quase um refrão repetido até à exaustão o do distanciamento entre eleitos e eleitores, ou, se quisermos, entre cidadãos e partidos políticos, o que estará na base, segundo algumas leituras, do aumento crescente da abstenção e do descrédito generalizado da política e da actividade partidária.
Talvez precisemos de nos lembrar que a actividade política e a democracia exigem a participação dos cidadãos, a qual não se resume ao voto nos actos eleitorais, mas supõe outras formas complementares e inovadoras de fazer política. As democracias, apesar de todas as suas limitações, podem ser aperfeiçoadas e é missão de todos nós, de forma individual ou organizada, darmos o nosso contributo.
Por outro lado, talvez necessitemos de uma nova geração de políticos, que, animados de um espírito novo, movidos por ideais nobres, e empenhados na defesa e construção do bem comum, se entreguem com generosidade e sentido de serviço ao bem das pessoas.
Não podemos deixar o campo da política entregue aos “profissionais” e depois ou criticamos, dizendo que é “mais do mesmo”, ou baixamos a cabeça e desinteressamo-nos, e passivamente deixamos que decidam por nós e hipotequem o nosso futuro.
No distante século XIII, S. Tomás de Aquino não tinha dúvidas em afirmar a nobreza e a crucial importância da política, pelo que a ela se deveriam dedicar “os melhores”. Como necessitaríamos hoje, em Portugal e no mundo, de meditar nestas sábias palavras!
A democracia possui virtualidades que a tornam não apenas um sistema, mas um processo que pode renovar-se, regenerar-se e repropor-se. Como diria o saudoso Papa João Paulo II, é necessário encontrar caminhos e propostas para melhorar as nossas democracias, para que elas retornem à sua essência e a essência da democracia é um regime no qual os cidadãos se sintam representados, identificados, comprometidos, e onde aqueles que governam não se esqueçam que foram eleitos para dar corpo à realização da res publica.
Padre Manuel António Guerreiro do Rosário