O tempo
da Quaresma que estamos a atravessar. e que desagua
na Páscoa, seu delta natural, desperta habitualmente em mim algumas perguntas,
que não resisto em deixar
no ar: O que é que distingue e acrescenta à nossa existência o facto de acreditarmos
em Jesus? Que testemunho damos nós cristãos da nossa
fé, diante daqueles
com quem nos cruzamos em casa ou na vida?
Se o Evangelho é Boa Notícia e Jesus é esta Boa Noticia
personificada, porque nos falta coragem, audácia
e desassombro, para vivermos alegremente a nossa condição de
cristãos?
Às vezes, dá a impressão que ficámos estacados ao pé da Cruz. ou à porta
do Sepulcro, expectantes. Outras
vezes, parece que nos
limitamos
a contemplar o Cristo
crucificado, sem descobrir que Ele não ficou cravado na Cruz, mas está vivo, e a força Sua vitória sobre a
morte deveria transformar-nos como aconteceu com os Apóstolos, os discípulos, e todos aqueles que se encontraram com o Ressuscitado.
A ressurreição é, com
efeito, o acontecimento fundante da fé cristã e, todavia, parece
que ainda não lhe reconhecemos essa centralidade nas nossas vidas. Dá a impressão que nós cristãos, eu incluído, somos, não raro, pouco "pascais": falta-nos descobrir em profundidade o significado e as consequências da Ressurreição de Cristo; e, contudo, se Ele não tivesse ressuscitado,
vã seria a nossa fé, diz S. Paulo (cf.
1 Cor 15, 17).
A fé
cristã é. dizia o Papa Bento
XVI, essencialmente
um "encontro", entre nós, seres humanos, e o Senhor
ressuscitado; um encontro que deveria
mudar-nos por dentro e produzir em nós frutos de vida
nova, qual enxerto, como diz S. Paulo: de "oliveira mansa em oliveira brava" (cf. Rom 11, 17).
É verdade que não somos
santos e infalíveis,
mas pecadores, e
todos feitos da mesma massa, mas, não é menos verdade que em
Cristo fomos adaptados como filhos
de Deus, recebemos uma vida nova, somos
por Ele amados,
ao ponto de ter dado por nós a Sua Vida. Como o amor quer ser amado,
disponhamo-nos a segui-lO, pedindo-Lhe que nos converta, de verdade, e não apenas
teoricamente, para podermos
dar, com a Sua Graça e como Ele espera, frutos de santidade
neste Mundo, que
necessita de Deus, apesar de nem sempre o assumir, procurando
encontrar sucedâneos, cujas respostas acabam por ser insatisfatórias. Com efeito, sem
Deus o ser humano
continuará a ser um mistério sem
resposta às questões essenciais da sua vida, as quais radicam no fundo do seu coração. Só o Ressuscitado,
porque se fez um de nós, nos pode
verdadeiramente entender, e colmatar o vazio que em
nós existe.
A Páscoa que se avizinha exorta-nos, pois, a estarmos mais
atentos aos sinais de tantos homens e mulheres que
buscam autenticamente Deus e um sentido para as suas vidas. A nossa missão, enquanto cristãos, apesar
das limitações impostas
pela pandemia, é, pois, imitarmos
a primeira comunidade apostólica, que nos legou em herança o tesouro da fé, e, como ela, darmos testemunho da nossa condição de filhos da Luz (cf. Ef 5,8). porque, em Cristo
ressuscitado, temos a certeza que a Luz é mais forte do que as trevas.
Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
01 de Abril de 2021