quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Um encontro com Madre Teresa de Calcutá mudou a vida de «O último sobrevivente»

O conhecido aventureiro de televisão confessa que a fé «é a sua coluna vertebral» e a «ligação da sua família». Um grave acidente e a Madre Teresa lhe mudaram a vida.

Actualizado 29 Novembro 2012

Javier Lozano / ReL

Bear Grylls é um sobrevivente. Conhecido em todo o mundo pel0s seus famosos programas de televisão nos quais sobreviveu a duras experiências no deserto, na selva ou no Árctico, este britânico reconhece que não seria nada sem a sua fé. De facto, o seu exemplo a seguir é o de outra aventureira, mas muito diferente dele: a Madre Teresa de Calcutá.

Conhecido por ser o protagonista de ‘O último sobrevivente” em canais como Discovery Channel ou Cuatro, anteriormente foi membro das forças especiais do Reino Unido e é uma das pessoas mais jovens que conseguiu escalar o Everest. Sem dúvida, longe de vangloriar-se por todos os seus êxitos, Grylls diz apostar pelas coisas mais simples: “a minha fé, a minha família, os meus filhos”.

“A fé foi uma força silenciosa nas minhas aventuras”
Este aventureiro, que partiu as costas num salto em paraquedas, assegura que as suas experiências na natureza e no Exército lhe demonstraram que um homem orgulhoso nunca dirá que necessita de ajuda mas “eu já não tenho medo de admitir que sim necessito de ajuda”. É por ele pelo que afirma que “a minha fé cristã foi uma grande força silenciosa e uma sólida coluna vertebral através destas aventuras”.

Apesar de que sempre ter acreditado em Deus, Bear Grylls tem sempre muito presente um acontecimento que realmente mudou a sua vida e a sua percepção das coisas. Acostumado a ver o mais espectacular da terra se deu conta de que a verdadeira força está no aparentemente mais débil.

O acontecimento que mudou a sua vida
Fala da beata Teresa de Calcutá. “Quando visitei o seu lugar de trabalho em Calcutá me comoveu de sobremaneira ver uma senhora tão pequena que pudera irradiar tanto amor numa cidade com tantas penúrias”, assegura.

“Me demonstrou que o que realmente importa são as relações com as pessoas” e o que uma pessoa recebe quanto mais se dá a outra. “A sua cara era a luz personificada e nenhuma quantidade de dinheiro pode comprar essa luz”, relatava a Catholic Digest Magazine.

Grylls sente uma relação muito próxima com Deus e o vê em todas as actividades que realiza por todo o mundo. “Se trata de ser capaz de escalar as maiores montanhas do mundo junto com a pessoa que as criou”.

O Anjo que apareceu na embarcação
Nas suas aventuras a bordo do impossível afirma ter muitos momentos de oração. Mas há um que recorda de maneira especial. Durante uma expedição deviam atravessar num bote insuflável o Oceano Árctico. Um grande vendaval com chuva, vento, granizo, ondas gigantes lhes saiu ao caminho enquanto caiam em seu redor grandes blocos de gelo. “Realmente deveríamos ter morrido”, admite Grylls, que acrescenta que “durante a noite, Nige um membro da equipa e que não era crente, viu um Anjo sentado na parte dianteira da embarcação”. Apesar das terríveis condições que sofreram durante dois dias chegaram ao seu destino a salvo e dando graças pelo dom da vida. “Nige encontrou uma fé maravilhosa depois desse acontecimento”.

Esta conhecida personagem televisiva não se envergonha publicamente da sua fé, pelo contrário, sempre que pode a define como sua “coluna vertebral”. “Quando era criança nunca questionei a Deus. Eu só sabia que Deus existia e que era meu amigo”. Sem dúvida, reconhece que nem sempre lhe foi tão fácil crer como quando era uma criança.

Seguidor dos cursos Alpha
“Recordo haver tido um momento em que alguns bons amigos me viraram as costas de uma maneira muito desagradável”, recorda. Só lhe restava uma solução: una noite rezou e disse a Deus, “se és como eu te conhecia em criança, serias de novo esse amigo Não foi mais complicado que isso. Na realidade, o mais surpreendente é que tudo o que Deus nos pede é que lhe abramos a porta e Ele fará o resto”.

Apesar desta aparente fé infantil, Bear Grylls não deixou de procurar resposta às suas perguntas e de tentar ter uma fé madura. Por ele, é um grande partidário dos cursos Alpha, palestras de dez semanas de duração nas quais se aprofundam distintos aspectos da fé e que tem milhões de seguidores por todo o mundo. Nestes cursos respondem-se a perguntas tais como qual é o papel da Igreja, como nos guia Deus ou porquê e como rezar, entre outras…

Na sua experiência este intrépido aventureiro confessa que “eu vi como Alpha tocou a muitas pessoas” e “eu vi muitas pessoas encontrar uma fé simples através deles e quero recomendá-lo porque me ajudou muito”.

“Só Deus nos ama”
No seu entender, “às vezes é difícil crer, realmente crer, que Deus se preocupa e quer coisas boas para nós (…) que na realidade Ele só nos ama e que só quer que estejamos com Ele”.

Porque as pessoas se afastam da fé? As pessoas procuram a felicidade mas não sabem onde. “Todavia não conheci ninguém que não queira ser perdoado ou encontrar a paz e a alegria na sua vida. Tentam muitas coisas e pensam que as mulheres ou o álcool ou o quer que seja lhes vai preencher, mas não os preenche” porque só Deus dá essa plenitude na vida.

"A ligação que nos mantém unidos"
Esta fé que tanto lhe ajudou no seu trabalho também o fez na sua família. Bear está casado e tem três filhos. Assegura que a fé “é a ligação que nos mantém unidos através de muitas lutas que a vida nos lança”. “A fé nos sustentou”, afirma com sinceridade. “Levamos casados mais de dez anos e olhando para trás penso que seria muito difícil que estivéssemos juntos se não fosse pela fé”.

É por isto pelo que acrescenta que “os dois perdemos os nossos pais quando nos casámos e o apoiarmo-nos na nossa fé nos uniu mais. Rezamos com os nossos filhos e eles oram por nós e é um grande vínculo o que nos une”. “Encanta-me a minha família, a minha fé, os meus filhos”, disse orgulhoso este aventureiro de nascimento.


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domingo, 25 de novembro de 2012

O boi e a mula estão mencionados no Evangelho Apócrifo do Pseudomateo

A raiz de alguns extractos de "La infancia de Jesús" (Planeta)

CEU, 22 de Novembro de 2012 às 13:18

O Papa reza ante a manjedoura

 
Os textos apócrifos são uma fonte fundamental para a arte cristã

(CEU).- Em relação a alguns dos extractos do último livro de Bento XVI que se foram divulgados, a professora de História da Arte da Universidade CEU São Paulo, Sirga de la Pisa, recorda que "Os Evangelhos são breves ao narrar a realidade histórica do nascimento de Jesus, pelo que a tradição acrescenta informação que complementa desde um ponto de vista humano o momento do nascimento do Menino em Belém". 

Assim, assinala que "o boi e a mula estão mencionados no Evangelho Apócrifo do Pseudomateo, texto não considerado canónico pela Igreja, escrito no século VII por um autor desconhecido". Relaciona-o com a profecia de Isaías (1, 3) ‘o boi reconhece o seu dono e o burro a manjedoura do seu amo: mas Israel não me reconhece, e o meu povo não entende a minha voz'. Alude assim ao humilde e pobre nascimento do Filho de Deus ignorado por quase todos.

A professora de la Pisa recorda que os textos apócrifos "não pretendem ser históricos mas sim que respondem à curiosidade popular que queria conhecer a vida quotidiana da Sagrada Família em todos os seus detalhes. São portanto uma fonte fundamental para a arte cristã e de facto determinam a imagem que todos temos na nossa mente do Nascimento de Jesus de Nazaré". 

Além disso o boi e a mula segundo uma "interpretação simples e humana" dariam calor ao pobre lugar onde teve lugar o parto de Maria. "Em algumas pinturas inclusive se pode ver o bafo da respiração dos animais colocados próximo do Menino", acrescenta. 

De la Pisa assinala que "na arte posterior ao Concilio de Trento (1545-1563) tenta-se evitar os detalhes procedentes dos apócrifos por considerar-se não fidedignos ainda que a tradição continue procurando esta informação até hoje em dia". 

Além disso no caso do boi e a mula, a professora de História da Arte da Universidade CEU São Paulo recorda que o número dos magos do Oriente apresenta a mesma situação quanto à sua origem. "Os Evangelhos não mencionam quantos eram pelo que a iconografia apresenta diferentes versões até que se associa com o número de presentes que estão mencionados na Bíblia. O ouro, incenso e mirra determinam finalmente quantos magos visitaram o Menino em Belém e aludem respectivamente à realeza de Cristo, à sua divindade e à sua morte na Cruz, já que a mirra se usava para embalsamar. São exemplos da função da arte cristã que nos mostram Jesus de Nazaré, o Filho de Deus feito homem".


Os 7 passos para a evangelização integral, segundo Xavier Morlans

Expostos no Congresso da Fé da Diocese de Albacete, insistindo no anúncio explícito de Cristo e nos itinerários de reiniciação na fé.

