quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Hanna-Barbara Gerl-Falkovitz

«Estudando Filosofia fiz-me crente» disse uma catedrática que segue Guardini e Edith Stein

Também é seguidora de santa Hildegarda de Binguen, nomeada Doutora da Igreja por Bento XVI, que transmitiu uma teologia da criação fundada bíblica e monasticamente.

Actualizado 18 Dezembro 2012

Sara Martín / ReL

Filósofa como forma de vida. Desde 2011 é presidente do Instituto Europeu da Filosofia e a Religião em Heiligenkreuz (Viena), e até este momento havia sido professora da Universidade de Mónaco de Baviera, Bayreuth, Tübingen e Eichstätt, além de ocupar-se da cátedra de Filosofia da Religião e da Ciência Religiosa comparada na Universidade Técnica de Dresde.

Todo um curriculum que a acredita como merecedora de ser escutada. Um curriculum, também, que lhe podia ter levado à não crença mais absoluta, como sucedeu a tantos grandes filósofos. Sem dúvida, Hanna-Barbara Gerl-Falkovitz viveu a experiência contrária: da religiosidade natural, básica, à reflexão profunda e enraizada da fé.

Numa entrevista concedida ao diário italiano L´Osservatore Romano, a catedrática assegura «que a grande filosofia se alimenta normalmente de um potencial religioso»: «Encontrei-me com Romano Guardini e com Edith Stein. Os dois foram os meus mestres póstumos. O coração do meu trabalho é o século XIX e o XX porque se concentra neles um grande legado: a filosofia da religião», explica.

«A reflexão filosófica iluminou a minha fé»
Quando era adolescente, formava parte de um grupo de jovens cristãos: «Ali podíamos expressar a nossa crítica à Igreja, mas fomos guiados inteligentemente a uma reflexão mais profunda por uma jovem teóloga. Estas discussões abertas, mas também ir à Eucaristia, foram importantes para reforçar-me na fé», começa a explicar.

«A reflexão filosófica», aponta não obstante, «iluminou-me e fortaleceu muitas proposições da fé que não tinha claras: converti-me verdadeiramente estudando Filosofia».

Viveu num mundo maioritariamente masculino — mais ainda, na sua época de estudante universitária, os anos sessenta—, e só conheceu uma professora em toda a sua carreira.

«Através da leitura, conheci muitas mulheres importantes, desde o cristianismo antigo até o Renascimento italiano e alemão. No século XX foram especialmente Edith Stein, Ida Friederike Görres e Simone Weil. Ocupei-me objectivamente da teologia feminista desde os anos setenta, sobretudo da história da mulher e da ‘imagem’ masculina de Deus».

Nesse momento, a ideologia começou a dirigir-se cada vez mais até o que a catedrática chama uma «liturgia da mulher, uma construção de uma espécie de matriarcado». E foi aí quando começou a sua crítica: «Era um conjunto de ideais que soavam irreais e, mais ainda, coxos».

Começou a julgar criticamente figuras como Simone de Beauvoir, com a sua proposta de masculinização da mulher, e sobretudo a ideologia de género, que «degradou o corpo à corporeidade neutral: «Sobre este tema podem-se aprender muitas coisas boas lendo a história das mulheres cristãs hoje em dia esquecidas», enfatiza.

A inspiração das santas mulheres: Santa Hildegarda
Mas Edith Stein não é a única mulher que «tocou» profundamente a catedrática de Filosofia. Também o fez a famosa santa Hildegarda, recentemente nomeada por Bento XVI como Doutora da Igreja. Um fenómeno isolado ou um crescente reconhecimento por parte da Igreja de todo o potencial feminino? «A grande beneditina do século XII encontrou, surpreendentemente, eco entre nós graças à sua ´medicina verde alternativa´. Muitos maravilharam-se ao conhecer esta amiga da natureza, poetisa e música. Mas o núcleo central de santa Hildegarda é outro: ´a boa ciência´ (laeta scientia) de uma teologia da criação fundada bíblica e monasticamente». Para Gerl-Falkovitz, santa Hildegarda é uma referência religiosa imprescindível: «Foi uma grande visionária, e está estreitamente vinculada a São Francisco de Assis, como uma ´irmã mais velha´», opina.

A relação com Bento XVI
«Por desgraça, não conheci Joseph Ratzinger durante a minha época estudantil, mas sim em 1976», explica a catedrática.

«Sem dúvida, o seu pensamento sempre me interessou muito, hoje muito mais fortemente que antes». Expressa a sua admiração pela obra filosófica do Pontífice, que considera imprescindível: «Porque soa como propaganda defender o ´ecumenismo da razão´ de um Papa? O Papa fala de uma religiosidade do pensamento: a conversão à realidade».


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