sobejamente conhecida esta frase, cujo conteúdo subscrevo sem hesitar. O Natal, com efeito, convida-nos a mergulhar dentro do nosso ser e a trazer à tona o que de melhor há em nós, e é certamente muito aquilo que somos capazes de fazer, se abrirmos o coração e percebermos que a felicidade passa também pelo dar e dar-se.
Apesar deste ano a crise, pelas suas nefastas e transversais consequências, poder vir a fragilizar a capacidade de partilha de muitos portugueses, há, contudo, sinais desconcertantes que atestam ter aumentado a generosidade e sido superadas as melhores expectativas. Penso poder justamente concluir que esta é a verdadeira e profunda alma do povo português: humanista, solidário, sensível, capaz de se superar a si próprio, em especial nos momentos mais difíceis e exigentes.
Como é óbvio, urge reflectir seriamente sobre as causas que nos arrastaram para a crise, missão que deixo para os especialistas. Como cristão que procura estar atento ao que se passa no mundo, penso, porém, dever afirmar que não podemos continuar a ser governados por uma economia sem regras, que não esteja ao serviço do Homem, que o reduza a uma mera variante, qual peça duma despersonalizada, complexa e cega engrenagem.
No Evangelho, Cristo previne-nos para a tentação do endeusamento do dinheiro e de tudo o que ele representa. Sem regras e sem valores, corremos o risco de se impor a lei do “vale tudo” e o Homem quase desaparece, torna-se uma coisa, um número, um meio e nunca um fim. Faz, por isso, todo o sentido a afirmação do Papa Bento XVI, na encíclica Caritas in Veritate: o Homem deve estar no centro do desenvolvimento. Convicção já anteriormente defendida por Papa Paulo VI na emblemática frase: o desenvolvimento deve ter como objectivo “o homem todo e todo o homem”.
Façamos do Natal ocasião para reflectirmos sobre o essencial e o essencial é o Homem. Sem ele não há futuro; há ilusão e mais crises!
Um santo Natal.
Padre Manuel António Guerreiro do Rosário
in Diário do Alentejo, n.º 1598, 07 de Dezembro de 2012