segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

O jovem de 23 anos que pôs as coisas claras a cardeais e bispos no Vaticano

Actualizado 6 Dezembro 2012

Por Jorge Enrique Mújica, LC

De 7 a 28 de Outubro de 2012 ocorreu no Vaticano o sínodo dos bispos sobre o tema da nova evangelização no terceiro milénio. Cardeais e bispos católicos de todo o mundo puderam expor e discutir pontos de vista sobre este tema de tanta relevância para a vida da Igreja católica.

Alguns laicos também puderam participar como auditores. Um deles foi Tommaso Spinelli, um jovem italiano de 23 anos que deixou com os olhos abertos todos os bispos presentes. É que Tommaso tem claro que a evangelização passa pelos pastores, pelos sacerdotes, daí que as suas palavras tenham suscitado admiração e tenham dado matéria para a reflexão.

Não é habitual que um jovem de 23 anos ponha as coisas claras aos bispos do mundo... Que foi que lhes disse? O que espera um jovem católico da nova evangelização? Este foi o discurso - por certo muito breve - do participante mais jovem no passado Sínodo (uma leitura especialmente recomendada para sacerdotes e pessoas consagradas):

*** 
"A minha reflexão quer ser simplesmente uma ajuda para entender que espera um jovem da nova evangelização.

Vós os sacerdotes – dirigindo-se aos bispos - haveis falado sobre o papel dos laicos, eu que sou laico, quero falar do papel dos sacerdotes.

Nós os jovens temos necessidade de guias fortes, sólidos na sua vocação e na sua identidade. É de vós, sacerdotes, de quem nós aprendemos a ser cristãos, e agora que as famílias estão mais desunidas, o vosso papel é todavia mais importante para nós. Vós nos testemunhais a fidelidade a uma vocação, nos ensinais a solidez na vida e a possibilidade de escolher um modo alternativo de viver, sendo este mais belo que o que nos propõe a sociedade actual.

A minha experiência testemunha que ali onde há um sacerdote apaixonado a comunidade, em pouco tempo, floresce. A fé não perdeu atractivo, mas é necessário que existam pessoas que a mostrem como uma eleição séria, sensata e credível.

O que me preocupa é que estes modelos se converteram numa minoria. O sacerdote perdeu confiança na importância do seu próprio ministério, perdeu carisma e cultura. Vejo sacerdotes que interpretam "dedicar-se aos jovens" com "travestir-se de jovem" ou, pior ainda, viver o estilo de vida dos jovens. E o mesmo na liturgia: no intento de fazer-se originais convertem-se em insignificantes.

Peço-lhes a coragem de serem vós mesmos. Não temais, porque ali onde sejais autênticamente sacerdotes, ali onde proponhais sem medo a verdade da fé, ali onde não tenhais medo de ensinar-nos a rezar... nós os jovens os seguiremos. Fazemos nossas as palavras de Pedro: "Senhor, a quem iremos? Só Tu tens palavras de vida eterna". Nós temos fome do eterno, do verdadeiro.

Portanto, proponho:

1)    Aumentar a formação, não só espiritual, mas também cultural dos sacerdotes. Com demasiada frequência vemos sacerdotes que perderam o papel de mestres de cultura que lhes fazia importantes para toda a sociedade. Hoje, se queremos ser credíveis e úteis, devemos votar a ter boas ferramentas culturais.

2)    Redescobrir o Catecismo da Igreja Católica no seu carácter conciliar: em concreto a primeira parte de cada secção, onde os documentos do Concilio iluminam os temas tradicionais. De facto, o Catecismo põe com sabedoria como premissa a explicação do Credo uma parte inspirada na Dei Verbum, na qual se explica a visão personalista da revelação; aos sacramentos, a Sacrosantum Concilium, e aos mandamentos, a Lumen Gentium, que mostra ao homem criado à imagem de Deus. A primeira parte de cada secção do Catecismo é fundamental para que o homem de hoje sinta a fé como algo que o afecta de perto e seja capaz de dar respostas às suas perguntas mais profundas.

3) Por último, a liturgia se esquece e se dessacraliza com demasiada frequência: há que voltar a pô-la com dignidade no centro da comunidade paroquial.

Concluo com as palavras que deram inicio ao nascimento da Europa Medieval: "Nós os queremos, dada prova da vossa santidade, da linguagem correcta e da vossa instrução; de tal modo que qualquer que vá a vós se edifique com o vosso testemunho de vida e a vossa sabedoria (...) e regresse alegre dando graças ao Senhor omnipotente" (da carta Letteris Colendis de Carlo Magno ao mosteiro de Fulda, ano 780). Obrigado”.


in