quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Novembro ou a fragilidade da vida humana?!


ste período do ano convida à reflexão sobre a precariedade da vida humana; a própria natureza nos convida. A fragilidade da vida humana é, com efeito, uma dessas verdades indiscutíveis, que a doença, o sofrimento e, sobretudo a morte confirmam, pondo em causa as nossas seguranças e projetos.
Como cristão, mas sobretudo como padre, habituei-me a lidar quase diariamente com o sofrimento e a morte, e os sentimentos que lhe são conaturais: revolta e aceitação, inconformismo e resignação, desalento e esperança.
À luz da fé cristã acredito que no sofrimento nunca estamos sós, e ele pode ser, em tantas situações, ocasião de crescimento interior. A presença amiga, calorosa e afetuosa, e os cuidados de saúde adequados e dignos, podem fazer toda a diferença e ajudar à superação, quando for possível. É nestas situações limite que se revela, por vezes, a grandeza do ser humano.
Para nós, cristãos, a morte também não é um absoluto desconhecido, o final de tudo, um final tantas vezes injusto, quando a vida é interrompida, mal estava a desabrochar… Sei que não é fácil consolar, dar esperança e sentido, quando tantos projetos e utopias são brusca e inesperadamente interrompidos! Às vezes brotam apenas as palavras: “coragem”; “vou rezar por vós”. Noutras ocasiões, apenas falam a presença, o olhar e os gestos, linguagem também reconfortante e iluminadora.
Acredito e afirmo-o vezes sem fim: Deus não nos castiga com o sofrimento e a morte. Não. O Deus em quem acreditamos é Pai, nós somos, em Jesus, seus filhos, e o nosso horizonte é a eternidade.
O que acabei de afirmar faz sentido para quem é cristão. Como é óbvio, respeito quem não tem fé, ou pensa de forma diferente.
Ao longo da minha vida tenho encontrado gente que procura Deus, e é na liberdade que o encontro se pode dar; mas também não é menos verdade que Deus nos procura, porque nos conhece, nos ama e se nos quer revelar. Os caminhos são diversos, mas Deus é um pedagogo extraordinário.

Pe. Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, 03 de Dezembro de 2021