nota comum afirmar-se que existe desinteresse e separação entre os cidadãos e a política em geral. Não me sinto capacitado para aprofundar
as razões de tal separação, mas creio ser oportuno, depois das eleições autárquicas, que se façam leituras dos resultados e também da abstenção (o maior “partido político”).
De facto, o absentismo eleitoral envergonha-nos enquanto País democrático, pois, há centenas de milhões de pessoas que gostariam de poder votar e não lhes é concedido.
Se é verdade que a participação não se esgota no ato de votar, por aí passa o caminho da revitalização e credibilização das nossas democracias. Como pode, pois, criticar quem se recusa a exercer o seu direito/dever de escolher quem irá governar?
Não tendo pretensões a analista político, nem militando em qualquer partido, limitar-me-ei a refletir um pouco sobre este tema, que a todos nos diz respeito.
Antes de mais, gostaria de dizer que coloquei em itálico o título deste artigo, para clarificar que a afirmação não é da minha autoria, mas sim do extraordinário pensador, teólogo e filósofo, S. Tomás de Aquino, o qual, em pleno século XIII, teve a clarividência e a coragem de a proferir.
A atividade política é, sem dúvida, uma nobre missão, crucial na nossa vida em sociedade. O seu grande objetivo deveria ser criar as condições para a instauração de verdadeiros regimes democráticos, onde a defesa da pessoa humana, da sua dignidade, liberdade e direitos, e a prossecução do bem comum, fossem realidade e não aspiração.
Face à grandeza desta missão, a política exige atores que sejam opção primeira, escolhidos pelo seu mérito e competências, e não exclusivamente pelo seu curriculum político-partidário. Só pessoas animadas por este mesmo espírito, e “capazes de sujar as mãos” no concreto da vida, como diz o Papa Francisco”, serão capazes de dar corpo a estes objetivos, servir, e responder aos justos anseios das populações.
Estas pessoas existem!
Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, 15 de Outubro de 2021