Actualizado 24 Novembro 2012

ReL

O bispo de Albacete, Ciriaco Benavente Mateos inaugurou em 23 de Novembro o Congresso da Fé “Creio, Senhor”. Nele falou monsenhor Xavier Morlans, professor de Teologia Fundamental da Faculdade de Teologia da Catalunha e consultor do Conselho Pontifício para a Nova Evangelização.

Morlans insistiu em que “a primeira tarefa que temos neste Ano da Fé é evangelizar com o primeiro anúncio da comunidade cristã: o anúncio explícito de Jesus Cristo, que crucificado e ressuscitado, mediador da comunhão com Deus, te oferece a Salvação e a Vida em plenitude, para suscitar a abertura do coração a Ele, na pessoa que recebe o anúncio".

Morlans assinalou que o primeiro anúncio e a colocação em marcha de itinerários de reiniciação cristã são métodos para a nova evangelização. Também detalhou que “a cultura do relativismo a temos em casa, e nos está levando a abordar, em primeiro lugar, um necessário processo de auto-evangelização, porque os protagonistas da nova evangelização são os fiéis laicos acompanhados dos presbíteros”.

Os 7 elementos
Xavier Morlans explicou que são sete os elementos imprescindíveis para um processo de evangelização integral:

  1. a presença encarnada no mundo e testemunho de vida dos cristãos como algo fundamental;
  2. diálogo acolhedor com longínquos e afastados da fé, falando de Jesus com naturalidade junto com a manifestação das razões para crer;
  3. anúncio explícito de Jesus Cristo;
  4. processo da iniciação cristã que inclui a catequese sistemática e a (re)-introdução mistagógica à vida sacramental;
  5. entrada na comunidade ou renovação do sentido de pertença a ela;
  6. isso levará a formas de apostolado organizado;
  7. e como consequência de todo o anterior, a renovação da humanidade, comprometidos com os homens de boa vontade para que não cresça a maldade e a injustiça nas estruturas humanas.

O Congresso da Fé “Creio, Senhor” é organizado pela Delegação Diocesana de Apostolado Secular de Albacete e pode seguir-se em www.diocesisalbacete.org . 


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sexta-feira, 23 de novembro de 2012

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O artista conserva e testemunha a beleza da fé


Mensagem de Bento XVI ao cardeal Ravasi, na XVII Sessão Pública das Pontifícias Academias
 
Salvatore Cernuzio


VATICANO, quinta-feira, 22 de Novembro de 2012 (ZENIT.org) - Arte e Fé, um diálogo sempre vivo e nunca interrompido: a Mensagem do Concílio aos Artistas já resumia a relação da Igreja do século XX com as artes, através da acção de Paulo VI. E o beato João Paulo II escreveu uma Carta aos Artistas no Grande Jubileu do ano 2000 para reavivar essa parceria.

"O artista é testemunha da beleza da fé", observou Bento XVI, atento a esta longa tradição, em sua mensagem para a XVII Sessão Pública das Pontifícias Academias, dirigindo-se ao cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Pontifício Conselho para a Cultura.


A sessão se realizou na tarde de ontem, 21, na Aula Magna de São Pio X, com o tema "Pulchritudinis fidei testis: o artista, como a Igreja, testemunha a beleza da fé", título que recorda as palavras de abertura do motu proprio com que o Santo Padre recentemente unificou a Comissão Pontifícia para os Bens Culturais da Igreja com o Dicastério da Cultura.


Com esta temática, Bento XVI explicou que a XVII Sessão Pública faz parte do Ano da Fé, cujo objectivo é "repropor a todos os fiéis o poder e a beleza da fé", grande aspiração do concílio Vaticano II.


O mesmo apelo havia animado o encontro do papa com uma grande representação de artistas na Capela Sistina, em 21 de Novembro de 2009. Na ocasião, como o próprio papa recordou, "eu lhes fiz um intenso apelo para redescobrirem a alegria da reflexão conjunta e de uma acção concorde, a fim de recolocar a beleza no centro das atenções".


"A beleza deveria voltar a se reafirmar e se manifestar em todas as formas de expressão artística, mas sem prescindir da experiência da fé. Pelo contrário, deveria olhar para ela livre e abertamente, a fim de tirar dela inspiração e conteúdo".


"A beleza da fé nunca pode ser obstáculo para a criação da beleza artística, uma vez que constitui, de certa forma, a sua alma e horizonte final".


Citando ainda a mensagem conciliar, Bento XVI recordou que "o verdadeiro artista, graças à sua sensibilidade estética particular e à sua intuição, pode captar e aceitar mais profundamente do que os outros a beleza própria da fé, e assim expressá-la e comunicá-la com a sua própria linguagem".


O artista pode ser definido, portanto, como "guardião da beleza do mundo" e, por conseguinte, como testemunha da beleza da fé. "Ele pode participar da mesma vocação e missão da Igreja, especialmente se, nas diferentes formas de arte, quiser ou for chamado a realizar obras de arte directamente relacionadas com a experiência da fé e do culto, com a acção litúrgica da Igreja".


A este respeito, o papa citou um ensaio escrito em 1931 pelo jovem padre Giovanni Battista Montini para a primeira edição da revista Arte Sacra, em que o futuro papa Paulo VI exortava quem lidasse com a arte sacra a se sentir chamado a "expressar o inefável", iniciando-se na mística, a fim de "atingir, com a experiência dos sentidos, algum reverberar, algum pulsar da Luz invisível".


Em seguida, ao tratar da figura do cristão, Montini escreveu: "Vemos também como e onde nasce a arte sacra verdadeira: do artista devoto, orante, desejoso, que vela no silêncio e na bondade, à espera do seu Pentecostes".


A mensagem de Bento XVI terminou com um convite a todos os artistas cristãos, no início do Ano da Fé, a "trilharem o caminho traçado com nitidez por Paulo VI e a garantirem que a sua carreira artística se torne um itinerário completo, em que todas as dimensões da vida humana estejam envolvidas, de modo a eficazmente testemunhar a beleza da fé em Jesus Cristo, imagem da glória de Deus que ilumina a história da humanidade".


Após as nomeações do presidente, do secretário e dos académicos da recém-criada Pontifícia Academia Latinitas, foi entregue também o Prêmio das Pontifícias Academias, dedicado neste ano às artes, em particular à pintura e à escultura.


Foram galardoados a escultora polonesa Anna Gulak e o pintor espanhol David Ribes Lopez. O jovem escultor italiano Jacopo Cardillo recebeu como sinal de apreço e incentivo do Santo Padre a Medalha do Pontificado.


(Trad.ZENIT)

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Ano da fé: a racionalidade da fé em Deus

Bento XVI continua suas reflexões sobre o Ano da Fé na Audiência Geral

CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 21 de Novembro de 2012 (ZENIT.org) - Apresentamos as palavras de Bento XVI durante a catequese realizada na tradicional Audiência Geral na sala Paulo VI, no Vaticano.

Queridos irmãos e irmãs,

Continuamos avançando neste Ano da Fé carregando no coração a esperança de redescobrir a grande alegria que existe no acto de acreditar, bem como a esperança de reencontrar o entusiasmo para comunicar a todos as verdades da fé. Verdades que não são uma simples mensagem sobre Deus, uma informação a seu respeito. Verdades que expressam o evento do encontro de Deus com os homens, encontro salvífico e libertador, que realiza as aspirações mais profundas do homem, o seu anseio de paz, fraternidade e amor.

A fé nos leva a descobrir que o encontro com Deus melhora, aperfeiçoa e eleva o que há de verdadeiro, de bom e de belo no homem. Acontece, portanto, que, enquanto Deus se revela e se deixa conhecer, o homem vem a saber quem é Deus e, conhecendo-o, descobre a si mesmo, a sua origem, seu destino, a grandeza e a dignidade da vida humana.

A fé permite um conhecimento autêntico de Deus, que envolve toda a pessoa: é um saber no sentido latino de "sàpere" [degustar], um conhecimento que dá “sabor” à vida, um novo sabor de existir, uma maneira alegre de estar no mundo. A fé se exprime no dom de si mesmo aos outros, na fraternidade que nos torna solidários, capazes de amar, vencedores da solidão que nos deixa tristes.

Esse conhecimento de Deus através da fé não é, portanto, só intelectual, mas vital.

É o conhecimento do Deus-Amor, graças ao seu próprio amor. O amor de Deus nos mostra, nos abre os olhos, nos permite conhecer toda a realidade, indo além das perspectivas estreitas do individualismo e do subjectivismo, que desorientam as consciências. O conhecimento de Deus é uma experiência de fé, que implica, ao mesmo tempo, um caminho intelectual e moral: profundamente tocados pela presença do Espírito de Jesus em nós, superamos os horizontes do nosso egoísmo e nos abrimos para os verdadeiros valores da existência.

Hoje, nesta catequese, quero focar na razoabilidade da fé em Deus.

A tradição católica, desde o início, rejeitou o assim chamado fideísmo, que é a vontade de acreditar contra a razão. Credo quia absurdum (creio porque é absurdo) não é a fórmula que interpreta a fé católica. Deus não é um absurdo: em todo caso, é um mistério. O mistério, por sua vez, não é irracional: ele é um excesso de sentido, de significado, de verdade. Se, ao olhar para o mistério, a razão vê o escuro, não é porque não haja luz no mistério, mas sim porque há luz demais. Assim como, quando os olhos de um homem se dirigem directamente para o sol, eles vêem apenas escuridão. Mas quem diria que o sol não é brilhante? Quem diria que ele não é a fonte da luz? A fé nos permite olhar para o "sol", Deus, porque é o acolhimento da sua revelação na história e, por assim dizer, recebe realmente todo o brilho do mistério de Deus, reconhecendo o grande milagre: Deus veio até o homem, se ofereceu ao seu conhecimento, condescendendo à limitação natural da razão humana (cf. Concílio Vaticano II, Constituição dogmática Dei Verbum, 13).

