quer viver na verdade e em liberdade.