A Igreja que peregrina neste Mundo é uma comunidade formada de gentes, em demanda da Terra Prometida, que tem na evangelização uma das suas tarefas primordiais, na fidelidade ao mandato recebido de Jesus.
Nesta missão a Igreja deve recorrer a todos os meios que potenciem o anúncio do Evangelho, e, por isso, os mass media e as redes sociais, ocupam hoje uma centralidade indiscutível. Contudo, como nos lembrava o Papa e Santo Paulo VI, na Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi (EN, 1975), nada substitui o contacto pessoal, a relação humana, no fundo, o testemunho (Cf. nn.45 e 46).
A afirmação deste clarividente Pontífice ap1ica-se a todas as áreas da actividade pastoral, mas há uma que tantas vezes tem sido descurada e que importa recuperar e valorizar. Como a clareza, a acuidade e a profecia, foram características distintivas do Papa timoneiro do Concilio Vaticano II, passo-lhe a palavra, citando o nº20 da EN:
(...)importa evangelizar, (...) de maneira vital, em profundidade e isto até às suas raízes, a civilização e as culturas do homem, (...) a partir sempre da pessoa e fazendo continuamente apelo para as relações das pessoas entre si e com Deus. O Evangelho, e consequentemente a evangelização, não se identificam por certo com a cultura, e são independentes em relação a todas as culturas. (...) A ruptura entre o Evangelho e a cultura é sem dúvida o drama da nossa época, como o foi também de outras épocas. Assim, importa envidar todos os esforços no sentido de uma generosa evangelização da cultura, ou mais exatamente das culturas.''
A Conferência Episcopal Portuguesa, em 1995, num importante documento intitulado "Instrução Pastoral sobre as seitas, um desafio à actividade pastoral da Igreja", afirmou, na fidelidade à EN, que só se poderia evangelizar Portugal, se se evangelizasse a Cultura(Cf. n°13).
Se quisermos recuar no tempo, regressemos ao Concílio Vaticano II, o qual na Constituição Gaudium et Spes, (GS, nº 58) afirmou que: "(...) a Igreja, vivendo no decurso dos tempos em diversos condicionalismos, empregou os recursos das diversas culturas para fazer chegar a todas as gentes a mensagem de Cristo, (...) é capaz de entrar em comunicação com as diversas formas de cultura, com o que se enriquecem tanto a própria Igreja como essas várias culturas. O Evangelho de Cristo renova continuamente a vida e cultura do homem(...)".
Para quem desejar aprofundar estas questões, proponho a leitura dos números 57 a 62 da GS, os quais constituem um verdadeiro manancial de reflexão sobre a Cultura, o respeito que ela nos merece, e a importância de não descurar nenhuma das áreas que a compõem. e que constituem um desafio permanente à missão da Igreja, que é como quem diz, de cada um dos cristãos, sobretudo, mas não exclusivamente, dos Leigos, pois, uma das suas tarefas prioritárias deve ser a "evangelização das realidades temporais". Parafraseando o Papa Francisco, creio que poderemos dizer que necessitamos de uma Igreja "com cheiro" a Cultura. A Nova Evangelização também o exige.
Pe. Manuel Aontónio Guerreiro do Rosário
26 de Novembro de 2020