Escutei há dias uma notícia que considero verdadeiramente incrível: dois cientistas pretenderiam justificar o infanticídio com argumentos pretensamente racionais e científicos...
Fiquei atónito e perguntei a mim próprio para onde irá a nossa Sociedade, se teimar em empurrar para a frente, ou pura e simplesmente destruir, as fronteiras traçadas pela Ética? Será que podemos impunemente alterar valores estruturantes, movidos apenas por conveniências, ideologias e lobbies? Bastará, para o efeito, legislar em sede parlamentar, ou sujeitar a opinião pública a campanhas de pressão, levadas a cabo tantas vezes por minorias que dominam alguns dos grandes meios de comunicação?
Se se prosseguir por este caminho corre-se, entre outros riscos, o de deixar sem defesa os mais fracos da sociedade, que não se podem manifestar nem defender: os idosos, as crianças, os doentes, os mais pobres, as pessoas com deficiência, passando a vigorar a lei do mais forte, e deitando por terra os ganhos feitos em termos da defesa da dignidade e dos direitos do ser humano, sem dúvida, apesar de todas as contradições, uma das conquistas dos nossos tempos.
A diferença entre afirmações destes dois senhores acima mencionados e certamente de outros, e as posições das ditaduras que, para não irmos mais longe, marcaram o nosso vizinho século XX e foram causa de sofrimentos atrozes, destruições e mortes de milhões de pessoas, não são muitas, apesar das tentativas que possam ser feitas de as maquilhar e apresentar como sinal de evolução da sociedade, de emancipação do obscurantismo, expressão de liberdade própria dos regimes democráticos. Nada pode justificar a supressão de vidas humanas, seja em que fase for da sua existência.
A quem interessa esta confusão que pretende confundir os espíritos, sobretudo dos mais fracos?
Espero e desejo que o bom senso, a prudência, a justiça, a temperança, a fortaleza, virtudes cardeais já defendidas pelo grande Filósofo Aristóteles, não desapareçam do nosso horizonte, sob pena de se abrir a Caixa de Pandora, entrarmos no campo da pura arbitrariedade e poderem disparar, sem qualquer regulação e controlo, as desigualdades, as injustiças e os conflitos, neste Mundo, e conduzir à obnubilação, se não mesmo à perda irreversível, dos valores que fizeram da Europa e do Ocidente a pátria dos direitos humanos, estendidos depois aos demais Continentes e Povos.
Que a maioria (silenciosa) dos cidadãos não se deixe intimidar, nem abdique de se manifestar sobre estas novas formas de eugenia, mascaradas de democracia. Como nós católicos dizemos na Missa: Também se peca por omissão!
Quero também aproveitar esta ocasião para felicitar o "Ecos de Grândola" e a sua Directora por mais um aniversário e pela extraordinária qualidade jornalística deste projecto, onde se respira um são pluralismo e um ambiente de autêntica liberdade de imprensa, sem servilismos a lobbies, nem ideologias, autêntico serviço público prestado à comunidade e às legítimas diversidades que nela é possível encontrar, onde eu e a Igreja nos incluímos. Muito obrigada e coragem para continuar!
Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Ecos de Grândola, nº 240, 13 de Abril de 2012