proxima-se mais um Natal, já se sente o seu cheiro intenso no ar, embora este ano, devido à crise, ele não será, decerto, vivido da mesma forma em virtude dos múltiplos dramas que, entretanto, se abateram sobre tantas pessoas, famílias e comunidades. Apesar de não haver tanto dinheiro, nem tanta exuberância, e às vezes desperdício, em contraponto, parece que quanto maior é a crise mais generosa é a resposta dos portugueses. A atestá-lo o aumento das recolhas do Banco Alimentar e as milhentas iniciativas de solidariedade que fervilham no nosso país, de Norte a Sul, passando pelas Ilhas. Tudo isto são sinais reveladores de um Portugal profundo, autêntico, que, apesar da embriaguez e cegueira de um materialismo, transversal nas suas manifestações, teima em manter-se fiel à sua matriz humanista, solidária e cristã. Natal é sempre que o homem quer..., lá reza a canção.
A crise pode até ser ocasião propícia para despertarem em nós anti-corpos, que nos permitam reforçar as defesas perante as ilusões que nos querem vender os novos mercadores do "exilir da felicidade = ter", e levar-nos a fazer apostas mais decididas em projectos que coloquem o Homem no centro, qualquer que seja a sua língua, cor da pele, raça ou credo. Este é também o verdadeiro espírito do Natal.
Este tempo de per si exorta-nos a sair do nosso comodismo e a partilhar, e é sempre tempo de o fazermos e de sentirmos que a felicidade não está só no receber, mas também no dar, pois, quando damos, crescemos como pessoas e combatemos eficazmente alguns inimigos que nos tentam, endurecem e arrefecem o coração: insensibilidade, individualismo e egoísmo.
A superação da crise não passa apenas pelos projectos de carácter conjuntural e estrutural, programados, "de cima" por quem governa, mas também por pequenos gestos, multiplicados, que podem fazer a diferença e transformar por completo uma comunidade e as pessoas que nela habitam.
O Natal é, por isso, um tempo cheio de oportunidades para experimentarmos como o amor e a partilha para com os mais necessitados e frágeis podem mudar o coração e dar sentido a tantas vidas vazias e incrédulas perante o futuro, abrindo-nos a novos horizontes de esperança. Quem sabe se amanhã não seremos nós a necessitar de ajuda?
Como cristão não posso esquecer as palavras de Jesus: não podemos servir a dois senhores, entenda-se, Deus e o dinheiro. A servidão de muitos e a manipulação de muitos mais ao Ter, conduziu à ilusão de que pelos bens materiais se resolveriam todos os problemas da humanidade. Basta olhar à nossa volta e verificar como é falsa esta premissa. A Igreja, pelo contrário, continua a defender e a chamar, como no-lo confirmou, de forma clara e profética o Papa Bento XVI na Encíclica Caritas in Veritate: o Homem deve estar no centro do processo de desenvolvimento. Já antes o Papa Paulo VI o tinha defendido de forma clarividente: o desenvolvimento deve ter como objectivo "o homem e todo o homem".
Porque não tentar colocar o Homem no centro? Vale a pena tentar!
Um Santo Natal.