Ao mesmo tempo, com a sua graça, Deus ilumina a razão, lhe abre novos horizontes, imensuráveis e infinitos. A fé, por isto, é um forte incentivo para buscarmos sempre, para nunca pararmos nem nos acomodarmos na busca incansável da verdade e da realidade. É vão o preconceito de alguns pensadores modernos, que afirmam que a razão humana seria bloqueada pelos dogmas de fé. É exactamente o oposto, como os grandes mestres da tradição católica mostraram. Santo Agostinho, antes da sua conversão, procura pela verdade com grande inquietação, através de todas as filosofias disponíveis, achando todas insatisfatórias. Sua meticulosa procura racional é para ele uma pedagogia significativa para o encontro com a Verdade de Cristo. Quando ele diz "compreende para crer e crê para compreender" (Discurso 43, 9: PL 38, 258), é como se estivesse contando a sua própria experiência de vida. Intelecto e fé, diante da revelação divina, não são estranhos nem antagonistas; são, ambos, condições para compreendermos o seu significado, para recebermos a autêntica mensagem, aproximando-nos do limiar do mistério.

Santo Agostinho, junto com muitos outros autores cristãos, é testemunha de uma fé que se exercita com a razão, que pensa e convida a pensar. Neste caminho, Santo Anselmo dirá em seu Proslogion que a fé católica é fides quaerens intellectum, e que a busca da inteligência é um acto interior do acreditar. Será especialmente São Tomás de Aquino quem lidará com a razão dos filósofos, mostrando a força fecunda e nova da vitalidade racional que inunda o pensamento humano a partir dos princípios e das verdades da fé cristã.

A fé católica é razoável e tem confiança na razão humana. O concílio Vaticano I, na constituição dogmática Dei Filius, disse que a razão é capaz de conhecer com certeza a existência de Deus através da criação, e que apenas a fé tem a oportunidade de conhecer "facilmente, com certeza absoluta e sem erro "(DS 3005) as verdades sobre Deus, à luz da graça. O conhecimento da fé, ainda, não é contrário à razão. O beato papa João Paulo II, na encíclica Fides et ratio, resume: "A razão humana não é anulada nem humilhada quando presta assentimento aos conteúdos de fé, que são, em qualquer caso, alcançados por livre e consciente escolha" (número 43).

No irresistível desejo da verdade, só a relação harmoniosa entre a fé e a razão é o caminho certo que conduz a Deus e à realização de si mesmo.

Esta doutrina é facilmente reconhecível em todo o Novo Testamento. São Paulo, escrevendo aos coríntios, sustenta: "Enquanto os judeus pedem sinais e os gregos buscam a sabedoria, nós pregamos o Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios" (1 Cor 1,22-23 ).

Deus, de facto, salvou o mundo não por um acto de poder, mas através da humilhação do seu Filho único: de acordo com os padrões humanos, o modo incomum escolhido por Deus contradiz as exigências da sabedoria grega. No entanto, a cruz de Cristo tem sua razão, que São Paulo chama de logos tou staurou, a palavra da cruz (1 Co 1,18). Aqui, o termo logos indica tanto a palavra quanto a razão, e, se alude à palavra, é porque expressa verbalmente processos que a razão elabora. Paulo, assim, vê na cruz não um evento irracional, mas um facto da salvação, que tem uma racionalidade própria, reconhecível à luz da fé. Ao mesmo tempo, ele tem tanta confiança na razão humana que se maravilha de que muitos, mesmo vendo as obras realizadas por Deus, se obstinem em não acreditar nele. Diz ele em sua carta aos romanos: "Os atributos invisíveis [de Deus], ​​ou seja, o seu eterno poder e a sua natureza divina, são contemplados e compreendidos na criação do mundo através das obras das suas mãos" (1,20).

Também São Pedro exorta os cristãos da diáspora para adorarem "o Cristo Senhor em vossos corações, sempre prontos a responder a todo aquele que vos pedir razões da esperança que habita em vós" (1 Pe 3,15). Em um clima de perseguição e de forte necessidade de testemunhar a fé, os crentes são convidados a justificar a sua adesão à palavra do evangelho, a dar razão da sua esperança.

É nesse terreno, de ligação frutuosa entre o compreender e o acreditar, que está enraizada ainda a relação virtuosa entre ciência e fé. A pesquisa científica leva ao conhecimento de verdades sempre novas sobre o homem e sobre o cosmos, conforme sabemos. O verdadeiro bem da humanidade, que é acessível pela fé, abre o horizonte para a sua jornada de descoberta. Devem ser incentivadas, portanto, as pesquisas a serviço da vida, que visam erradicar a doença. Também são importantes as investigações sobre os segredos do nosso planeta e do universo, na consciência de que o homem é a coroa da criação, não com o fim de explorá-la insensatamente, mas de preservá-la e torná-la habitável.

Assim, vivida na verdade, a fé não entra em conflito com a ciência, mas coopera com ela, oferecendo critérios básicos para que ela promova o bem de todos, e lhe pede renunciar apenas às tentativas que, em oposição ao plano original de Deus, podem produzir efeitos que se voltam contra o próprio homem. Por isso mesmo, é razoável acreditar: se a ciência é uma aliada valiosa para a compreensão do plano de Deus no universo, a fé permite que o progresso científico aconteça sempre em prol do bem e da verdade do homem, permanecendo fiel a esse mesmo plano.

É por isso que é crucial para as pessoas abrir-se à fé e conhecer a Deus e o seu plano de salvação em Jesus Cristo. O evangelho inaugura um novo humanismo, uma autêntica "gramática" do homem e de toda a realidade. O Catecismo da Igreja Católica afirma: "A verdade de Deus e a sua sabedoria sustentam a ordem da criação e do governo do mundo. Deus, o único que "fez o céu e a terra" (Sl 115,15), pode dar, somente ele, o verdadeiro conhecimento de cada coisa criada na relação com ele" (número 216).

Esperamos, portanto, que o nosso compromisso na evangelização ajude a dar nova centralidade ao evangelho na vida de muitos homens e mulheres do nosso tempo. E oramos para que todos reencontrem em Cristo o sentido da vida e o fundamento da verdadeira liberdade: sem Deus, o homem se perde. Os testemunhos daqueles que vieram antes de nós e que dedicaram a vida ao evangelho o confirma para sempre. É razoável acreditar, pois o que está em jogo é a nossa existência. Vale a pena nos desgastarmos por Cristo. Só ele satisfaz os desejos de verdade e de bem enraizados na alma de cada homem: agora, no tempo que passa, e no dia sem fim da eternidade bem-aventurada.

(Após a catequese)

De coração, saúdo todos os peregrinos de língua portuguesa, com destaque para os grupos de Aracruz, Aparecida de Goiânia e Palmas, confiando as suas famílias e comunidades à Virgem Maria e pedindo-Lhe que nelas se mantenha viva a luz de Deus. Sobre vós e os vossos entes queridos, desça a minha Bênção.

(Trad.ZENIT)

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Alister McGrath, cientista e convertido

Cada vez há mais ateus que encontraram a fé através da leitura de autores ateus que não oferecem respostas


O famoso teólogo e apologeta britânico refere-se sobretudo à obra de Richard Dawkins e Christopher Hitchens, que com respostas superficiais às grandes perguntas despertam interesse pelo espiritual.

Parece que, o fenómeno dos novos ateus se está diluindo num mundo que reclama espiritualidade e respostas. Na terra dos grandes neoateus Richard Dawkins y Christopher Hitchens, falecido em Dezembro de 2011, há pessoas que se convertem ao cristianismo despois de terem aprofundado as suas propostas feramente anti-religiosas.

É o que conta o irlandês Alister McGrath – convertido também ele – numa recente entrevista concedida ao diário italiano Avvenire. McGrath, filósofo, cientista, apologeta e prestigioso teólogo anglicano, é professor do King’s College de Londres e presidente do Oxford Centre of Christian Apologetics.

A interacção entre a teologia cristã e as ciências naturais foi um tema chave no seu trabalho investigador, como o demonstram os três volumes da sua Teologia Científica. Entre os seus numerosos livros destacam-se Teologia Cristã, Deus e a evolução e O Deus desconhecido.

Publicou recentemente dois volumes intitulados Apologetas. Como ajudar a quem está em busca e aos cépticos a encontrar a fé e Surpreendidos pelo sentido. A ciência, a fé e como dar significado às coisas.

Negavam a existência de Deus… e se encontraram com Ele
“Não há dúvida de que o desenvolvimento do novo ateísmo atraiu um renovado interesse cultural até Deus. Nas minhas conversas e debates com os novos ateus, frequentemente lhes agradeci que tenham suscitado uma nova curiosidade pela religião, por Deus e pelo sentido da vida. Por outra parte, actualmente o novo ateísmo está perdendo já o seu carácter de novidade. Repetem simples slogans que cada vez se tornam mais simplistas, não são cuidadas afirmações de síntese intelectual. Aqueles que uma vez acreditamos que o novo ateísmo oferecia boas respostas às grandes perguntas, hoje compreendem que só oferece simples frases feitas que não satisfazem os interrogantes mais profundos”, sustenta.
 
