sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Páscoa, coração da fé cristã



O tempo da Quaresma que estamos a atravessar. e que desagua na Páscoa, seu delta natural, desperta habitualmente em mim algumas perguntas, que não resisto em deixar no ar: O que é que distingue e acrescenta à nossa existência o facto de acreditarmos em Jesus? Que testemunho damos nós cristãos da nossa fé, diante daqueles com quem nos cruzamos em casa ou na vida? Se o Evangelho é Boa Notícia e Jesus é esta Boa Noticia personificada, porque nos falta coragem, audácia e desassombro, para vivermos alegremente a nossa condição de cristãos?

Às vezes, dá a impressão que ficámos estacados ao  da Cruz. ou à porta do Sepulcro, expectantes. Outras vezes, parece que nos limitamos a contemplar o Cristo crucificado, sem descobrir que Ele não ficou cravado na Cruz, mas está vivo, e a força Sua vitória sobre a  morte deveria transformar-nos como aconteceu com os Apóstolos, os discípulos, e todos aqueles que se encontraram com o Ressuscitado.

A ressurreição é, com efeito, o acontecimento fundante da cristã e, todavia, parece que ainda não lhe reconhecemos essa centralidade nas nossas vidas.  a impressão que nós cristãos, eu incluído, somos, não raro, pouco "pascais": falta-nos descobrir em profundidade o significado e as consequências da Ressurreição de Cristo; e, contudo, se Ele não tivesse ressuscitado, vã seria a nossa fé, diz S. Paulo (cf. 1 Cor 15, 17).

A cristã é. dizia o Papa Bento XVI, essencialmente um "encontro", entre nós, seres humanos, e o Senhor ressuscitado; um encontro que deveria mudar-nos por dentro e produzir em nós frutos de vida nova, qual enxerto, como diz S. Paulo: de "oliveira mansa em oliveira brava" (cf. Rom 11, 17).

É verdade que não somos santos e infalíveis, mas pecadores, e todos feitos da mesma massa, mas, não é menos verdade que em Cristo fomos adaptados como filhos de Deus, recebemos uma vida nova, somos por Ele amados, ao ponto de ter dado por nós a Sua Vida. Como o amor quer ser amado, disponhamo-nos a segui-lO, pedindo-Lhe que nos converta, de verdade, e não apenas teoricamente, para podermos dar, com a Sua Graça e como Ele espera, frutos de santidade neste Mundo, que necessita de Deus, apesar de nem sempre o assumir, procurando encontrar sucedâneos, cujas respostas acabam por ser insatisfatórias. Com efeito, sem Deus o ser humano continuará a ser um mistério sem resposta às questões essenciais da sua vida, as quais radicam no fundo do seu coração. o Ressuscitado, porque se fez um de nós, nos pode verdadeiramente entender, e colmatar o vazio que em nós existe.

A Páscoa que se avizinha exorta-nos, pois, a estarmos mais atentos aos sinais de tantos homens e mulheres que buscam au­tenticamente Deus e um sentido para as suas vidas. A nossa missão, enquanto cristãos, apesar das limitações impostas pela pandemia, é, pois, imitarmos a primeira comunidade apostólica, que nos legou em herança o tesouro da fé, e, como ela, darmos testemunho da nossa condição de filhos da Luz (cf. Ef 5,8). porque, em Cristo ressuscitado, temos a certeza que a Luz é mais forte do que as trevas.


Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário

01 de Abril de 2021