Os tempos que atravessamos, fruto não só da pandemia provocada pelo COVID, mas de outras pandemias igualmente nefastas, desafiam-nos à criatividade, à ousadia, a atitudes fracturantes, que nos permitam vencer erros do passado e encarar com esperança o futuro, que somos convidados a construir, já e agora, com atitudes e apostas concretas.
Uma vez que estamos a viver uma situação, sem precedentes, que questiona as nossas seguranças e formas de vida, era bom que, vencida a crise, saíssemos reforçados e melhores enquanto pessoas, instituições, empresas, países, etc.
Na verdade, talvez nunca como hoje percebamos tão bem, que de vemos estar unidos, apesar das justas diferenças que nos caracterizam e distinguem, na procura de respostas aos muitos desafios, os quais provam que "a unidade faz a força", e que, por isso mesmo, precisamos de refrescar a memória, ultrapassar preconceitos e assumir posturas novas e audazes.
Esta é uma das lições que deveríamos retirar desta provação a sua superação com efeito, supõe a vitória e, consequente libertação, das cadeias da indiferença, do individualismo, do egoísmo, do isolamento e da autossuficiência. Só assim poderemos encontrar, e posteriormente globalizar, as respostas que, como Humanidade, devemos dar aos problemas que sentimos e que confirmam a realidade da interdependência.
A consciência de que somos uma única Família Humana, que habita numa única Casa Comum, deveria ganhar ainda mais raízes no nosso coração, nas nossas convicções e políticas, quer se trate do simples cidadão, quer, com maior razão, daqueles que tem nas suas mãos maiores responsabilidades governamentais e decisórias.
Temos a nosso favor; como nunca antes aconteceu, as redes e outras novas autoestradas da comunicação, que nos podem e devem ajudar a conhecermo-nos melhor, para vencermos preconceitos, dialogarmos mais eficazmente, estabelecermos relações mais sólidas, e construirmos soluções mais justas e equitativas para toda a Família Humana.
Nos anos 60 o grande Papa João XXIII , na Carta Encíclica Pacem inTerris (11 de Abril de 1963) propunha quatro pilares para a construção de sociedades capazes de vencerem as guerras e gerarem um autêntico desenvolvimento, a saber: Justiça, Verdade, Liberdade e Amor.
Este documento foi o primeiro da Doutrina Social da Igreja, a ter também como destinatários, "os homens e as mulheres de boa vontade". Esta inclusão ajudou a superar desconfianças e a fortalecer na Igreja a convicção de que todos, independentemente das nossas crenças, somos convidados a envolver-nos na construção do Mundo em que vivemos e na defesa do Homem, "real, concreto e histórico" (João Paulo II) porque, um Mundo melhor é possível e está nas nossas mãos.
in Ecos de Grândola, nº 343, 13 de Novembro de 2020