“Falei recentemente com um colega que está estudando o caso de pessoas que se converteram ao cristianismo como resultado da sua leitura dos livros do neoateu Richard Dawkins. São pessoas que leram Dawkins com a expectativa de encontrar nele sofisticadas respostas às grandes questões da vida, e sem dúvida se encontraram com algo superficial e insuficiente. Mas a sua sede de verdade os levou a continuar finalmente acharam a resposta no cristianismo”, explica o teólogo britânico.

Alister McGrath crê que Dawkins apresenta, simplesmente, um novo fundamentalismo dogmático: o do ateísmo: “De facto – assegura – o seu documental “The God Delusion” foi um golo na própria baliza monumental, porque convenceu muitos não crentes de que o ateísmo é tão intolerante como o pior que a religião pode oferecer”.

Um ateísmo passado de moda 
“Alguns analistas culturais argumentaram que o ateísmo é a religião da modernidade. Mas a chegada da pós-modernidade tirou-lhe o posto: o ateísmo agora parece um pouco passado de moda, é a herança ideológica de uma geração anterior, muito marcada pelo materialismo de origem marxista. No seu lugar, a pós-modernidade recuperou o interesse pela espiritualidade. Não tenho nem ideia de até onde nos levará esta tendência, mas certamente parece que nos afasta de um ateísmo que não é a única visão possível do mundo para uma pessoa racional e pensante. A fé em Deus nos dá motivos para examinar mais de próximo o universo, e gera uma matriz que alenta e facilita um compromisso com o mundo. Por suposto, sei que esta conclusão será debatida, e o assumo. Sigo sendo muito respeitoso com os ateus: creio que tenho muito que aprender com eles e com as preocupações que expressam. Mas eu já não compartilho da sua fé. Ou melhor, a falta dela”, sustenta.

Uma afirmação, a do respeito recíproco entre ateus e crentes, que encontra o seu melhor exemplo na interessante entrevista que Richard Dawkins realizou a McGrath – por quem reconhece o seu afecto e admiração – num dos seus documentários para a televisão britânica.

Da “arrogância intelectual” à fé
“Espiritualmente, Deus é o oxigénio da minha existência”, reconhece McGrath, que explica deste modo o seu itinerário de conversão: “Creio no Deus que se dá a conhecer através de Jesus, quer dizer, um Deus pessoal que creio que me conhece como individuo, se preocupa comigo, e me inspira a viver a minha vida com um firme propósito e uma profunda satisfação ao serviço dos demais. Isso me situa dentro dos parâmetros generosos do cristianismo. Mas nem sempre vi as coisas desta maneira. Quando eu era jovem e vivia em Belfast, Irlanda do Norte, durante a década de 1960, cheguei à ideia de que Deus era uma ilusão infantil, adequado para as pessoas maiores, os intelectualmente débeis e os fraudulentos padres e religiosos. Admito que esta era uma visão bastante arrogante, e que agora considero um tanto embaraçosa. A minha desculpa patética para esta arrogância intelectual é que muita gente sentia o mesmo por aqueles então. A minha geração recebeu a ideia de que a religião estava nas últimas e que nos aguardava um amanhecer glorioso, com o ocaso de Deus ao dobrar da esquina. Mas, depois da minha passagem pela universidade e do meu doutoramento em biologia molecular, logo me dei conta de que as minhas hipóteses da vinculação automática entre as ciências naturais e o ateísmo era bastante ingénua e desinformada. Logo, a oportunidade de falar com os cristãos sobre a sua fé me revelou que sabia relativamente pouco acerca da sua religião, a qual havia chegado a conhecer principalmente através das não muito precisas descrições dos seus principais críticos, incluindo o britânico Bertrand Russell e o filósofo social alemã Karl Marx”, recorda.

Falácias ilustradas
MacGrath sustenta que são muitas as falácias atribuídas à religião desde que a Ilustração irrompeu no panorama intelectual europeu: “Muitos filósofos expressaram severas críticas até a Ilustração. O filósofo John Gray escreveu muito sobre as suas contradições. Por exemplo: a Ilustração sustentava que quando se dá razão à religião, se põe em funcionamento uma das maiores causas de violência. As guerras de religião na Europa do século XVII – diziam os racionalistas– eram consequência directa dos diversos credos religiosos. Se se separa a fé, sustentavam, também as guerras serão algo do passado. Mas ficou demonstrado que a primeira e a segunda guerra mundial – os conflitos mais destrutivos que o mundo jamais conheceu - não tinham nada que ver com a religião, mas sim com o nacionalismo e a economia, no caso da segunda, e com o totalitarismo, não importa se de direitas ou de esquerdas”, sustenta.

“Eu acrescentei algo mais: creio que, efectivamente, a fé pode ser algo muito perigoso, mas tanto se se crê em Deus como se não se crê Nele. A fé pode inspirar alguns a fazer coisas terríveis, mas também o faz a crença de que desfazer-se da fé em Deus é necessário para a humanidade. Vi acções maravilhosas e deploráveis em ambos os lados. Teria que referir-se melhor as acções da natureza humana, não a religião”, sustenta.

Uma boa oportunidade para os cristãos
Em Apologetas, McGrath sugere aos cristãos “interactuar com as ideias da cultura actual mais do que afastar-se dela” e está convencido de que há aspectos da modernidade que representam uma oportunidade para o cristianismo. Sobretudo dois: os relatos e a imagem. Existe uma nova consciência da importância das narrações como caminho para explorar o sentido, mais úteis que os argumentos. A melhor maneira de responder às perguntas é, frequentemente, contar uma história no lugar de oferecer argumentos puramente intelectuais".

"O escritor C. S. Lewis foi um mestre nisto. Um dos motivos pelos quais os seus Crónicas de Narnia tiveram tanto êxito foi, precisamente, porque contam histórias profundamente radicadas na compreensão cristã do mundo: esta visão ressoa na experiência da realidade que tem muitas pessoas”, afirma McGrath, que está preparando para 2013 uma nova biografia do célebre escritor convertido britânico.

Utilizar mais a imagem...
“O outro aspecto importante é o da imagem. Hoje em dia se dá uma renovada importância às imagens, como, por exemplo, na publicidade na televisão. A Bíblia e a tradição cristã são ricas em imagens, que podem ser uma espécie de umbral para alguns temas chave da fé cristã. Por exemplo, em vez de falar com abstracção da noção do “cuidado” de Deus pelo homem, podemos explorar a imagem de Deus como pastor, uma imagem que pode recolher em si os diferentes elementos da visão cristã de Deus: o conceito de que Deus nos acompanha no nosso caminho da vida, que sempre está connosco, que não nos abandona, inclusive quando caminhamos pelas sombras do vale da morte”, conclui.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Papa Bento XVI - Audiência Geral - Praça de São Pedro - Quarta-feira, 17 de Outubro de 2012


Queridos irmãos e irmãs,
 
Hoje gostaria de introduzir o novo ciclo de catequeses, que se desenvolve ao longo de todo o Ano da fé, recém-iniciado, e que interrompe — durante este período — o ciclo dedicado à escola da oração. Mediante a Carta Apostólica Porta Fidei proclamei este Ano especial, precisamente para que a Igreja renove o entusiasmo de crer em Jesus Cristo, único Salvador do mundo, reavive a alegria de percorrer o caminho que nos indicou e testemunhe de modo concreto a força transformadora da fé.
 
A celebração do cinquentenário da inauguração do Concílio Vaticano II é uma ocasião importante para voltar para Deus, a fim de aprofundar e viver com maior coragem a própria fé, para fortalecer a pertença à Igreja, «mestra em humanidade» que, através do anúncio da Palavra, da celebração dos Sacramentos e das obras de caridade, nos orienta para encontrar e conhecer Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Trata-se do encontro não com uma ideia, nem com um projecto de vida, mas com uma Pessoa viva que nos transforma em profundidade a nós mesmos, revelando-nos a nossa verdadeira identidade de filhos de Deus. O encontro com Cristo renova os nossos relacionamentos humanos, orientando-os no dia-a-dia para uma maior solidariedade e fraternidade, na lógica do amor. Ter fé no Senhor não é algo que interessa unicamente à nossa inteligência, ao campo do saber intelectual, mas é uma mudança que compromete a vida, a totalidade do nosso ser: sentimento, coração, inteligência, vontade, corporeidade, emoções e relacionamentos humanos. Com a fé muda verdadeiramente tudo em nós e para nós, e revela-se com clareza o nosso destino futuro, a verdade da nossa vocação no interior da história, o sentido da vida, o gosto de sermos peregrinos rumo à Pátria celeste.
 
