quinta-feira, 18 de abril de 2013

Papa Francisco, sinal de Deus para os nossos tempos


A eleição do Papa Francisco teria de ser o tema deste meu artigo, até porque o último foi dedicado ao seu predecessor, Bento XVI.A actualidade deste acontecimento despertou em mim, desde a primeira hora, o desejo de escrever algumas palavras sobre este homem extraordinário, oriundo "do fim do mundo".

Como cristãos acreditamos que cada Papa é sempre um sinal de Deus para o seu tempo. Por ele devemos rezar, e acolher com filial obediência as suas orientações, independentemente das leituras que possam ser feitas sobre a forma como decorreu a eleição, os critérios apontados para a escolha, as questões que estão em jogo, etc. A Igreja não é uma ONG, nem se rege por jogos de influências, ou por estratégias de controlo, conquista, ou de promoção e, se alguém pensa que sim, mesmo que seja cristão e/ou membro do clero, então, decerto, enganou-se no caminho.

Para não irmos mais longe, basta recuar até ao século XX e fazer um percurso através dos últimos Papas, para perceber que todos foram providenciais e um sinal de Deus para a Igreja e para o Mundo do seu tempo, concordemos ou não com todos os aspectos do seu pontificado .

O Papa Francisco enriquecerá o ministério do sucessor de Pedro com aquelas características que, quem o conhece, atesta serem já as do Cardeal Jorge Mário Bergoglio, enquanto Arcebispo de Buenos Aires. Não adianta tentar enquadrá-lo neste ou naquele esquema, sector, ou grupo, a Igreja, como alguém afirmou, não deve olhar nem para a esquerda, nem para a direita, mas sempre para o alto, para Deus, e também para os irmãos, sobretudo os mais pobres e desfavorecidos, como Cristo. Para os observadores menos atentos, lembro que desde 1979, na Conferência de Puebla (México), o CELAM (organismo que agrupa todas as Igrejas da América Latina e seus Bispos) propôs a toda a Igreja, a "opção preferencial pelos pobres", a qual, como o próprio nome indica não é exclusiva, nem excludente. Ninguém pode ficar fora da preocupação da Igreja, pois, como afirmou o Papa João Paulo li, na Encíclica Redentor do Homem, "o Homem é a via principal da Igreja", e este homem é o homem "real, concreto, histórico". Nele estão presentes todos os homens do nosso tempo, onde quer que vivam, e qualquer que seja a sua língua, cultura, raça ou cor da pele. Cristo veio para todos, pelo que, a Igreja deve ter também como objectivo central da sua acção, levar a todos os homens a Boa Nova de salvação que Cristo trouxe e lhe confiou.

O Papa Francisco, homem simples e humilde, mas sábio e firme da defesa do homem, da sua dignidade e valores, é o Papa que a Igreja tem necessidade para continuar a sua renovação, na fidelidade ao Concilio Vaticano li, e ser um sinal de esperança para um Mundo que anseia por profetas que apontem caminhos novos, e mostrem ser possível edificar neste Planeta Terra uma "Casa Comum" mais justa e equitativa, mais fraterna e solidária. O Papa Francisco é oriundo de um Continente e de uma Igreja que, por força da sua própria identidade, enriquece a Igreja Católica com uma nova perspectiva da universalidade, não necessariamente eurocêntrica, a qual deve ser acolhida na alegria e na esperança.

A Catolicidade da Igreja expressa-se também na sua expansão por todos os Continentes, pelo que, é perfeitamente normal que amanhã tenhamos um Papa oriundo da África, da Ásia, da Oceânia, ou da América do Norte.

Bem vindo Papa Francisco. Um fecundo ministério.

Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Ecos de Grândola, nº 252, 12 de Abril de 2013