domingo, 21 de julho de 2019

Ecologia Integral, Desenvolvimento Humano



Hoje em dia, quando se fala de Ecologia, o discurso centra-se preferencialmente na defesa dos animais, em especial dos que estão em vias de extinção, das plantas, da natureza em geral e, lamentavelmente, fala-se pouco do Homem. Quando se fala dele, é pelos piores motivos, ou seja, para o acusar de ser o causador destes desequilíbrios que nos afectam, e cujas consequências são já sensíveis, mas poderão vir a ser imprevisíveis e incontroláveis, num futuro próximo.

Não nego as responsabilidades humanas em muitos destes fenómenos atmosféricos, no desgelo, na poluição, na diluição e confusão das estações do ano, mas estou convencido, seguindo a Carta Encíclica Laudato Si (24 de Maio de .2015 do Papa Francisco, que é necessário apostar num novo protagonismo do Homem no seio da Criação.

Como gosta de dizer o Papa Francisco, a verdadeira Ecologia ou é humana, integral, ou não é Ecologia e, para o ser, deverá promover a centralidade do ser humano, privilegiando a defesa da sua dignidade e direitos, sobretudo dos mais frágeis e indefesos, daqueles que não se podem defender e que são, por isso mesmo, presa fácil de quem olha apenas para os seus interesses e para o “deus dinheiro”, não se preocupando com os meios para atingir os seus fins.

A resposta poderá passar também pela criação de uma nova consciência na gestão desta “Casa Comum", por uma atenção e um cuidado maiores para com o Ambiente, pela aposta prioritária num desenvolvimento sustentável, que privilegie, como gostava de dizer o Papa Paulo VI, "o Homem todo e todo o Homem·.

Falar de Desenvolvimento não é resumir-se à Economia, aos números, às coisas, é perceber que o ser humano deve estar no coração do progresso, não podendo ser reduzido apenas a uma variante, uma peça do sistema. O autêntico Desenvolvimento deve ser amigo da Natureza, mas deve ser; sobretudo, amigo do Homem. Não esqueçamos que este Mundo em que vivemos é marcado por profundas desigualdades e assimetrias: continua a morrer-se de fome, com doenças que já deviam estar debeladas; há uma tremenda falta de condições higiénicas na maior parte dos países; arrastam­se incapacidades crónicas em vários âmbitos, que facilmente poderiam estar vencidas; aumenta o fosso entre ricos e pobres, etc. Por outro lado, gastam-se rios de dinheiro em armas de destruição maciça; morre-se por obesidade e por doenças próprias das sociedades da abundância e do descarte; satisfazem-se caprichos de quem poderia, se partilhasse mais, resolver muitos dos problemas com que se debate o nosso Mundo.

Não pode haver verdadeiro Desenvolvimento, que para merecer este nome deverá ser humano, integral e solidário, enquanto a Justiça não marcar as agendas dos grande deste Mundo, e não se criarem condições para que tantas multidões famintas de alimentos e de esperança, não tenham de ser forçadas a partir sem um horizonte e sem a certeza de que chegarão a um porto seguro, para, a partir daí reconstruírem os seus projectos de vida.

Num Mundo tão desigual e injusto a Igreja, através da sua Doutrina Social, que muitos (mesmo cristãos) desconhecem, propõe um caminho de mudança, que passa pela aposta em quatro valores/pilares fundamentais: Solidariedade; Subsidiariedade; Unidade do Género Humano; Bem Comum.

Na impossibilidade de, neste espaço, os aprofundar, deixo o convite aos nossos leitores, para que procurem fazê-lo por si próprios. Prometo que voltarei a este tema noutras ocasiões.

in Ecos de Grândola, nº 324, 12 de Abril de 2019