Mas — perguntemo-nos — a fé é verdadeiramente a força transformadora da nossa vida, na minha vida? Ou então é apenas um dos elementos que fazem parte da existência, sem ser aquele determinante, que a abrange totalmente? Com as catequeses deste Ano da fé gostaríamos de percorrer um caminho para fortalecer ou reencontrar a alegria da fé, compreendendo que ela não é algo de alheio, separado da vida concreta, mas é a sua alma. A fé num Deus que é amor, e que se fez próximo do homem, encarnando e doando-se a si mesmo na cruz para nos salvar e reabrir as portas do Céu, indica de modo luminoso que a plenitude do homem consiste unicamente no amor. Hoje é necessário reiterá-lo com clareza, enquanto as transformações culturais em curso mostram com frequência tantas formas de barbárie, que passam sob o sinal de «conquistas de civilização»: a fé afirma que não há humanidade autêntica, a não ser nos lugares, nos gestos, nos tempos e nas formas como o homem é animado pelo amor que vem de Deus, se expressa como dom, se manifesta em relações ricas de amor, de compaixão, de atenção e de serviço abnegado ao próximo. Onde existe domínio, posse, exploração, mercantilização do outro por egoísmo próprio, onde há arrogância do eu, fechado em si mesmo, o homem torna-se pobre, degradado, desfigurado. A fé cristã, laboriosa na caridade e forte na esperança, não limita mas humaniza a vida, aliás, torna-a plenamente humana.
 
A fé é o acolhimento desta mensagem transformadora na nossa vida, o acolhimento da revelação de Deus, que nos faz conhecer quem Ele é, como age, quais são os seus desígnios para nós. Sem dúvida, o mistério de Deus permanece sempre além dos nossos conceitos e da nossa razão, dos nossos ritos e das nossas preces. Todavia, com a revelação é o próprio Deus quem se autocomunica, se descreve, se torna acessível. E nós tornamo-nos capazes de ouvir a sua Palavra e de receber a sua verdade. Eis, pois, a maravilha da fé: Deus, no seu amor, cria em nós — através da obra do Espírito Santo — as condições adequadas para que possamos reconhecer a sua Palavra. O próprio Deus, na sua vontade de se manifestar, de entrar em contacto connosco, de se fazer presente na nossa história, torna-nos capazes de o ouvir e acolher. São Paulo exprime-o assim, com alegria e reconhecimento: «Nós não cessamos de dar graças a Deus, porque recebestes a palavra de Deus, que de nós ouvistes, e porque a acolhestes não como palavra de homens, mas como aquilo que realmente é, palavra de Deus, que age eficazmente em vós, fiéis» (1 Ts 2, 13).
 
Deus revelou-se mediante palavras e obras em toda uma longa história de amizade com o homem, que culmina na Encarnação do Filho de Deus e no seu Mistério de Morte e Ressurreição. Deus não só se revelou na história de um povo, nem falou só por meio dos Profetas, mas atravessou o seu Céu para entrar na terra dos homens como homem, para que pudéssemos encontrá-lo e ouvi-lo. E de Jerusalém o anúncio do Evangelho da salvação propagou-se até aos confins da terra. A Igreja, nascida do lado de Cristo, tornou-se portadora de uma esperança nova e sólida: Jesus de Nazaré, crucificado e ressuscitado, Salvador do mundo, que está sentado à direita do Pai e é Juiz dos vivos e dos mortos. Este é o kerigma, o anúncio central e impetuoso da fé. Mas desde o início levantou o problema da «regra da fé», ou seja, da fidelidade dos crentes à verdade do Evangelho, na qual permanecer firmes, à verdade salvífica sobre Deus e sobre o homem, que se deve conservar e transmitir. São Paulo escreve: «Recebereis a salvação, se o mantiverdes [o Evangelho] como vo-lo anunciei. Caso contrário, em vão teríeis abraçado a fé» (1 Cor 15, 2).
 
Mas onde encontramos a fórmula essencial da fé? Onde encontramos as verdades que nos foram fielmente transmitidas e que constituem a luz para a nossa vida diária? A resposta é simples: no Credo, na Profissão de Fé, ou Símbolo da Fé, nós relacionamo-nos com o acontecimento originário da Pessoa e da História de Jesus de Nazaré; torna-se concreto quanto o Apóstolo das nações dizia aos cristãos de Corinto: «Transmiti-vos primeiramente o que eu mesmo tinha recebido: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia» (1 Cor 15, 3-4).
Ainda hoje temos necessidade que o Credo seja melhor conhecido, compreendido e pregado. Sobretudo, é importante que o Credo seja, por assim dizer, «reconhecido». Com efeito, conhecer poderia ser algo simplesmente intelectual, enquanto «reconhecer» quer significar a necessidade de descobrir o vínculo profundo entre as verdades que professamos no Credo e a nossa existência quotidiana, para que estas verdades sejam deveras e concretamente — como sempre foram — luz para os passos do nosso viver, água que rega a aridez do nosso caminho, vida que vence certos desertos da vida contemporânea. No Credo insere-se a vida moral do cristão, que nele encontra o seu fundamento e a sua justificação.
 
Não é por acaso que o Beato João Paulo II quis que o Catecismo da Igreja Católica, norma segura para o ensinamento da fé e fonte certa para uma catequese renovada, se inspirasse no Credo. Tratava-se de confirmar e conservar este núcleo fulcral das verdades da fé, comunicando-o numa linguagem mais inteligível aos homens do nosso tempo, a nós. É um dever da Igreja transmitir a fé, comunicar o Evangelho, a fim de que as verdades cristãs sejam luz das novas transformações culturais, e os cristãos se tornem capazes de explicar a razão da sua esperança (cf. 1 Pd 3, 14). Hoje, vivemos numa sociedade profundamente transformada, também em relação a um passado recente, e em movimento contínuo. Os processos da secularização e de uma difundida mentalidade niilista, em que tudo é relativo, marcaram profundamente a mentalidade comum. Assim, a vida é muitas vezes levada com superficialidade, sem ideais claros nem esperanças sólidas, no contexto de vínculos sociais e familiares fluidos, provisórios. Sobretudo as novas gerações não são educadas para a busca da verdade e do sentido profundo da existência, que ultrapasse o contingente, para a estabilidade dos afectos, para a confiança. Ao contrário, o relativismo leva a não ter pontos firmes, suspeita e volubilidade provocam rupturas nos relacionamentos humanos, enquanto a vida é vivida com experiências que duram pouco, sem assunção de responsabilidade. Se o individualismo e o relativismo parecem dominar o espírito de muitos contemporâneos, não se pode dizer que os crentes permanecem totalmente imunes a estes perigos, que devemos enfrentar na transmissão da fé. A sondagem realizada em todos os Continentes, em vista da celebração doSínodo dos Bispos sobre a Nova Evangelização, evidenciou alguns: uma fé vivida de modo passivo e privado, a rejeição da educação para a fé, a ruptura entre vida e fé.
 
Muitas vezes o cristão não conhece nem sequer o núcleo central da própria fé católica, do Credo, de modo a deixar espaço a um certo sincretismo e relativismo religioso, sem clareza sobre as verdades nas quais crer e sobre a singularidade salvífica do cristianismo. Hoje não está muito distante o risco de construir, por assim dizer, uma religião personalizada. Ao contrário, temos que voltar para Deus, para o Deus de Jesus Cristo, temos que redescobrir a mensagem do Evangelho, fazê-lo entrar de modo mais profundo nas nossas consciências e na vida quotidiana.
 
Nas catequeses deste Ano da fé gostaria de oferecer uma ajuda para percorrer este caminho, para retomar e aprofundar as verdades centrais da fé sobre Deus, o homem, a Igreja e toda a realidade social e cósmica, meditando e ponderando sobre as afirmações do Credo. E gostaria que fosse clara que estes conteúdos ou verdades da fé (fides quae) se relacionam directamente com a nossa vida; exigem uma conversão da existência, que dá vida a um novo modo de crer em Deus (fides qua). Conhecer Deus, encontrá-lo, aprofundar os traços da sua Face põe em jogo a nossa vida, pois Ele entra nos dinamismos profundos do ser humano.
 
Possa o caminho que percorreremos este Ano fazer-nos crescer todos na fé e no amor a Cristo, para que aprendamos a viver, nas opções e gestos quotidianos, a vida boa e bela do Evangelho. Obrigada!

domingo, 18 de novembro de 2012

Viktor Orban: "Europa cristã não teria permitido que países inteiros se afundassem na escravidão ao crédito”

Mayor Oreja e Viktor Orban
“Espanha está muito próxima de cair nesta escravidão”

Há duas maneiras de escravizar as nações: "com a espada ou com o crédito"

Redacção, 17 de Novembro de 2012 às 13:13

(CEU).- O primeiro ministro da Hungria, Viktor Orban, vê com uma clareza cristalina que a depressão económica, em que está envolvida a Europa, não responde a uma "conjuntura", mas sim que é consequência de uma crise de ordem espiritual. Em concreto, segundo explicou na sua intervenção no XIV Congresso Católicos e Vida Pública, organizado pela Associação Católica de Propagandistas e a Fundação Universitária São Paulo CEU, o que se passa na Europa é produto do esquecimento dos valores cristãos que foram a base da sua prosperidade.

Estes valores fizeram do velho continente uma "potência económica", graças sobretudo a que o desenvolvimento naqueles tempos se fazia conforme uns princípios. Existia o crédito, sim, explicou Orban, mas inclusive este estava submetido aos "padrões" do cristianismo.

Numa Europa com estas características, numa "Europa cristã", não teriam sido possíveis, na sua opinião, os excessos que originaram as actuais dificuldades. "Uma Europa cristã teria advertido que cada euro que se pede tem de ser trabalhado. Uma Europa cristã não teria permitido que países inteiros se afundassem na escravidão ao crédito", acrescentou. Uma situação de servidão na qual "Espanha está muito próxima de cair" sentenciou Orban justamente antes de dizer que há duas maneiras de escravizar as nações: "com a espada ou com o crédito".

