Apesar das diferentes visões, abordagens e propostas de solução, parece haver alguma convergência na aceitação da realidade dura e crua da crise que atravessa a sociedade portuguesa (e não só, mas também) e que afecta, em particular, os mais fragilizados, ameaçando deixar sulcos profundos no tecido humano, social e económico, de consequências ainda imprevisíveis, e sem que a solução se vislumbre com clareza.
A superação da crise, ou das crises, não passa apenas, penso eu, pelo Estado e por quem governa, por planos ou projectos estratégicos de carácter estrutural ou conjuntural, por opções de cariz meramente económico, mas depende também de nós, simples cidadãos, na medida em que formos capazes de dar à luz novos projectos, ou de conferirmos renovado vigor aos que já existem, e nem sempre foram devidamente valorizados. São, por isso, necessárias iniciativas que invertam a lógica pessimista, que teima em não nos abandonar, gestos ousados, concretos, continuados, de partilha e solidariedade, para além dos ciclos eleitorais e das estratégias de poder, independentemente do espaço reservado nas primeiras páginas dos principais mass media.
O nosso ADN de povo e nação tem-se caracterizado, ao longo dos séculos, pela capacidade, quase genial, de fazer das fraquezas forças e de encontrar soluções audazes para problemas que pareciam de solução impossível. Porque não reconhecemos isso e procuramos, de novo em nós, a força, as capacidades e caminhos de esperança e de superação? O nosso ADN, que eu saiba, não se alterou, e se “ontem” os nossos antepassados foram capazes de partir, contra ventos e marés, e os “velhos do Restelo”, porque não seremos nós hoje capazes de vencer e transformar os “Cabos das Tormentas” em “Cabos da Boa Esperança”?
Está nas nossas mãos superar o fatalismo e o pessimismo que paralisam, os proteccionismos e dependências que infantilizam. Fomos e somos capazes de vencer. Basta querer!
Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, n.º 1566, 27 de Abril de 2012