domingo, 28 de julho de 2019

O divórcio entre a Fé e a Vida


Há uns anos fiquei tocado e fui profundamente interpelado por esta frase, proferida pelo “Bom Papa” S. João XXIII, nos já longínquos anos 60. Dizia este extraordinário Pastor: que o maior escândalo dos “nossos tempos” era o divórcio entre a Fé e a Vida dos cristãos.

Ao longo dos anos tenho reflectido muitas vezes nesta frase e nas suas consequências, se, de facto, a levássemos a sério. Decerto teríamos uma Igreja bem diferente, uma Igreja como o Papa Francisco deseja, na linha do Concílio Vaticano II, o grande “Sinal” de Deus para os nossos dias:


- Uma Igreja que viva a alegria da Fé, que anuncie Cristo e não a si própria, e que tenha no Homem real, concreto e histórico, o caminho a seguir;

- Uma Igreja-comunhão, de irmãos, marcada pela corresponsabilidade e participação, mais próxima e acolhedora, demarcando-se definitivamente da estrutura piramidal, pré-conciliar, que poderia, hoje, tornar a Igreja uma mera “peça de Museu”;

- Uma Igreja empenhada na evangelização, em chegar. Ao caso da nossa Diocese, às 97, 96, 95, 94 “ovelhas” que estão fora do redil, e menos preocupada com questões menores e superficiais;

- Uma Igreja que não tem medo dos que “estão fora da Igreja”, antes olha para eles como pessoas a quem Deus ama e que se devem também sentir desejados nas nossas Paróquias, Serviços e Movimentos, particularmente, os que se encontram nas periferias humanas e existenciais;

- Uma Igreja misericordiosa, capaz de ser “um Hospital de Campanha”, num Mundo cheio de sofrimento e carente de sentido e de Deus;

- Uma Igreja menos preocupada em julgar farisaicamente, com base na objectividade, esquecendo a pessoa, a sua intenção e finalidade, e as circunstâncias que a rodeiam;

- Uma Igreja na qual o pastor é um servidor, que procura amar e entregar-se generosa e abnegadamente, àqueles que lhes estão confiados, recusando assumir o papel de funcionário, carreirista, que só atende ao horário previamente estabelecido;

- Uma Igreja mais empenhada em chegar aos jovens, não só com uma nova linguagem, mas, sobretudo, com uma nova forma de estar na vida e testemunhar o Evangelho;

Termino com outra frase do grande Papa e Santo Paulo VI: “o nosso Mundo tem mais necessidade de testemunhas do que de mestres, e só aceita os mestres se eles, antes, forem testemunhas”.

Manuel do Rosário
in Notícias do Alentejo, 11 de Julho de 2019