O discurso de Orban desembocou numa apelação a realizar políticas inspiradas nos fundamentos cristãos. Políticas, em suma, que ajudariam a "acabar com as cargas das crises" e que diferem da imposição à posterior da austeridade, algo que "provoca que os governos percam a confiança dos seus governados", o que implica o risco de "decompor" o Estado e a certeza.

Orban expôs a sua convicção de que atrás de toda a economia bem-sucedida há "algum tipo de força motriz espiritual". Citou os exemplos actuais da América Latina, Índia e China, associando-os ao cristianismo, hinduísmo e budismo, respectivamente. "Uma Europa regida conforme os valores cristãos se regeneraria", sublinhou à luz deste raciocínio.

O político Húngaro também invocou a legitimidade do poder político, que hoje se vê subjugado pela severidade das condições para a obtenção de crédito, algo que "põe em perigo la soberania" e propicia um cenário em que "os credores obrigam a tirar dinheiro aos que deveriam recebê-lo".

Orban foi apresentado pelo eurodeputado Jaime Mayor Oreja, que assinalou o relativismo como origem da crise e grande mal que deve ser combatido. "O debate na próxima década não vai ser estritamente político, entre a esquerda e a direita tradicionais. O desenlace da crises vai-nos conduzir a um debate cultural de carácter antropológico, derivado da concepção da pessoa que cada um tenha".

O exemplo da trajectória pública de Orban é, para Mayor Oreja, expressão deste confronto. A "tormenta política" desencadeada em torno da sua pessoa não responde à oposição a medidas concretas mas sim a que os "porta-vozes do relativismo não lhe perdoavam o seu valor em defesa dos valores e das raízes cristãs da Europa". "O objectivo era que não houvesse nenhum Vicktor Orban no horizonte europeu".

A XIV edição do Congresso Católicos e Vida Pública, que este ano se organiza debaixo do título "Um novo compromisso social e político. Do Concilio Vaticano II à Nova Evangelização" celebra-se na Universidade CEU São Paulo até o domingo 18 de Novembro.

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Hino do Sínodo Diocesano

Hino do Sínodo Diocesano de Beja, da autoria do Pe. António Cartageno:



sábado, 17 de novembro de 2012

Igreja/Cultura: «Átrio dos Gentios» em Portugal

Iniciativa do Vaticano para o diálogo entre crentes e não crentes começa hoje em Guimarães e procura «valor da vida» para lá da crise


Lisboa, 16 nov 2012 (Ecclesia) – Braga e Guimarães recebem entre hoje e amanhã uma nova sessão do ‘Átrio dos Gentios’, projeto do Vaticano para o diálogo entre crentes e não crentes que vai debater o “valor da vida” para lá da crise.

A posição é assumida pelo presidente do Conselho Pontifício da Cultura (CPC), organismo da Santa Sé que dinamiza esta iniciativa, para quem a crise económico-financeira que se vive em vários países, incluindo Portugal, só pode ser ultrapassada com uma renovação ética.

“Temos de criar uma atmosfera que não se limite às questões económicas nem financeiras, porque os seus problemas nasceram, em boa parte, quando se esqueceram as questões éticas, morais”, refere o cardeal Gianfranco Ravasi, em entrevista à Agência ECCLESIA.

Segundo o cardeal italiano, a escolha do tema ‘O valor da vida’ para esta sessão do átrio visa abordar “as grandes coordenadas, os grandes temas que muitas vezes não são abordados na sociedade contemporânea, que reduz tudo às questões imediatas”.

O Átrio dos Gentios é inaugurado com uma conferência de Marcelo Rebelo de Sousa, comentador e professor universitário, sobre o tema ‘Identidade e sentido da vida de um povo’, a partir das 18h00.

Pelas 21h30, o neurocirurgião João Lobo Antunes vai refletir com o cardeal Ravasi sobre ‘O valor e o sentido da vida de cada ser humano’.

No sábado, a edição portuguesa vai englobar debates sobre ‘estilo de vida e salvaguarda do universo’, desde várias perspetivas, para além de momentos culturais, com concertos, exposições e a apresentação de uma peça de teatro.

O arcebispo de Braga, diocese que acolhe o projeto, refere por sua vez que a sessão portuguesa do Átrio dos Gentios pode ajudar a “viver melhor” no país.

“É possível conviver com as diferenças” e “estabelecer pontes”, referiu à ECCLESIA D. Jorge Ortiga, para quem “a preocupação de estar com os outros é fundamental” para a Igreja Católica e a sociedade civil, no atual momento.

Para os responsáveis pela organização em Portugal do Átrio dos Gentios, o catolicismo está ativo e quer dialogar com o mundo.

“A Igreja não quis ficar à margem” das atividades das capitais europeias da cultura e juventude, que em 2012 decorrem em Guimarães e Braga, e por isso encontrou “um modo seu de marcar presença” e “de dizer ao mundo que está viva”, indica o cónego José Paulo Abreu, vigário-geral da arquidiocese minhota.

A coordenadora geral do Átrio dos Gentios em Portugal, Isabel Varanda, acentua por seu lado que o evento “não é ‘uma coisa da Igreja e dos padres’”: “a representação da Igreja como instituição e da religião, em geral, é discreta e proporcional: uns crentes, outros não crentes ou agnósticos”.

A ministra Assunção Cristas, o antigo candidato presidencial Fernando Nobre e a presidente da Federação Europeia dos Bancos Alimentares, Isabel Jonet, são alguns dos conferencistas convidados, juntando-se à coreógrafa Olga Roriz, aos escritores Vasco Graça Moura e Valter Hugo Mãe, à poetisa Ana Luísa Amaral e ao padre e poeta Tolentino Mendonça, entre outros.

O Átrio dos Gentios vai poder ser seguido com emissão vídeo online, em direto, assegurada pela Agência ECCLESIA, em parceria com o portal SAPO.

A organização adiantou que as inscrições, online e por telefone, se encontram encerradas, embora existam alguns lugares disponíveis para os workshops de Braga, no sábado.

OC

William Daniel Phillips - Um Prémio Nobel da Física assegura que crê em Deus mais «graças à Ciência do que apesar dela»

Deram-lhe o prémio em 1997 e declarou rotundamente: «Sou um cientista sério que crê seriamente em Deus».

No passado dia 5 de Novembro foi o 64º aniversário de William Daniel Phillips, físico  estadounidense e ganhador do Prémio Nobel da Física em 1997 pelo desenvolvimento de métodos para esfriar e capturar átomos por laser.

Durante muito tempo foi membro do National Institute of Standards and Technology (Instituto Nacional de Standards e Tecnologia), é professor na Universidade de Maryland e também um dos fundadores da International Society for Science & Religion (Sociedade Internacional para a Ciência e a Religião).


União entre ciência e fé
Faz anos, escreveu o seu testemunho explicando o seu pensamento sobre a existência de Deus e sobre a união entre a ciência e a fé, que pode consultar-se em aqui.

«A Ciência e a Religião não são inimigos irreconciliáveis»

«Muitos acreditam que a Ciência, oferecendo explicações, se opõe à compreensão de que o universo é uma criação amorosa de Deus», começa na sua exposição o cientista, «creem que a Ciência e a Religião são inimigos irreconciliáveis, mas não é assim».

William Phillips responde a esta pergunta através da sua experiência: «Eu sou físico. Faço investigação tradicional, publico em revistas, apresento as minhas investigações em reuniões profissionais, ensino a estudantes e investigadores pos-doutorais, tento aprender como funciona a natureza. Por outras palavras, sou um cientista comum».


Reza com regularidade...
Mas, continua, «também sou uma pessoa de fé religiosa. Assisto à igreja, canto gospel no coro, todos os domingos vou ao catecismo, rezo com regularidade, trato de ´fazer justiça, amar a misericórdia, e caminhar humildemente com o meu Deus´. Por outras palavras, sou uma pessoa comum de fé».

...e não é uma contradição com ser cientista
Para muita gente, isto pode parecer uma contradição: «Um cientista sério que crê seriamente em Deus! Mas, para muitas pessoas mais, sou uma pessoa como eles. Ainda que a maior parte da atenção dos meios de comunicação vá focada nos ateus ´estridentes´ que dizem que a religião é uma superstição tonta, ou os crentes fundamentalistas que negam a evidência clara da evolução cósmica e biológica, a maioria das pessoas que conheço não tem nenhuma dificuldade em aceitar o conhecimento cientifico e manter a fé religiosa», assegura.

Como posso crer em Deus?
Continua o Prémio Nobel: «Como físico experimental, necessito provas, experimentos reproduzíveis e uma lógica rigorosa para apoiar qualquer hipótese científica. Como pode uma pessoa assim basear-se na fé?», desafia.
Ele mesmo se coloca duas perguntas que tem que responder: Como posso crer em Deus? e Porquê creio em Deus?

«Um cientista pode crer em Deus porque esta convicção não é uma questão científica. Uma afirmação científica deve ser ´falsificável´, quer dizer, deve haver alguns resultados que, pelo menos em principio, poderiam demonstrar que a afirmação é falsa [....]. Pelo contrário, as afirmações religiosas não tem que ser necessariamente ´falsificáveis´», argumenta  William  Phillips.

«Não é necessário que tudo o afirmado seja uma afirmação científica; nem tampouco por isso as afirmações que simplesmente não são científicas passam a ser afirmações inúteis ou irracionais. A ciência não é a única maneira útil de ver a vida», raciciocina o prémio Nobel.


