Há uns anos fiquei tocado e fui profundamente interpelado por esta frase, proferida pelo “Bom Papa” S. João XXIII, nos já longínquos anos 60. Dizia este extraordinário Pastor: que o maior escândalo dos “nossos tempos” era o divórcio entre a Fé e a Vida dos cristãos.
Ao longo dos anos tenho reflectido muitas vezes nesta frase
e nas suas consequências, se, de facto, a levássemos a sério. Decerto teríamos
uma Igreja bem diferente, uma Igreja como o Papa Francisco deseja, na linha do
Concílio Vaticano II, o grande “Sinal” de Deus para os nossos dias:
- Uma Igreja que viva a alegria da Fé, que anuncie Cristo e
não a si própria, e que tenha no Homem real, concreto e histórico, o caminho a
seguir;
- Uma Igreja-comunhão, de irmãos, marcada pela
corresponsabilidade e participação, mais próxima e acolhedora, demarcando-se
definitivamente da estrutura piramidal, pré-conciliar, que poderia, hoje, tornar
a Igreja uma mera “peça de Museu”;
- Uma Igreja empenhada na evangelização, em chegar. Ao caso
da nossa Diocese, às 97, 96, 95, 94 “ovelhas” que estão fora do redil, e menos
preocupada com questões menores e superficiais;
- Uma Igreja que não tem medo dos que “estão fora da Igreja”,
antes olha para eles como pessoas a quem Deus ama e que se devem também sentir
desejados nas nossas Paróquias, Serviços e Movimentos, particularmente, os que se
encontram nas periferias humanas e existenciais;
- Uma Igreja misericordiosa, capaz de ser “um Hospital de
Campanha”, num Mundo cheio de sofrimento e carente de sentido e de Deus;
- Uma Igreja menos preocupada em julgar farisaicamente, com
base na objectividade, esquecendo a pessoa, a sua intenção e finalidade, e as
circunstâncias que a rodeiam;
- Uma Igreja na qual o pastor é um servidor, que procura
amar e entregar-se generosa e abnegadamente, àqueles que lhes estão confiados,
recusando assumir o papel de funcionário, carreirista, que só atende ao horário
previamente estabelecido;
- Uma Igreja mais empenhada em chegar aos jovens, não só com
uma nova linguagem, mas, sobretudo, com uma nova forma de estar na vida e
testemunhar o Evangelho;
Termino com outra frase do grande Papa e Santo Paulo
VI: “o nosso Mundo tem mais necessidade de testemunhas do que de mestres, e só
aceita os mestres se eles, antes, forem testemunhas”.
Manuel do Rosário
in Notícias do Alentejo, 11 de Julho de 2019