sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

No rescaldo da Páscoa


Já o referi noutros textos, que devemos ser mais pascais, não porque seja moda, ou o Papa Francisco a isso nos exorte, mas simplesmente porque ser cristão, é ter a consciência clara de que a Igreja ou é pascal ou não é Igreja!

A Páscoa é sinal da absoluta novidade do Evangelho, que não se confunde com uma mera doutrina humana de bem-fazer, ou com uma "multinacional de filantropia", ou uma "ONG" ,diria o Papa Francisco. Não, a Igreja é muito mais do que isso, ela é autenticamente um milagre vivo, pois, apesar dos erros e dos pecados dos seus membros, ao longo destes dois milénios, o Senhor não desiste dela e não cessa de a exortar à conversão, renovando-a, enriquecendo-a de santos em cada época, de obras maravilhosas, de carismas inovadores, e de desafios emergentes dos novos campos de evangelização.

Creio que muitas vezes nós cristãos corremos o risco de fazer tábua rasa do Evangelho, quando nos esquecemos (deli­beradamente ou não o Senhor o saberá) do convite que o Ressuscitado nos faz, a que O sigamos, nos desprendamos daquilo que não é essencial, nos despojemos das pompas e dos privilégios do "glorioso" (dizem os saudosistas) passado, e acolhamos o desafio do presente. Viver agarrado ao passado é, aliás, pecar contra o Espírito Santo, que não desceu apenas sobre aquela comunidade reunida em oração no dia de Pentecostes. mas continua criativamente actuante, em cada época, na prossecução do projecto de salvação que o Pai tem para toda a Humanidade, e que Jesus veio inaugurar. O Mundo não pára e se nós pararmos no tempo, com saudades das "cebolas do Egipto", (cf. Nm 11, 4ss), ficaremos reduzidos à insignificância, qual seita que ninguém leva a sério.

Como afirmou o nosso Papa e Santo João Paulo II: "a via da Igreja (porque foi a via de Cristo) é o Homem real, concreto, histórico". (cf. RH 13) Este Homem vive num Mundo que é obra de Deus e onde Ele continua vivo e actuante. A lgreja não deve, por isso, ter medo de se envolver no Mundo, à maneira de Jesus, que não excluía ninguém, mas antes procurava, sobretudo, as "ovelhas perdidas" (cf. Mt 9,35-10,1.6-8), pois são essas que, por estarem doentes, mais precisam do Médico Divino. O nosso Mundo, como diz o Papa Francisco, necessita de uma Igreja que seja um autêntico "Hospital de Campanha", e de sacerdotes com "cheiro a ovelha", ou seja, pastores que tenham por modelo o único e verdadeiro Pastor, que veio para "servir" e "não para ser servido" e "dar a vida" (cf. Mt. 20,28). Não fiquemos insensíveis, sobretudo os jovens, às necessidades de tantas comunidades, dentro e fora da nossa Diocese, que necessitam de pastores como de pão para a boca. Não bastam belos discursos e esquemas pastorais cozinhados em "labo­ ratório", se faltarem jovens que queiram arriscar a vida por Cristo na Igreja, entregando-se sem calculismos nem projectos de promoção pessoal ou de grandeza. Vale a pena seguir o Senhor e entregar-Lhe a vida, pois, como Ele próprio disse: "quem perder a vida por mim...ganhá-la á" (cf Lc 9,22-25).

No rescaldo da Páscoa, vivida ainda sob as limitações da pandemia, peçamos ao Senhor que envie em abundância sobre a Igreja e sobre cada um de nós cristãos, na diversidade das vocações, o Espírito Santo em torrente, para que a nossa conversão não seja mero estribilho que cansa e não convence, mas seja, na verdade, uma realidade evidente, indiscutível, que contagie naturalmente quem procura a Deus e também por Ele é procurado.

Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
3 de Junho de 2021