Porque creio em Deus?
«Como físico, observo a natureza desde um ponto de vista particular. Vejo um universo ordenado, formoso, onde quase todos os fenómenos físicos podem ser entendidos com umas poucas e simples equações matemáticas. Vejo um universo que, por ter sido construído de uma maneira ligeiramente diferente, nunca teria dado a luz as estrelas e os planetas. E não há nenhuma razão científica pela qual o universo não poderia ter sido diferente. Muitos bons cientistas concluíram com estas observações que um Deus inteligente decidiu criar o universo com esta propriedade formosa, simples e vivificante. Muitos outros grandes cientistas, sem dúvida, são ateus. Ambas as conclusões são posições de fé», responde.

Um ateu que muda de opinião
Recentemente, o filósofo e por largo tempo ateu Anthony Flew, mudou de opinião e decidiu que, sobre a base destes elementos e provas, era necessário crer em Deus: «Creio que estes argumentos são sugestivos e ajudam a sustentar a fé em Deus», comenta William Phillips, «mas não são concludentes. Eu creio em Deus porque sinto a presença de Deus na minha vida, porque posso ver a evidência da bondade de Deus no mundo, porque creio no amor e porque creio que Deus é amor».

Dúvidas sobre Deus?
Isto o faz uma melhor pessoa ou um físico melhor que outros? «Difícilmente. Conheço um montão de ateus que são melhores pessoas e melhores cientistas que eu. Estou livre de dúvidas sobre a existência de Deus? Dificilmente também. As perguntas sobre o mal no mundo, o sofrimento de crianças inocentes, a variedade do pensamento religioso e outros imponderáveis costumam deixar frequentemente no ar a questão de se estou certo, e me fazem constatar sempre a minha ignorância. Apesar de tudo isto, creio mais graças à Ciência que apesar dela», conclui o prémio Nobel.

«Como está escrito na Epístola aos Hebreus, ´a fé é a garantia dos bens que se esperam, a plena certeza das realidades que não se vêem´».
Sara Martín / ReL

José Bettencourt, novo chefe de protocolo da Secretaria de Estado

José Avelino Bettencourt
Português, mas ordenado em Ottawa
Pertence ao corpo diplomático e actualmente é conselheiro da Nunciatura


14 de Novembro de 2012 às 17:12

O papa Bento XVI nomeou o sacerdote português José Avelino Bettencourt, de 50 anos, chefe de protocolo da Secretaria de Estado ("presidência do Governo da Santa Sé"), informou hoje o Vaticano.

José Avelino Bettencourt pertence ao corpo diplomático da Santa Sé e actualmente é conselheiro da Nunciatura.

Bettencourt nasceu nas ilhas dos Açores (Portugal) em 23 de Maio de 1962. Foi ordenado sacerdote em 1993 e ordenado em Ottawa (Canadá).

É licenciado em Direito Canónico e entrou no Serviço Diplomático da Santa Sé em 1999. Prestou serviços na nunciatura apostólica da República Democrática do Congo e na secção de Relações com os Estados ("ministério dos Exteriores") da Secretaria de Estado. (RD/Agencias)

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Akiko Tamura

Deixa uma brilhante carreira como cirurgiã torácica para tornar-se a monja de clausura em Zarautz

Faz as suas primeiras práticas na Universidade de Harvard, despois ampliou a sua especialidade no Hospital de Massachussets... 

Akiko Tamura tem 37 anos e uma brilhantíssima carreira nas suas costas como cirurgiã torácica, especialidade que vem desenvolvendo desde há cinco anos na prestigiosa Clínica da Universidade de Navarra.

As suas amigas também a definem como "a rainha da festa e dos Gin Tonics", e a própria Akiko diz dela mesma ao Diario Vasco que "sou uma pessoa muito activa, pensei que era o contrário ao protótipo de monja de clausura".

Esta madrilena de pai japonês e mãe navarra comenta que "ainda que eu não acredite, existe o que se conhece como `chamada´".

Uma Quinta-feira Santa...

"A mudança mais radical na minha vida foi deixar que Deus me levasse mais que eu...", assinala ao diário Abc.

"Esta Quinta-feira Santa ia no meu carro tranquila e de repente, no meio do meu coração notei claramente que Deus me pedia para ser carmelita descalça. Não ouvi vozes nem vi visões, só senti uma paz e um amor de Deus bestial".

Salvar corpos... e salvar almas
"Dediquei-me a salvar corpos e agora quero salvar almas" sublinha com suavidade esta cirurgiã de ascendência japonesa.

"No principio a minha família perguntava-me “Que vais fazer num convento? Perder todo o teu talento?". Mas Akiko confessa que a ela não se lhe havia ocorrido de tornar-se monja mas que «é o plano de Deus».

No sábado passado ingressou no convento das Carmelitas Descalças de Zarautz (Guipúzcoa).


Igreja: Açores são região mais católica de Portugal

Conferência Episcopal apresentou resultados de inquérito a mil pessoas sobre «Identidades Religiosas» nas regiões autónomas, com maior prática religiosa do que o continente 

D.R.| Romeiros, Açores
Fátima, Santarém, 14 Nov 2012 (Ecclesia) – Os Açores são a região mais  católica de Portugal, segundo os resultados finais do inquérito sobre ‘Identidades Religiosas’ promovido pela Conferência Episcopal, hoje divulgados em Fátima.

A percentagem de inquiridos que se assume como católico nas nove ilhas do arquipélago chega aos 91,9%, número que desce para os 88,3% na Madeira, sempre acima dos 79,5% registados em Portugal continental.

74,2% dos católicos dos Açores definem-se como “praticantes”, percentagem que na Madeira fica pelos 59% e no continente pelos 56,1% (autoclassificação relativamente à prática religiosa).

A região autónoma dos Açores tem ainda uma percentagem (17,4%) mais
significativa de católicos que aliam a participação semanal na missa com uma “atividade num movimento da paróquia/Igreja” do que na região da Madeira (12,2%) ou no continente (11%).

O estudo levado a cabo pelo Centro de Estudos e Sondagens de Opinião e o Centro de Estudos de Religiões e Culturas da Universidade Católica, analisou mais de mil respostas nas regiões autónomas, em Julho deste ano, depois de ter recolhido 4 mil inquéritos válidos no território continental em finais de 2011.

Os Açores contam com a menor percentagem de pessoas que “nunca ou quase nunca participa ou assiste a actos de culto religiosos” (13%), grupo que aumenta na Madeira (21%) e em Portugal continental (28%).

Entre aqueles que celebram esses actos, a “participação semanal” é a mais frequente em todas as regiões (Açores: 33,5%; Madeira: 28%; Portugal continental: 23%).

“Podemos dizer que metade dos inquiridos em Portugal (57, 5% nos Açores, 50% na Madeira e 45,7% em Portugal continental) mantém uma relação de proximidade com os actos de culto”, refere a síntese do estudo enviada à Agência ECCLESIA.

Também no que diz respeito às práticas de oração, os açorianos surgem em primeiro lugar (71,5%), juntando os que dizem rezar todos os dias e os que rezam irregularmente alguns dias da semana (59,7% em Portugal continental, 59% na Madeira).

Os números mostram que nos Açores a proporção mais elevada de católicos tem entre 15 e 24 anos (21,2%) e no arquipélago da Madeira entre os 25 e 34 anos (22,5%), diferenciando-se de Portugal continental, onde o grupo etário dos que têm mais de 65 anos é o que apresenta um maior número de fiéis (23,1%).

As respostas apresentadas nos Açores e na Madeira apontam, no entanto, “para uma diminuição progressiva da participação nos actos religiosos para além do período de socialização religiosa infantil”.

Os resultados relativos às regiões autónomas foram apresentados aos jornalistas pelo porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa, padre Manuel Morujão, acompanhado por Alfredo Teixeira, coordenador do estudo.

Além dos católicos, existem dois grupos com “alguma consistência” em todas as áreas (urbanas, semiurbanas e rurais) de Madeira e Açores: os “não crentes” (2,1-6,4%) e os “crentes sem religião” (entre 0,5-5%).

A assembleia plenária da CEP debateu os resultados do inquérito e prossegue os seus trabalhos até esta quinta-feira, dia em que vai ter lugar uma conferência de imprensa, pelas 14h30, com a divulgação do comunicado conclusivo.

OC

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Texto inédito do Papa Bento XVI

Publicado por ocasião do 50º Aniversário do início do Concílio Vaticano II

Foi um dia maravilhoso aquele 11 de Outubro de 1962 quando, com a entrada solene de mais de dois mil Padres conciliares na Basílica de São Pedro em Roma, se abriu o Concílio Vaticano II. Em 1931, Pio XI colocara no dia 11 de Outubro a festa da Maternidade Divina de Maria, em recordação do facto que mil e quinhentos anos antes, em 431, o Concílio de Éfeso tinha solenemente reconhecido a Maria esse título, para expressar assim a união indissolúvel de Deus e do homem em Cristo. O Papa João XXIII fixara o início do Concílio para tal dia com o fim de confiar a grande assembleia eclesial, por ele convocada, à bondade materna de Maria e ancorar firmemente o trabalho do Concílio no mistério de Jesus Cristo. Foi impressionante ver entrar os bispos provenientes de todo o mundo, de todos os povos e raças: uma imagem da Igreja de Jesus Cristo que abraça todo o mundo, na qual os povos da terra se sentem unidos na sua paz.
 

