domingo, 21 de julho de 2019

Prudência e Perseverança


dias, ao pensar nas oscilações atmosféricas e no conjunto das transformações que estão a afectar e a desequilibrar o meio ambiente e a natureza em geral, veio-me à memória uma palavra, que é uma das quatro virtudes cardeais, logo, das mais importantes, já desde Aristóteles (pelo menos): refiro-me à Prudência.

Prudência não é sinónimo de passividade, pois esta pode gerar a indiferença, criando em nós uma espécie de segurança que nos torna quase inócuos a qualquer tipo de afirmação, o que é negativo, porque nos retira energia, e anestesia em relação às diversas realidades do Mundo em que nos integramos.

A ausência da Prudência leva a que facilmente caiamos em afirmações às quais faltam, muitas vezes, consistência e até conteúdo científico, e podem gerar alarmismo. Como estamos no tempo das Redes Sociais, estas multiplicam num ápice este tipo de informações e afirmações (já não lhes chamo sequer Fake News).A Prudência, pelo contrário, considerada uma virtude maior pelos clássicos, é capaz de gerar em nós uma sã inquietação, que nos vai modelando e pode impedir de cairmos em atitudes extremistas, nas quais é tão fácil "escorregar", dando-nos inclusivamente uma capacidade de encarar o futuro com um olhar confiante e até profético.

Ligada à Prudência uma outra virtude chamada Perseverança, que bem poderia ser o seu complemento, pois, num contexto marcado pelo imediatismo, é fácil reagir como os foguetes: depressa o belos e chamam a atenção, mas também rapidamente desaparecem. O imediatismo pode ainda conduzir-nos à perda de memória, à indiferença, quase ingratidão, em relação a Deus e aos outros, pois, só interessa o momento, a solução tipo self service, descartável que se usa e deita fora, passando, quase sem reflexão ao episódio seguinte. A perseverança, pelo contrário, faz-nos mais reflexivos e a sua continuidade.

Estas duas virtudes serão para muitos, contra-corrente, mas a verdade é que é preciso, cada vez mais, exercer o discernimento nesta Sociedade, aprendendo a educar-nos e a usar com sagacidade o sentido crítico. A globalização, com efeito, tende a esbater as diferenças e a normalizar-nos, como se fizéssemos parte duma linha de montagem, retirando-nos as nossas especificidades e ameaçando tomar-nos episódicos, inconsistentes, acríticos. É isso que muitos querem e para isso trabalham Precisamos de estar atentos, sobretudo os mais jovens, pois, são aqueles que, sem se aperceberem, são facilmente manipuláveis por gente que vive e vende esta norma de vida: Vale tudo. Esta é uma postura falaciosa, embora aparente ser rebelde e inconformista. É preciso não esquecer que a aparência é uma das 3 tentações, juntamente com o Ter o Poder.


Vale pena remar contra a maré, quando esta não é autêntica, mas antes é comandada e conduzida por objectivos duvidosos e pré-definidos!


in Ecos de Grândola, nº 326, 12 de Junho de 2019