domingo, 9 de fevereiro de 2020

A maior riqueza são as pessoas


sta frase, que, de vez em quando, me visita e faz pensar, faz parte de um estudo que li há anos sobre países desenvolvidos que fizeram apostas claras na educação e na formação. Entre os países mencionados recordo dois: Japão e Coreia do Sul. O primeiro, dotado de poucas matérias-primas, mas com uma capacidade impressionante de transformar o que importava; o segundo tornou-se uma democracia exemplar e uma grande potência económica, depois de uma guerra fratricida e de uma ditadura. Tive colegas coreanos nos estudos e confirmo a sua grande preparação cultural, seriedade, empenho na aprendizagem de línguas e no conhecimento de novos povos e culturas.

Outra nota importante no historial destes países é que as mudanças operadas foram fruto de opções de médio e longo prazo, de muito esforço, perseverança e sacrifícios. Os resultados eram impressionantes, mas não imediatos. O imediatismo é, aliás, uma das ilusões dos tempos hodiernos, com exemplos abundantes no nosso quotidiano: queremos tudo já, ou melhor, ontem.

Os bons exemplos devem ser seguidos, mas não transpostos acriticamente, como é óbvio. Creio que em Portugal e no nosso Alentejo urge uma resposta decidida, transversal, que enfrente uma questão fundamental, que continua a ser tabu: a demografia. Sem famílias, sem crianças, não há futuro. Basta ler as páginas do “Diário do Alentejo” para perceber as consequências do envelhecimento acelerado da população, da elevadíssima taxa de mortalidade e de uma natalidade negativa. É preciso ter a coragem de mudar políticas e mentalidades, e ver nos filhos, nas pessoas em geral e na sua formação, a maior riqueza de qualquer povo, mesmo que não haja matérias-primas, o que até não é o caso.

Por outro lado, é preciso também políticas que ajudem a fixar os mais jovens neste vastíssimo e promissor território, desafiando-os a tornarem-se protagonistas de um desenvolvimento, que coloque o acento nas pessoas.

Mudemos de paradigma. Abandonemos as lamentações estéreis.

Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, 29 de Novembro de 2019