Foi um momento de expectativa extraordinária pelas grandes coisas que deviam acontecer. Os concílios anteriores tinham sido quase sempre convocados para uma questão concreta à qual deviam responder; desta vez, não havia um problema particular a resolver. Mas, por isso mesmo, pairava no ar um sentido de expectativa geral: o cristianismo, que construíra e plasmara o mundo ocidental, parecia perder cada vez mais a sua força eficaz. Mostrava-se cansado e parecia que o futuro fosse determinado por outros poderes espirituais. Esta percepção do cristianismo ter perdido o presente e da tarefa que daí derivava estava bem resumida pela palavra «actualização»: o cristianismo deve estar no presente para poder dar forma ao futuro. Para que pudesse voltar a ser uma força que modela o porvir, João XXIII convocara o Concílio sem lhe indicar problemas concretos ou programas. Foi esta a grandeza e ao mesmo tempo a dificuldade da tarefa que se apresentava à assembleia eclesial.
 

Obviamente, cada um dos episcopados aproximou-se do grande acontecimento com ideias diferentes. Alguns chegaram com uma atitude mais de expectativa em relação ao programa que devia ser desenvolvido. Foi o episcopado do centro da Europa – Bélgica, França e Alemanha – que se mostrou mais decidido nas ideias. Embora a ênfase no pormenor se desse sem dúvida a aspectos diversos, contudo havia algumas prioridades comuns. Um tema fundamental era a eclesiologia, que devia ser aprofundada sob os pontos de vista da história da salvação, trinitário e sacramental; a isto vinha juntar-se a exigência de completar a doutrina do primado do Concílio Vaticano I através duma valorização do ministério episcopal. Um tema importante para os episcopados do centro da Europa era a renovação litúrgica, que Pio XII já tinha começado a realizar. Outro ponto central posto em realce, especialmente pelo episcopado alemão, era o ecumenismo: o facto de terem suportado juntos a perseguição da parte do nazismo aproximara muito os cristãos protestantes e católicos; agora isto devia ser compreendido e levado por diante a nível de toda a Igreja. A isto acrescentava-se o ciclo temático Revelação-Escritura-Tradição-Magistério. Entre os franceses, foi sobressaindo cada vez mais o tema da relação entre a Igreja e o mundo moderno, isto é, o trabalho sobre o chamado «Esquema XIII», do qual nasceu depois a Constituição pastoral sobre a Igreja no mundo contemporâneo. Atingia-se aqui o ponto da verdadeira expectativa suscitada pelo Concílio. A Igreja, que ainda na época barroca tinha em sentido lato plasmado o mundo, a partir do século XIX entrou de modo cada vez mais evidente numa relação negativa com a era moderna então plenamente iniciada. As coisas deviam continuar assim? Não podia a Igreja cumprir um passo positivo nos tempos novos? Por detrás da vaga expressão «mundo de hoje», encontra-se a questão da relação com a era moderna; para a esclarecer, teria sido necessário definir melhor o que era essencial e constitutivo da era moderna. Isto não foi conseguido no «Esquema XIII». Embora a Constituição pastoral exprima muitas elementos importantes para a compreensão do «mundo» e dê contribuições relevantes sobre a questão da ética cristã, no referido ponto não conseguiu oferecer um esclarecimento substancial.
 

Inesperadamente, o encontro com os grandes temas da era moderna não se dá na grande Constituição pastoral, mas em dois documentos menores, cuja importância só pouco a pouco se foi manifestando com a recepção do Concílio. Trata-se antes de tudo da Declaração sobre a liberdade religiosa, pedida e preparada com grande solicitude sobretudo pelo episcopado americano. A doutrina da tolerância, tal como fora pormenorizadamente elaborada por Pio XII, já não se mostrava suficiente face à evolução do pensamento filosófico e do modo se concebia como o Estado moderno. Tratava-se da liberdade de escolher e praticar a religião e também da liberdade de mudar de religião, enquanto direitos fundamentais na liberdade do homem. Pelas suas razões mais íntimas, tal concepção não podia ser alheia à fé cristã, que entrara no mundo com a pretensão de que o Estado não poderia decidir acerca da verdade nem exigir qualquer tipo de culto. A fé cristã reivindicava a liberdade para a convicção religiosa e a sua prática no culto, sem com isto violar o direito do Estado no seu próprio ordenamento: os cristãos rezavam pelo imperador, mas não o adoravam. Sob este ponto de vista, pode-se afirmar que o cristianismo, com o seu nascimento, trouxe ao mundo o princípio da liberdade de religião. Todavia a interpretação deste direito à liberdade no contexto do pensamento moderno ainda era difícil, porque podia parecer que a versão moderna da liberdade de religião pressupusesse a inacessibilidade da verdade ao homem e, consequentemente, deslocasse a religião do seu fundamento para a esfera do subjectivo. Certamente foi providencial que, treze anos depois da conclusão do Concílio, tivesse chegado o Papa João Paulo II de um país onde a liberdade de religião era contestada pelo marxismo, ou seja, a partir duma forma particular de filosofia estatal moderna. O Papa vinha quase duma situação que se parecia com a da Igreja antiga, de modo que se tornou de novo visível o íntimo ordenamento da fé ao tema da liberdade, sobretudo a liberdade de religião e de culto.
 

O segundo documento, que se havia de revelar depois importante para o encontro da Igreja com a era moderna, nasceu quase por acaso e cresceu com sucessivos estratos. Refiro-me à declaração Nostra aetate, sobre as relações da Igreja com as religiões não-cristãs. Inicialmente havia a intenção de preparar uma declaração sobre as relações entre a Igreja e o judaísmo – um texto que se tornou intrinsecamente necessário depois dos horrores do Holocausto (shoah). Os Padres conciliares dos países árabes não se opuseram a tal texto, mas explicaram que se se queria falar do judaísmo, então era preciso dedicar também algumas palavras ao islamismo. Quanta razão tivessem a este respeito, só pouco a pouco o fomos compreendendo no ocidente. Por fim cresceu a intuição de que era justo falar também doutras duas grandes religiões – o hinduísmo e o budismo – bem como do tema da religião em geral. A isto se juntou depois espontaneamente uma breve instrução relativa ao diálogo e à colaboração com as religiões, cujos valores espirituais, morais e socioculturais deviam ser reconhecidos, conservados e promovidos (cf. n. 2). Assim, num documento específico e extraordinariamente denso, inaugurou-se um tema cuja importância na época ainda não era previsível. Vão-se tornando cada vez mais evidentes tanto a tarefa que o mesmo implica como a fadiga ainda necessária para tudo distinguir, esclarecer e compreender. No processo de recepção activa, foi pouco a pouco surgindo também uma debilidade deste texto em si extraordinário: só fala da religião na sua feição positiva e ignora as formas doentias e falsificadas de religião, que têm, do ponto de vista histórico e teológico um vasto alcance; por isso, desde o início, a fé cristã foi muito crítica em relação à religião, tanto no próprio seio como no mundo exterior.
 

Se, ao início do Concílio, tinham prevalecido os episcopados do centro da Europa com os seus teólogos, nas sucessivas fases conciliares o leque do trabalho e da responsabilidade comuns foi-se alargando cada vez mais. Os bispos reconheciam-se aprendizes na escola do Espírito Santo e na escola da colaboração recíproca, mas foi precisamente assim que se reconheceram servos da Palavra de Deus que vivem e trabalham na fé. Os Padres conciliares não podiam nem queriam criar uma Igreja nova, diversa. Não tinham o mandato nem o encargo para o fazer: eram Padres do Concílio com uma voz e um direito de decisão só enquanto bispos, quer dizer em virtude do sacramento e na Igreja sacramental. Então não podiam nem queriam criar uma fé diversa ou uma Igreja nova, mas compreendê-las a ambas de modo mais profundo e, consequentemente, «renová-las» de verdade. Por isso, uma hermenêutica da ruptura é absurda, contrária ao espírito e à vontade dos Padres conciliares.
 

No cardeal Frings, tive um «pai» que viveu de modo exemplar este espírito do Concílio. Era um homem de significativa abertura e grandeza, mas sabia também que só a fé guia para se fazer ao largo, para aquele horizonte amplo que resta impedido ao espírito positivista. É esta fé que queria servir com o mandato recebido através do sacramento da ordenação episcopal. Não posso deixar de lhe estar sempre grato por me ter trazido – a mim, o professor mais jovem da Faculdade teológica católica da universidade de Bonn – como seu consultor na grande assembleia da Igreja, permitindo que eu estivesse presente nesta escola e percorresse do interior o caminho do Concílio. Este livro reúne os diversos escritos, com os quais pedi a palavra naquela escola; trata-se de pedidos de palavra totalmente fragmentários, dos quais transparece o próprio processo de aprendizagem que o Concílio e a sua recepção significaram e ainda significam para mim. Em todo o caso espero que estes vários contributos, com todos os seus limites, possam no seu conjunto ajudar a compreender melhor o Concílio e a traduzi-lo numa justa vida eclesial. Agradeço sentidamente ao arcebispo Gerhard Ludwig Müller e aos colaboradores do Institut Papst Benedikt XVI pelo extraordinário compromisso que assumiram para realizar este livro.
 

Castel Gandolfo, na memória do bispo Santo Eusébio de Vercelas, 2 de Agosto de 2012.
 

BENTO XVI