uma verdade inegável, a grande facilidade e rapidez com que hoje acedemos à informação, qualquer que ela seja, nomeadamente sobre esta casa comum e a família que nela habita. Podemos, contudo, interrogar-nos se esta riqueza indiscutível, se reflete numa mais efetiva solidariedade entre povos e nações, ou entre simples cidadãos.
A solidariedade é, com efeito, uma virtude que importa cultivar com clareza, simplicidade e perseverança, expurgando-a das tentações que a podem perverter e desvirtuar, para que ela possa emergir em toda a sua grandeza e beleza.
Ela não tem cor nem credo; não é ideologia, nem demagogia; não é proselitista, nem interesseira; não é bandeira para certas ocasiões, nem talismã para dar sorte; não é apanágio de algumas profissões, ou exclusividade de alguns partidos políticos; não dá empregos, nem faz subir de ‘status’.
A autêntica solidariedade é antídoto contra o egoísmo e o individualismo; é desinteressada e considera o outro como fim e não como meio; é convite ao desprendimento e ao serviço do próximo; é apelo ao descentramento de si próprio e à centralidade do outro; é manifestação de plena liberdade e de respeito pelo outro.
Ao olhar para o mundo que nos entra casa dentro, em mil imagens e intensidades estonteantes, numa profusão de pretensos gestos solidários, sinto tantas vezes um vazio desconcertante, porque a verdadeira solidariedade impõe-se por si própria e oculta-se discretamente, tantas vezes, na simplicidade dos gestos anónimos, mas autenticamente fecundos.
Creio que necessitamos de uma verdadeira revolução cultural que seja, efetivamente, fértil em valores, nomeadamente daqueles que, como a solidariedade, nos despertem e exortem a estarmos mais atentos ao outro, sobretudo, ao pobre, indefeso e pequeno, quer ele viva ao nosso lado, ou noutro continente.
O nosso tempo precisa ainda de pessoas que não tenham orgulho em ser solidárias, mas, simplesmente sejam solidárias!
Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, 04 de Junho de 2021