quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022


Há palavras que correm o risco de se tomarem chavões, vulgarizando-se, esvaziando-se de sentido, caindo na banalidade, quase insignificância. Na Igreja, uma dessas palavras é a Pastoral, abreviatura de acção pastoral.

Para começar, arrisco uma das possíveis definições: "Ação pastoral (católica) ou simplesmente pastoral é a ação da Igreja Católica no mundo ou o conjunto de atividades pelas quais a Igreja realiza a sua missão, que consiste primariamente em continuar a ação de Jesus Cristo. A palavra ''pastoral" deriva de pastor, que era um elemento constante no mundo bíblico." (Wikipédia)

Sem pretender aprofundar esta definição, decerto incompleta, gostaria, contudo, de recordar que a Pastoral é uma Ciência Teológica (teórica e prática), exige a Fé, mas também a Razão, através do recurso a um conjunto de ciências humanas e sociais que nos podem ser de grande utilidade (como por exemplo a Sociologia). No geral, divide-se em três áreas, que se completam: Pastoral Profética, Pastoral Litúrgica e Pastoral Sócio-Caritativa. Passando a questões mais concretas, creio que o desafio que muitas vezes nos é colocado na Pastoral, consiste em encontrar o equilíbrio entre a dimensão humana e a divina. Na verdade, precisamos de pensar, programar, definir estratégias, avaliar. Não devemos, porém, esquecer que a obra não é só nossa, nem depende só da nossa acção; pelo contrário, devemos pedir ao Senhor que envie sobre nós o Espírito Santo, para que seja Ele o verdadeiro motor da pastoral. Se assim não fizermos, corremos o sério risco dos projectos pastorais serem mero fruto dos nossos calculismos e estratégias, e não da Vontade de Deus; e a Igreja poderá vir a tomar-se, como nos previne o Papa Francisco, uma ONG, ou uma Multinacional de filantropia.

A verdadeira Pastoral exige pastores que tenham como modelo Jesus. o Bom Pastor; que não se pastoreiem a si próprios, mas antes dediquem a totalidade das suas vidas ao serviço daqueles que lhes foram confiados, não descansando enquanto não encontrarem também os transviados, marginalizados e indiferentes. Como o Mestre, devem fazer uma grande festa quando os encontram.

A este propósito, seria bom que todos os pastores lêssemos e reflectíssemos nas catequeses que Santo Agostinho escreveu, dirigindo-se a nós pastores, São fortes e interpelativas estas palavras, daquele grande pastor, um verdadeiro modelo a seguir. Não esqueçamos que o apelo à conversão, não pode ser apenas para os outros: nós devemos estar na primeira linha, disponíveis ao Espírito Santo. Não fiquemos confinados nas nossas seguranças.

A Pastoral, contudo, não se resume à acção dos pastores; ela supõe igualmente o compromisso dos cristãos leigos, os quais devem evitar a tentação da clericalização, refugiando-se dentro dos muros da Igreja. A sua missão, implica, com efeito, "sujar as mãe no Mundo", ou seja, levar a cabo a evangelização das realidades seculares, para que nelas sejam visíveis os sinais do Reino de Deus.

É vulgar dizer-se que a Igreja precisa de pastores. Creio que é mais evangélico dizer, que são necessários bons pastores; pois, um pastor que perdeu o ardor missionário, funcionalizando-se, não entusiasma os mais jovens e dificilmente encontrará quem lhe suceda na missão. Não é menos verdade, que necessitamos de bons cristãos, que vivam a alegria de o ser e que contagiem, pela verdade do testemunho, todos quantos os rodeiam.

No rescaldo dos 250 anos da Restauração da Diocese de Beja, olhemos para a realidade da Igreja que somos, para os frutos que produzimos, pois "pelos frutos se conhece a árvore", e perguntemos ao Senhor o que é que Ele quer de nós?! Não tenhamos medo de nos questionarmos, e de arriscarmos em apostar em caminhos de renovação, para que possamos ser de verdade a Igreja que Jesus quer para este Alentejo, no Século XXI.

Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
03 de Dezembro de 2020