Entre os dias 18 e 21 de Janeiro, o Clero das Dioceses de Évora, Beja e Algarve, viveu uma experiência extraordinariamente enriquecedora e desafiante: a Atualização Interdiocesana. Este ano, devido à pandemia e através da plataforma Zoom.
Apesar de lhe faltar a dimensão do encontro humano e do convívio, das celebrações e de toda a envolvência das últimas Actualizações, que têm tido como palco o Hotel Alísios, em Albufeira, foi esta a forma possível de não perdermos uma ocasião formativa única, considerada exemplar a nível nacional.
Ao escutar as reflexões profundas dos oradores, as experiências que nos comunicaram, e os desafios que nos lançaram, forçoso é concluir que temos necessidade premente de formação, para melhor podermos servir aqueles a quem somos enviados, e para que não se extinga em nós aquela salutar insatisfação, que nos faz querer ir sempre mais longe. Tinha razão o Filósofo Sócrates ao afirmar: "eu só sei que nada sei". É preciso, pois, estar aberto à novidade, e, sobretudo, ao Espírito Santo que nos vai surpreendendo, abrindo sulcos, rasgando clareiras. e conduzindo-nos por novos caminhos, quando tudo parecia obscuro, inseguro e duvidoso.
A partir de algumas intervenções foi possível traçar uma espécie de retrato do Homem hodierno, o qual aparece como alguém que recusa e se afasta de uma Igreja rotineira, carreirista, autoritária, moralista, ausente e distante da vida real. Contudo, noutros inquéritos e estudos de opinião, este mesmo Homem também se revela desiludido e cansado com os deuses que lhe propuseram, qual el Dorado de falsas e ilusórias seguranças, que se têm vindo a revelar enganadoras. O resultado, só poderia ser desilusão e mais vazio. Permanece, porém, nele o desejo profundo de autenticidade, de verdade e de sentido. Com efeito, ele continua a ser "um animal religioso", um buscador que procura Deus, mesmo que O não encontre nas formas tradicionais de organização religiosa.
É verdade que este Homem não se satisfaz com "mais do mesmo" e, não o esqueçamos, há hoje muitas outras propostas para além do Cristianismo. O Homem hodierno com as suas inquietações, constitui um autêntico desafio à Igreja e pode mesmo ser interpretado como um verdadeiro Sinal dos Tempos, e quiçá, um desafio à conversão, e à renovação, acolhendo as moções do Espírito Santo, verdadeiro motor da vida e acção da Igreja.
A renovação supõe voltar sempre às origens, e redescobrir a força transformadora do Evangelho, como no-lo confirma a vida das primeiras comunidades cristãs e o testemunho de multidões de homens, mulheres, jovens e crianças, ao longo dos séculos.
A Igreja acredita e o Concílio Vaticano II afirmou-o, há 50 anos: só Cristo pode encher de pleno sentido a vida do Homem, e responder às perguntas mais profundas do seu coração. Por isso, é preciso anunciá-l'O, com desassombro, em palavras e obras. Numa palavra, como disse o nosso querido Papa e Santo João Paulo II, no Jubileu do ano 2000, é preciso abandonar uma certa "mediocridade de vida", e "aspirar à santidade".
O Papa tinha como destinatários principais das suas palavras os jovens, mas elas podem bem ser propostas a toda a Igreja e a todos na Igreja. Acolhamo-las, para que elas dêem fruto na nossa vida e no Mundo em que vivemos.
Pe. Manuel António do Rosário
28 de Janeiro de 2021