Há dias, ao pensar nas oscilações atmosféricas
e no conjunto das transformações que estão a afectar e a desequilibrar o meio ambiente e a natureza em geral, veio-me
à memória uma palavra, que é uma das quatro
virtudes cardeais, logo, das mais importantes, já desde Aristóteles (pelo menos): refiro-me à Prudência.
Prudência não é sinónimo de passividade, pois esta
pode gerar a indiferença, criando em nós uma espécie de segurança que nos torna quase inócuos a qualquer tipo de afirmação,
o que é negativo, porque nos retira energia, e
anestesia em relação
às diversas realidades do Mundo em que
nos integramos.
A ausência da Prudência
leva
a que facilmente caiamos em afirmações às quais faltam,
muitas vezes, consistência e até conteúdo
científico, e podem gerar alarmismo.
Como estamos no tempo das Redes Sociais, estas multiplicam num ápice este tipo de
informações e afirmações (já não lhes chamo sequer
Fake News).A Prudência, pelo contrário, considerada uma virtude maior
pelos clássicos, é capaz de gerar em
nós uma sã inquietação, que nos
vai modelando e pode impedir
de cairmos em atitudes extremistas, nas quais é tão fácil
"escorregar", dando-nos inclusivamente uma capacidade de encarar o futuro com um olhar confiante e até
profético.
Ligada à Prudência
há uma outra virtude chamada Perseverança, que bem poderia
ser o seu complemento, pois, num contexto marcado pelo imediatismo, é fácil reagir
como os foguetes: depressa são belos e
chamam a atenção, mas também rapidamente desaparecem. O imediatismo
pode ainda conduzir-nos à perda de
memória, à indiferença, quase ingratidão, em relação a Deus e aos outros,
pois, só interessa o momento,
a solução tipo self service, descartável que se usa e deita fora, passando, quase sem reflexão ao episódio seguinte.
A perseverança, pelo contrário, faz-nos
mais reflexivos e a sua continuidade.
Estas duas virtudes
serão para muitos, contra-corrente, mas a verdade é que é
preciso, cada
vez mais, exercer
o discernimento nesta
Sociedade, aprendendo a educar-nos e a usar com sagacidade o sentido crítico. A globalização, com efeito,
tende a esbater as diferenças e a normalizar-nos, como se fizéssemos parte duma linha de montagem, retirando-nos
as nossas especificidades e ameaçando tomar-nos episódicos, inconsistentes, acríticos. É isso que muitos querem e para isso trabalham Precisamos de estar
atentos, sobretudo os mais jovens, pois, são aqueles que,
sem se aperceberem, são facilmente manipuláveis por gente que vive e vende esta norma de
vida: Vale tudo. Esta é uma postura falaciosa, embora
aparente ser rebelde
e inconformista. É preciso não esquecer que a aparência é uma das 3
tentações, juntamente com o Ter o Poder.
Vale pena remar contra
a maré, quando esta não é autêntica,
mas antes é comandada e conduzida
por objectivos duvidosos e pré-definidos!
in Ecos de Grândola, nº 326, 12 de Junho de 2019