quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Fortalecer, viver e propor o espírito de Natal


Uma das missões que como cristãos devemos assumir, em cada Natal, e neste Natal concreto que se aproxima, consiste em trabalhar para que não se perca, nem desvirtue, o seu verdadeiro sentido: nascimento do nosso Salvador, Jesus Cristo, Filho de Deus, que assumiu a nossa humanidade, para nos elevar à condição de filhos de Deus, filhos no Filho (Cf. Gal 3,26), e irmãos.

Natal é, pois, a Festa da nova Humanidade e da Fraternidade Universal, que Jesus veio instaurar, convidando-nos a ser "homens novos", dirá S. Paulo, com um coração novo, não de pedra, mas moldado pelo Espírito Santo, que quer gravar em nós a nova Lei do Amor. Contudo, para sermos homens novos, precisamos de transformar as "espadas em relhas de arado e as lanças em foices" (Cf. Is 2,4); pois, se nada mudar na nossa vida, este será apenas mais um Natal, diferente pelos condicionalismos a que nos relegou a pandemia, mas sem mais nada que o distinga e caracterize.

Este tempo convida-nos a quebrar rotinas, a descentrarmo­ nos de nós próprios, a abrirmo-nos ao absolutamente Outro, deixando-nos surpreender e desafiar por Ele, que nos quer inundar com a Sua presença e o Seu amor, convidando-nos a gue embarquemos com Ele, sem temor. Na viagem da nossa vida, temos a certeza de que não estamos sós, Ele é o Emanuel, Deus connosco, que nunca nos abandona, que se faz nosso companheiro de jornada, como fez com os discípulos de Emaús, para preencher de luz, sentido e verdade a nossa vida, respondendo às perguntas mais pertinentes, inquietantes e significativas, que se colocam ao coração humano ao longo da sua caminhada existencial.

O Menino nascido em Belém, não se cansa de insistir connosco, que o amor a Deus se prova no amor ao próximo, e o amor tem muitos nomes, tal como o próximo. Por isso, não fiquemos apenas pela vivência interior do Natal, prolonguemo­-lo e enriqueçamo-lo com gestos de partilha, de amor feito pão, de generosidade, de paz e reconciliação, confiando que, se fizermos a nossa parte, o Senhor tornará possível aquilo que está acima das nossas forças, porque Ele é o Deus dos impossíveis.

O Natal lembra-nos, pois, que há tanto bem para fazer, mesmo de forma discreta e simples, que não podemos nem devemos ficar parados, indiferentes, inertes. Ele é ainda convite a que partamos ao encontro do outro, quer ele seja desconhecido e habite lá longe, num qualquer fuso horário, ou viva no outro lado da nossa rua, numa casa a cuja porta passamos tantas vezes, sem que dele nos tenhamos apercebido.

Acolhamos também os apelos que o Papa Francisco nos faz, a que respeitemos o equilíbrio da nossa Casa Comum, contribuindo para um justo desenvolvimento, evitando poluir e destruir este património comum, muito dele irreparável, optando por um estilo de vida mais simples e frugal, que exclua o desperdício, e abandonando atitudes egoístas e misantropas, que não servem a ninguém e só fazem aumentar o fosso entre ricos e pobres; Norte e Sul, Ocidente e os outros; G20 e G0. Se não pudermos mudar o Mundo, que, pelo. menos, neste Natal, a nossa vida seja um livro ainda mais aberto, onde o Senhor possa escrever, connosco, mais um belo capitulo da Civilização do Amor (Santo Paulo VI), que se iniciou há 2000 anos com o nascimento do Menino-Deus, que é possível estabelecer entre nós seres humanos, e terá o seu epílogo no final dos tempos.

Um santo Natal e um abençoado Ano Novo, sob a protecção de S.1osé, nosso Padroeiro e Modelo a imitar.

Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
24 de Dezembro de 2020